terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lambeta

Não gosto de elevadores,
Mas o mundo moderno
Não perdoa sujeitos antigos
Como esta singular pessoa,
(Totalmente fora do seu tempo!).
E lá estava eu, na caixa que anda,
Junto com uma velhinha em hora-extra,
E um mulherão que caiu num rio de perfume
(Criatura para muitos talheres
E baixelas de prata: sensual,
um corpão a expulsar carnes
Pelo vestido mínimo e generoso).
No décimo andar, a maravilha desce
E a velhinha vocifera em inveja,
Num lamento pela sorte diversa:
"Lambeta!".
Bom, pensei, um mulheraço assim
É para isso mesmo, engordar o olho,
Trazer à luz desejos esquecidos,
Ressuscitar tudo, até palavra mortas!

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