Não gosto de elevadores,
Mas o mundo moderno
Não perdoa sujeitos antigos
Como esta singular pessoa,
(Totalmente fora do seu tempo!).
E lá estava eu, na caixa que anda,
Junto com uma velhinha em hora-extra,
E um mulherão que caiu num rio de perfume
(Criatura para muitos talheres
E baixelas de prata: sensual,
um corpão a expulsar carnes
Pelo vestido mínimo e generoso).
No décimo andar, a maravilha desce
E a velhinha vocifera em inveja,
Num lamento pela sorte diversa:
"Lambeta!".
Bom, pensei, um mulheraço assim
É para isso mesmo, engordar o olho,
Trazer à luz desejos esquecidos,
Ressuscitar tudo, até palavra mortas!
Copyright © 2005 by Fernando Nandé, poesia, literatura, Curitiba-PR Brazil.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
Lambeta
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Vivendas
"Ora, onde vivem os poetas?",
Pergunta-me
O espantado e brutal amigo.
Olho para ele
E tomado pelo riso,
Respondo-lhe
Sinceramente:
"Na alma das coisas;
Na tua alma bruta,
Inclusive e absurdamente!".
Pergunta-me
O espantado e brutal amigo.
Olho para ele
E tomado pelo riso,
Respondo-lhe
Sinceramente:
"Na alma das coisas;
Na tua alma bruta,
Inclusive e absurdamente!".
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sábado, 27 de novembro de 2010
Olhar
Amanhecer e renascer todos os dias.
Olhar este mundo com olhos de criança,
Com a curiosidade de criança
E, principalmente,
Com a alegria de uma criança.
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domingo, 21 de novembro de 2010
Meus velhos livros
Meus velhos livros
Meus bons amigos
Jazem
m
o
r
t
o
s
Na estante
Já disseram-me tanto
Enquanto eu descobria
Com intensa alegria
A tristeza do mundo
Hoje dormem quietos
Uns furados pelas traças
Outros faltando a capa
Encardidos e puídos
Enterrados
em
pé
No pó das prateleiras e
Na solidão dos eruditos.
Meus bons amigos
Jazem
m
o
r
t
o
s
Na estante
Já disseram-me tanto
Enquanto eu descobria
Com intensa alegria
A tristeza do mundo
Hoje dormem quietos
Uns furados pelas traças
Outros faltando a capa
Encardidos e puídos
Enterrados
em
pé
No pó das prateleiras e
Na solidão dos eruditos.
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sábado, 20 de novembro de 2010
Moda do nego Tião
Preste atenção, rapaz,
na história que vou contar,
Aconteceu já faz tempo
E eu não esqueço mais.
Numa fazenda de gado,
Lá em Minas Gerais,
Vivia uma moça bonita,
Filha do fazendeiro,
Um homem severo demais.
A moça um dia se engraçou
Com Tião, o capataz,
Que era um homem de cor,
Bom de laço e trabalhador.
O fazendeiro descobriu
E cismado ele ficou.
Jurou de morte o nego Tião,
Com preto a filha não casava não.
Ficou assim muitas noites,
Pensando em como matar o peão.
Até que teve a ideia
De formar uma comitiva
Pra levar gado a Goiás.
E no terceiro dia da viagem,
Quando um boi se desgarrou,
O Tião ele fez ir atrás
Pra buscar a laço
O boi que escapou.
Tião foi na disparada
Nem um minuto ele pensou,
Quando ele entrou no mato
Um tiro se escutou.
Era o jagunço na tocaia
Que nego Tião matou.
Hoje eu conto essa história
Pra mostrar que o preconceito
De raça ou de cor,
Nos faz fazer besteira
Porque do neguinho Tião,
O fazendeiro é avô.
E agora na cadeia
O velho passa solidão,
Ele não pode ver a filha
E o seu netinho Tião.
Pra terminar a conversa
Fica aqui uma lição,
O que interessa num homem
Não é a sua cor,
Basta que ele seja honesto,
Gente de bem e trabalhador.
.
na história que vou contar,
Aconteceu já faz tempo
E eu não esqueço mais.
Numa fazenda de gado,
Lá em Minas Gerais,
Vivia uma moça bonita,
Filha do fazendeiro,
Um homem severo demais.
A moça um dia se engraçou
Com Tião, o capataz,
Que era um homem de cor,
Bom de laço e trabalhador.
O fazendeiro descobriu
E cismado ele ficou.
Jurou de morte o nego Tião,
Com preto a filha não casava não.
Ficou assim muitas noites,
Pensando em como matar o peão.
Até que teve a ideia
De formar uma comitiva
Pra levar gado a Goiás.
E no terceiro dia da viagem,
Quando um boi se desgarrou,
O Tião ele fez ir atrás
Pra buscar a laço
O boi que escapou.
Tião foi na disparada
Nem um minuto ele pensou,
Quando ele entrou no mato
Um tiro se escutou.
Era o jagunço na tocaia
Que nego Tião matou.
Hoje eu conto essa história
Pra mostrar que o preconceito
De raça ou de cor,
Nos faz fazer besteira
Porque do neguinho Tião,
O fazendeiro é avô.
E agora na cadeia
O velho passa solidão,
Ele não pode ver a filha
E o seu netinho Tião.
Pra terminar a conversa
Fica aqui uma lição,
O que interessa num homem
Não é a sua cor,
Basta que ele seja honesto,
Gente de bem e trabalhador.
.
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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Moda da moça roubada
Cochilou, o cachimbo cai...
Morena me dá um beijo,
Não tenho medo do teu pai.
Faz tempo que não te vejo,
Faz tempo que não te abraço,
Teu beijo é que me queima, ai, ai...
Tô morrendo de saudade
- Eita, que coisa encardida! -
E a saudade de mim não sai.
Sem teu carinho sou infeliz,
Na vida não tenho gosto...
Homem que não namora, ai, ai...
Quem tem filha bonita não dorme.
Vamos fugir pra casar agora...
Cochilou, é sogro além de pai!
Meu cavalo tá c'os arreios,
É só nele deitar a espora,
Cochilou, o cachimbo cai!
Morena me dá um beijo,
Não tenho medo do teu pai.
Faz tempo que não te vejo,
Faz tempo que não te abraço,
Teu beijo é que me queima, ai, ai...
Tô morrendo de saudade
- Eita, que coisa encardida! -
E a saudade de mim não sai.
Sem teu carinho sou infeliz,
Na vida não tenho gosto...
Homem que não namora, ai, ai...
Quem tem filha bonita não dorme.
Vamos fugir pra casar agora...
Cochilou, é sogro além de pai!
Meu cavalo tá c'os arreios,
É só nele deitar a espora,
Cochilou, o cachimbo cai!
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Moda da moça roubada
Cantoria do caminhante
Vá homem de Deus,
Vá pela vida afora...
A morte faz tocaia,
Só não se sabe a hora.
Vá homem de Deus,
A fé é sua Senhora.
Vá, mas não vá sozinho,
É bom ter companhia,
Alguém que nos dê a mão
Na difícil travessia.
Alguém que nos dê amor
Paz, carinho e alegria.
Ande e preste atenção
No ruim que aparece,
O mal mata o coração
E ao homem entristece.
Siga o rumo dos justos
E ao cantar essa prece,
Peça um bom caminho,
Que um homem de bem
Aqui não deixa mágoas
Das mágoas que se tem.
Andar nos põe adiante
E os tropeços também.
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quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Pequena Gramática para os pequenos I
Oi, sou a simples sílaba,
sempre estou sozinha,
mas se você me juntar
a outras amigas minhas,
formo palavra novinha
que antes você não tinha!
O solitário A quase nada é,
o MOR sozinho é um terror
E juntos formam a palavra
Mais bela de nossa língua:
AMOR!
Tem palavra curtinha e bonita
com o nome de monossílaba.
"Mono" quer dizer uma só,
como em AI, PÉ, TI e PÓ.
Tem também as dissílabas,
que são as de duas sílabas:
junte agora CAN com TE
e CANTE por toda a vida!
Outras há com três sílabas,
são chamadas de trissílabas:
junte A e PREN com DER
e APRENDER virá à vida!
E as palavras que restaram,
as com mais de três amigas,
com quatro ou mais sílabas,
São as grandes polissílabas!
sempre estou sozinha,
mas se você me juntar
a outras amigas minhas,
formo palavra novinha
que antes você não tinha!
O solitário A quase nada é,
o MOR sozinho é um terror
E juntos formam a palavra
Mais bela de nossa língua:
AMOR!
Tem palavra curtinha e bonita
com o nome de monossílaba.
"Mono" quer dizer uma só,
como em AI, PÉ, TI e PÓ.
Tem também as dissílabas,
que são as de duas sílabas:
junte agora CAN com TE
e CANTE por toda a vida!
Outras há com três sílabas,
são chamadas de trissílabas:
junte A e PREN com DER
e APRENDER virá à vida!
E as palavras que restaram,
as com mais de três amigas,
com quatro ou mais sílabas,
São as grandes polissílabas!
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terça-feira, 16 de novembro de 2010
Aniversário
Alimentem o relógio, esse doidinho,
Que de graça mastiga o tempo,
Que junta tantas vidas à vida minha!
É, a vida passa apressadinha
E eu que não tenho pressa
A sigo, passinho por passinho.
Que de graça mastiga o tempo,
Que junta tantas vidas à vida minha!
II
É, a vida passa apressadinha
E eu que não tenho pressa
A sigo, passinho por passinho.
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Receita para deixar de ser gente
Para deixar de ser gente
Não se carece de ciência ou esforço,
Basta que o sujeito se anoiteça,
Apague a luz e se esqueça.
É bastante que ele não perceba
O alvorecer, o entardecer, o anoitecer,
O Sol e a Lua repetindo caminho;
Que não olhe para nada, nem para si.
Depois, é necessário que ele faça
Uma pesada faxina n'alma:
Não tenha lembranças,
Não tenha amores,
Nada tenha em si guardado.
Que ele tenha a alegria toda
Em desprezo e jogada de lado
Junto com as afeições e afetos;
Não tenha temor e também desejo,
Ira, ódio, paixão e jamais prazer.
Isso feito, que ele siga
Sozinho ao cemitério,
Que se deite numa cova rasa
- Sempre há uma de boca aberta -
E aguarde a doce compaixão
Do humilde coveiro
E a solidariedade dos vermes.
Não se carece de ciência ou esforço,
Basta que o sujeito se anoiteça,
Apague a luz e se esqueça.
É bastante que ele não perceba
O alvorecer, o entardecer, o anoitecer,
O Sol e a Lua repetindo caminho;
Que não olhe para nada, nem para si.
Depois, é necessário que ele faça
Uma pesada faxina n'alma:
Não tenha lembranças,
Não tenha amores,
Nada tenha em si guardado.
Que ele tenha a alegria toda
Em desprezo e jogada de lado
Junto com as afeições e afetos;
Não tenha temor e também desejo,
Ira, ódio, paixão e jamais prazer.
Isso feito, que ele siga
Sozinho ao cemitério,
Que se deite numa cova rasa
- Sempre há uma de boca aberta -
E aguarde a doce compaixão
Do humilde coveiro
E a solidariedade dos vermes.
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Receita para deixar de ser gente
Espantados
Ando camuflado pela cidade,
Porque desejo ver sem ser visto.
Em meus mimetismos diurnos
Confundo-me com os muros,
Com o cinza dos prédios
E o negro dos asfaltos.
As pessoas passam por mim,
Pisam-me,
Chegam até mesmo a atravessar-me,
Carregadas que vão pelo espanto.
Indiferente, a nada disso ligo,
Não é o meu espectro proposital
Que apavora aos que passam,
Sei que eles se espantam
Com o próprio susto de viver
Que os acompanha.
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Versos ao fogo
Faço versos como alguém
Que ateia fogo
Ao próprio corpo
E sai tranquilo,
A indesejar os bombeiros,
Com grandes esperanças
De que as chamas só deixem
Da decadente carcaça
Ardente braseiro.
Faço versos como se fosse
Morrer já no minuto seguinte.
Mas, não corro pelas ruas
A anunciá-los
Como se grita os incêndios.
Eles não têm pressa
Porque sabem - e como sabem!-
Que depois de escritos,
Mesmo afixiados em fechados livros,
Estarão a arder pela eternidade.
Que ateia fogo
Ao próprio corpo
E sai tranquilo,
A indesejar os bombeiros,
Com grandes esperanças
De que as chamas só deixem
Da decadente carcaça
Ardente braseiro.
Faço versos como se fosse
Morrer já no minuto seguinte.
Mas, não corro pelas ruas
A anunciá-los
Como se grita os incêndios.
Eles não têm pressa
Porque sabem - e como sabem!-
Que depois de escritos,
Mesmo afixiados em fechados livros,
Estarão a arder pela eternidade.
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verosos ao fogo
Os lusos oceanos
Outros povos como fêmea
Tratam o mar abissal.
Os latinos queriam-no
Neutro, indecifrável
E profundo,
Quase na feminina
Abundância dos medos.
Precisou o lusitano povo
Tratá-lo como homem
- Na porrada, no desespero -
Mare caelo confundere,
Para ver o que vai além
E domar o vasto oceano.
N.A.: Mare caelo confundere, expressão latina, "remover céus e mares".
Tratam o mar abissal.
Os latinos queriam-no
Neutro, indecifrável
E profundo,
Quase na feminina
Abundância dos medos.
Precisou o lusitano povo
Tratá-lo como homem
- Na porrada, no desespero -
Mare caelo confundere,
Para ver o que vai além
E domar o vasto oceano.
N.A.: Mare caelo confundere, expressão latina, "remover céus e mares".
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O jardineiro do Éden
Sem prévio estudo e com muita ira,
Vós me acusais de contraditório.
Sim, sou! Sou isso e muito mais,
Humano, talvez, se assim desejais.
Amigos, somos pura contradição!
Desde o primo ovo aleatório,
O dualismo está a nos condenar
Como a dúvida que nos anatematiza.
É próprio dos que vivem com a morte
Latente, omnipresente, dentro de si,
Para o bem do própria saúde e juízo,
Este opor-se à evidência condenatória.
Vivemos enquanto morremos é a verdade.
As sobras disso são alucinadas esperanças
Para nos trazer tranquilidade n'alma,
Para justificar esse escândalo a devorar-nos.
Sim, sou humano e necessariamente dual.
Amo já pensando na inevitável despedida.
Creio descrendo porque é o que me resta
Neste Éden abandonado pelo jardineiro.
Vós me acusais de contraditório.
Sim, sou! Sou isso e muito mais,
Humano, talvez, se assim desejais.
Amigos, somos pura contradição!
Desde o primo ovo aleatório,
O dualismo está a nos condenar
Como a dúvida que nos anatematiza.
É próprio dos que vivem com a morte
Latente, omnipresente, dentro de si,
Para o bem do própria saúde e juízo,
Este opor-se à evidência condenatória.
Vivemos enquanto morremos é a verdade.
As sobras disso são alucinadas esperanças
Para nos trazer tranquilidade n'alma,
Para justificar esse escândalo a devorar-nos.
Sim, sou humano e necessariamente dual.
Amo já pensando na inevitável despedida.
Creio descrendo porque é o que me resta
Neste Éden abandonado pelo jardineiro.
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quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Te cuida!
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quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Só o homem consegue sorrir
Em África, um menino à fome sorriu-me,
Deu-me de graça a única graça que tinha.
Nele nada poderia ser oferecido além dos ossos
Somados ao miserável sorriso que lhe fazia humano.
(Nunca tive tanta vergonha de pensar-me humano).
- Deus meu, vi ali uma caveira sorridente,
Feliz porque adivinhava próximo o próprio fim.
Ali, a morte significava esperança
E sorrir parecia ser a última prece.
Deu-me de graça a única graça que tinha.
Nele nada poderia ser oferecido além dos ossos
Somados ao miserável sorriso que lhe fazia humano.
(Nunca tive tanta vergonha de pensar-me humano).
- Deus meu, vi ali uma caveira sorridente,
Feliz porque adivinhava próximo o próprio fim.
Ali, a morte significava esperança
E sorrir parecia ser a última prece.
Canção para ouvir depois da chuva
Veio-me como chuva de Verão,
Em força e intensidade,
Corisco a correr arisco no céu,
A tudo devastando, pondo ao chão.
Molhou-me os olhos,
Turvou-me a alma.
Trouxe consigo o vento
Que acompanha toda tempestade,
E, depois, foi-se silenciosa,
Deixando atrás de si
O fim clamando pelo recomeço,
Os pássaros saudando a calmaria
Numa melodia de alívio.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010
Felina
Teu olhar de felina
Faz-me acreditar
Que pertenço
A tua cadeia alimentar.
Faz-me acreditar
Que pertenço
A tua cadeia alimentar.
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segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Vida descartável
Houve um tempo em que nada era descartável,
Uma ferramenta, uma panela de barro,um garfo...
Tudo que se ia juntando era para ser guardado,
Até mesmo coisa aparentemente sem utilidade.
Houve um tempo em que guardávamos nossa história,
- Pessoas amadas, fotos de viagem e velhos diários -
Sem que nossos corações ficassem duros e cansados
Com tudo aquilo que hoje julgamos inutilidade.
Tempo em que um amor de infância, mesmo o não correspondido,
Teria um bom lugar cativo nas lembranças caducas e senis.
Um tempo em que uma carta querida ficava guardada nos livros,
Acompanhada de seca e vitalícia pétala de rosa,
Vivo marcador na última página lida e com lágrimas borrada.
Houve um tempo de cartas de amor, de muita saudade,
Em que a amada não podia ser deletada com um toque no mouse
E, depois, enterrada defunta em túmulos virtuais.
Houve um tempo em que o amor era verdade simples na simples realidade.
Uma ferramenta, uma panela de barro,um garfo...
Tudo que se ia juntando era para ser guardado,
Até mesmo coisa aparentemente sem utilidade.
Houve um tempo em que guardávamos nossa história,
- Pessoas amadas, fotos de viagem e velhos diários -
Sem que nossos corações ficassem duros e cansados
Com tudo aquilo que hoje julgamos inutilidade.
Tempo em que um amor de infância, mesmo o não correspondido,
Teria um bom lugar cativo nas lembranças caducas e senis.
Um tempo em que uma carta querida ficava guardada nos livros,
Acompanhada de seca e vitalícia pétala de rosa,
Vivo marcador na última página lida e com lágrimas borrada.
Houve um tempo de cartas de amor, de muita saudade,
Em que a amada não podia ser deletada com um toque no mouse
E, depois, enterrada defunta em túmulos virtuais.
Houve um tempo em que o amor era verdade simples na simples realidade.
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sábado, 6 de novembro de 2010
Haikais V
no hospício,
o Sol a pino torra
os miolos moles.
*
a chuva deita-se
sob cobertor estrelado
e no rio dorme.
**
a suave brisa
lambe a pele morena
molhada e quente.
***
amei-te ontem,
hoje nem saudades
tuas me sobram.
****
as rosas coram
e ficam vermelhinhas,
porque vivem nuas.
*****
o Sol a pino torra
os miolos moles.
*
a chuva deita-se
sob cobertor estrelado
e no rio dorme.
**
a suave brisa
lambe a pele morena
molhada e quente.
***
amei-te ontem,
hoje nem saudades
tuas me sobram.
****
as rosas coram
e ficam vermelhinhas,
porque vivem nuas.
*****
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quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Musiquinhas
E essas musiquinhas que não saem da cabeça da gente... Reuniões, discussões de trabalho no dia trocado por dinheiro... E a musiquinha lá, indiferente, batendo caixinha de fósforos, pandeiro, reco-reco... E um contínuo solo de trombone... "Dotô, jogava o Flamengo, eu queria escutar"... E eu, que nem torço pelo Flamengo!
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terça-feira, 2 de novembro de 2010
Amor arcaico
Sei que assim inda hei vivido
Poisque assim inda hei amado
Mui e mui a ti, menos a mim,
Poisque sou por ti desprezado.
Há me devorado agudo pejo
Nas horas que hei de olvidar
Tuas mortais carícias e beijos,
Pera, só, de mim lembrar-me.
Sigo-te - amaldiçoado cortejo! -
Em tristeza, na lágrima a nadar
Abandonada só, solta no Tejo...
Bem sei que outro tens em teus ais...
Mas, amar-te outra vez eu desejo,
Pera morrer de amor uma vez mais.
No Português do século XXI
Amor antigo
Sei que assim ainda tenho vivido
Porque assim ainda tenho amado
Muito e muito a ti, menos a mim,
Porque sou por ti desprezado.
Há me devorado grande vergonha
Nas horas que tenho que esquecer
Tuas mortais carícias e beijos,
Para, sozinho, lembrar-me de mim.
Sigo-te - amaldiçoado cortejo! -
Em tristeza, na lágrima a nadar
Abandonada só, solta no Tejo...
Bem sei que outro tens em tua aflição...
Mas, amar-te outra vez eu desejo,
Para morrer de amor uma vez mais.
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Meninos empinam pipas
Os meninos correm pela minha rua...
Estão empinando coloridas pipas,
Rotos, esfaimados, porém felizes.
Enquanto seus estômagos roncam
As cores correm, sobem, trêmulas
E alegram o céu do Dia de Finados.
Doce é a infância que nos permite,
Com esses inocentes brinquedos,
Desdenhar os horrores do mundo,
Voar esquecidos de nossas misérias.
Estão empinando coloridas pipas,
Rotos, esfaimados, porém felizes.
Enquanto seus estômagos roncam
As cores correm, sobem, trêmulas
E alegram o céu do Dia de Finados.
Doce é a infância que nos permite,
Com esses inocentes brinquedos,
Desdenhar os horrores do mundo,
Voar esquecidos de nossas misérias.
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