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sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Como nascem os poetas
Nasci no Vale do Encanto,
Onde nascem todos os poetas.
Lá, ainda no choro primeiro,
Cada pobre e condenado rebento
Tem os lábios no hidromel adoçados
Por Melpômene, deusa e oráculo,
Enquanto suas irmãs e os sátiros
Dão de beber ao pelado ser nascente
O fel do saber e do conhecimento.
Depois, Érato suspende o miserável,
Apontando-o ao infinito firmamento:
"Apanha as estrelas, menino...
Assim! Estende tuas mãozinhas
Para que elas aprendam a acariciar
Como nos acaricia o roçar do vento!"
E no ato final do imolamento,
Calíope morde-nos a língua
Num primeiro beijo misturado
Ao amargor dos sofrimentos.
Desta maneira está pronto o bardo
Que nunca padecerá de esquecimento.
Lembrará que mesmo no pesar
É sagrado dever do poeta
Misturar a palavra doce e amiga
Ao sal das lágrimas do tirano Tempo.
Recordará que o verso só chega à boca
Movido por escondida e crônica dor
E que somente nesse padecimento
É que a sua poesia se faz
Bela,
Paz,
Vida
E de toda vida o encantamento.
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