terça-feira, 17 de agosto de 2010

Elogio ao clichê

Eu adoraria ser um clichê
De feitio e semelhança
A essas roupas quase perfeitas
Feitas em escala industrial
E que vestem todo mundo,
- Embora nos deixem
Com as bundas ao deus-dará!

Ser o perfeitamente normal.
Ser o ser que acorda pela manhã,
Urina, defeca e vai para o trabalho.

Ser o perfeito pateta.
Ser o ser que acorda pela manhã,
Mija, caga e vai para o calvário.

Ser o perfeito boca-aberta,
Acordar pela manhã
E escancarar um medonho sorriso
Para o papagaio da Ana Maria Braga.

Eu amaria deitar-me num molde
E sair de lá com um rosto imbecilizado
Desses de propaganda de margarina.

Como gostaria de ser um alienado,
Olhar o Sol e contentar-me
Apenas com o seu brilho e calor,
Sem tentar explicar quem no céu,
No meu céu, o Sol colocou.

Seria-me sublime ignorar a existência
E somente existir ignorando a dúvida.

Clichê, artificial alma que pode ser comprada
Em afamadas butiques e grandes supermercados
Que têm em estoque todas a superficialidades!

Como gostaria de sê-lo, impagável clichê,
Para me desobrigar de querer desvendar
Esse mundinho para lá de obscuro e sem verdade.

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