Canta o poeta triste canto,
Canta alegre o bem-te-vi!
..........................
..........................
Meto a espora no destino,
No vento a me carregar.
A Fortuna nunca tive,
Meu caminho foi o penar.
E o desgosto companheiro
Nunca quis me deslargar.
Nessa passada miúda,
Assunto às coisas comigo,
Finjo a beleza que não vejo,
Para não perder o juízo.
Sou poeta estradeiro,
Trovo a dor neste castigo.
Monto esta Sorte brava,
Sina a me escoicear,
E meu temor é cair
Sem do gosto provar
Dessa tal felicidade
Que tanto ouvi falar.
Não tive o amor de mãe,
Nem abraços de meu pai,
Criei-me só neste mundo
E só a vida me vai.
Canto amor que nunca tive
O amor que da pena sai.
Na enxada e no martelo
Tive os meus brinquedos.
No orfanato da miséria,
Fiquei adulto mais cedo.
Na rudeza do abandono,
Da morte perdi o medo.
Se tantas lágrimas tenho
Na tristeza a me matar,
Alegria contei com uma
Quando comecei a cantar,
Ainda pequeno, menino,
Nos versos a rabiscar.
Na carteira da escola,
Muito no livro aprendi:
Fazer contas com destreza
A descrever o que sofri.
As letras que me cegaram
Cantam-me como o bem-te-vi.
Pensei amar muitas gentes
E de algumas me enamorei.
Sinto ter amado o incerto,
Porque o incerto me tornei.
É que amar exige verdade,
Verdade que nunca achei.
Sim, botei filho no mundo
E tive dois pra criar.
Estudaram, criaram asas,
Vão pela vida a pelejar,
Enquanto pelejo eu
Na saudade a me matar.
Assim termino este pranto
Do pouco que ganhei e perdi,
A vida me foi desencanto
Mas, não importa, eu vivi.
Canta o poeta triste canto,
Canta alegre o bem-te-vi!
Copyright © 2005 by Fernando Nandé, poesia, literatura, Curitiba-PR Brazil.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
sexta-feira, 28 de julho de 2017
Arribação
Sou igual ave de arribação
Se o lugar não me dá gosto
Bato as asas, fico não!
Comunhão
Cônjuge: amor com registro em cartório.
Amante: amor terceirizado.
Minha aldeia
Amo minha aldeia
Porque ela é meu mundo
E a vida dos que me cercam
É ela que na manhã
Oferece-me poemas de esperança
É ela que no ocaso me avisa
Dos perigos que hão de vir
Amo minha aldeia
Porque nela está o feitio da paisagem
Que trago em meus cansados olhos
Amo minha aldeia
Porque tu és nela, bela
Amo Curitiba e por isso denuncio
Aqueles que a maltratam
E dela tiram tudo que podem, o sangue
Em amor fingido e interesseiro
Amor que especula
E que se chama dinheiro.
Porque ela é meu mundo
E a vida dos que me cercam
É ela que na manhã
Oferece-me poemas de esperança
É ela que no ocaso me avisa
Dos perigos que hão de vir
Amo minha aldeia
Porque nela está o feitio da paisagem
Que trago em meus cansados olhos
Amo minha aldeia
Porque tu és nela, bela
Amo Curitiba e por isso denuncio
Aqueles que a maltratam
E dela tiram tudo que podem, o sangue
Em amor fingido e interesseiro
Amor que especula
E que se chama dinheiro.
A quem merece
Tolerar por caridade
Gostar sem falsidade
Amar a quem merece.
Simplicidade bela
Houve um tempo
Em que a simplicidade
Era bela e se perfumava
Com Cashmere Bouquet.
Teus passos
Na manhã, oiço teus passos,
Pas-de-deux no meu coração,
Suaves, sonatas de Chopin.
Fratura exposta
Tropecei num verso
E caí aos teus pés:
Fratura exposta no peito.
Chafariz da praça
Chove. Curitiba refresca-se
Como criança abandonada
Em festa, no chafariz da praça.
Curitiba aniversariante
"Bom-dia, aniversariante!"
E Curitiba responde:
"Bom-dia, por quê?"
Ilha Paraná
O Paraná foi feito de travessias d'águas
Europeus pelo Atlântico
Orientais pelo Pacífico
Gaúchos e catarinenses pelo Iguaçu
Paulistas, mineiros, nordestinos
Pelo Paranapanema
Largos rios, largos oceanos...
Europeus pelo Atlântico
Orientais pelo Pacífico
Gaúchos e catarinenses pelo Iguaçu
Paulistas, mineiros, nordestinos
Pelo Paranapanema
Largos rios, largos oceanos...
Largas foram as lágrimas das saudades
Derramadas por nossos antepassados
Neste sertão de pródiga e fecunda terra
Em que na labuta tanta, tanta vida vingou.
Derramadas por nossos antepassados
Neste sertão de pródiga e fecunda terra
Em que na labuta tanta, tanta vida vingou.
Lua acesa
Quem acendeu esta Lua no céu?
Quem me deu essa saudade viva
Em noite tão iluminada?
A Lua de peignoir
Nua, na brancura da pele exangue
A Lua pensa enganar o poeta
Vestida de peignoir rose.
Beijo quente
O beijo
É o termômetro do bem-querer
No amor
O segredo: mantê-lo quente.
Compensa
A única coisa que compensa roubar: beijo!
A cruz do apenado
De vez em quando, a vida, com força de um centurião romano
Nos obriga a carregar a cruz dos outros por compaixão
Carregue, será sofrido, mas não espere gratidão por isso
Os egoístas acharão que toda ajuda é apenas sua obrigação.
Nos obriga a carregar a cruz dos outros por compaixão
Carregue, será sofrido, mas não espere gratidão por isso
Os egoístas acharão que toda ajuda é apenas sua obrigação.
Sonhaste, sonhei
Sonhaste, sonhei
Acordados e de olhos fechados
Beijaste-me, beijei-te.
Chatos ignorados
Ignorar a quem nos chateia revela, antes de tudo, um grande respeito por nós mesmos.
Bonfim
Ela tinha por sobrenome Bonfim
E eu só desejava um bom começo
Não deu certo, enfim.
Imundo
Se o poeta usa "mundo imundo", ele não procura só uma rima, mas a realidade.
Livre, disseste
Disseste a ti que eras livre
E segues delirantes líderes
Que tiram de ti a liberdade.
Perfume de café
Café perfumando esta manhã
Escandalosamente de Sol
Deus tem dias em que capricha.
Bem-me-quer, bem-te-vi
Olhar de bem-me-quer
Sorriso de bem-te-vi
Como viver, Cariño
Sem o bem que vem de ti?
Roubar-te-ei
Roubar-te-ei um beijo
E no teu coração
Hei de viver preso.
Entre os teoremas
Entre os teoremas
Sempre cabe um poema
Tola alma de poeta
Até em números vê beleza!
Vida gasta
Os iludidos dizem:
"Tempo é dinheiro"
Não, meus amigos
Tempo é vida gasta.
O preço da gratidão
A gratidão é algo que se paga
Não com cheque ou cartão
Um abraço é seu único preço.
Fofura
Hás de emagrecer
Mas, sem perder a fofura jamais!
Chuva no jardim
Chove no jardim
E a esperta joaninha
Faz da folhagem
Seu guarda-chuva.
Complexa
Gosto da Matemática
Ela é racional e fácil
A vida, o que resta,
É deveras complexa.
Ela é racional e fácil
A vida, o que resta,
É deveras complexa.
Cacto
Aos que eu gosto
Um grande abraço
Aos que não gosto
Abracem um cacto!
Ponta de faca
Não há notícias de alguém que tenha arrebentado a murros uma única ponta de faca.
Grandes patifes
O culto à personalidade consiste em dar virtudes a grandes patifes.
Magister
Maldito é aquele que entende o magistério como instrumento de doutrinação e de única verdade.
Sobre a Serra
Sobre a Serra
Céu pintado a pincel
Por um anjo
Que acordou cedo.
Céu pintado a pincel
Por um anjo
Que acordou cedo.
Aqueles versos
Aqueles versos que te dei
Eram para outra
A que tu foste e esqueceste.
Eram para outra
A que tu foste e esqueceste.
O teto
No Inverno, agradeço aos céus
O teto
Que na infância dos invernos
A mim faltou.
Rara virtude
Caso esperares gratidão de tudo em que pensas fazer de bem a outrem, nada farás. A gratidão é a mais rara virtude da alma humana.
Pequena e vulgar
Maldita mania de esperar grandeza e virtude de gente vulgar e pequena!
Contínuo
Mesmo longe, tu és perto
Mesmo no ontem, tu és hoje
És-me tudo em contínuo, sempre.
As estradas
Alegra-te com as pedras do caminho, é com elas que se fazem as estradas.
Cantos
Cigarra quando canta, morre
Poeta quando canta, vive.
Poeta quando canta, vive.
Sonhos vendidos
Muitos de minha geração
Venderam seus sonhos
Os meus, amigo meu
São meus até o fim!
Venderam seus sonhos
Os meus, amigo meu
São meus até o fim!
Leis naturais
Nunca vi amargura
em quem entende, com sabedoria, as leis naturais da existência.
Bunda-lume
O sapo informa:
Vaga-lume se dana
Porque acende a bunda.
Para sempre
Como é denso, forte e triste
O para sempre
Que mora dentro do adeus.
O para sempre
Que mora dentro do adeus.
Chuva no rio
Um rio pode seguir seu curso por séculos, mas uma simples tempestade altera o que pensávamos eternidade. A vida é inconstância.
Genética
Estudar genética
Para saber que somos todos primos
E que alguns são humanos.
Autêntico
Autenticidade: não ter a mínima vontade de agradar, porque a verdade não agrada a quem vive na mentira.
Bandido amor
Bandido amor que, em assalto
Levou-me tudo que fui e sou
Nos passos de um tango de Gardel
Meu sangue, meu céu, minha energia
E pior, até a minha carteira vazia.
Levou-me tudo que fui e sou
Nos passos de um tango de Gardel
Meu sangue, meu céu, minha energia
E pior, até a minha carteira vazia.
Paixão sem tesão
A flor apartada da água definha
Paixão sem tesão
É como viver junto sem companhia.
Paixão sem tesão
É como viver junto sem companhia.
Pele prata
Nua, a pele tua
Apelo prata
Em noite de Lua.
Vela enfunada
O vento frio enfuna o lençol
Vela de proa no quintal
Espera o Sol para te aquecer.
Vela de proa no quintal
Espera o Sol para te aquecer.
Há de florir
A teimosa joaninha diz-me:
"Breve é o Inverno
O jardim há de florir".
"Breve é o Inverno
O jardim há de florir".
Punhal
A vida me ensinou a resistir
A olhares iguais aos teus
De paixão armada de punhal.
Vai-se
Cariño, o domingo vai-se
Sem ti, Cariño
E sem teus carinhos, vai-se.
Sem ti, Cariño
E sem teus carinhos, vai-se.
Onde?
Onde está a verdade?
Geralmente, diante de nossos olhos
Basta abri-los.
Geralmente, diante de nossos olhos
Basta abri-los.
Maltratos
Surrado, com várias escoriações
Meu coração foi registrar queixa
Na Delegacia de Crimes Hediondos
Passional vítima de paixão violenta
Incapaz, ao sofrer com teus caprichos
À Justiça pediu e exige providências.
Meu coração foi registrar queixa
Na Delegacia de Crimes Hediondos
Passional vítima de paixão violenta
Incapaz, ao sofrer com teus caprichos
À Justiça pediu e exige providências.
No ar, teu perfume
Sonhei contigo, Cariño
E juro estar sentido no ar
Desperto, ainda o teu perfume.
E juro estar sentido no ar
Desperto, ainda o teu perfume.
Papel ruim
Fiz um poema elogiando femininos encantos
Poema de homem para mulher
Mas, disseram-me para não entregá-lo à infeliz
Feminista das ortodoxias dos pelos debaixo do braço
Dessas que não gostam de ser amada
Nem mesmo em versos
Ah, pobre tempo esse que vivemos
Do estúpido modismo das cartilhas
De se carregar tudo quanto é bandeira
Menos a flâmula do natural amor.
Pensando bem, o conselho é ótimo
Não gosto de gastar boa tinta
Em papel ruim.
Poema de homem para mulher
Mas, disseram-me para não entregá-lo à infeliz
Feminista das ortodoxias dos pelos debaixo do braço
Dessas que não gostam de ser amada
Nem mesmo em versos
Ah, pobre tempo esse que vivemos
Do estúpido modismo das cartilhas
De se carregar tudo quanto é bandeira
Menos a flâmula do natural amor.
Pensando bem, o conselho é ótimo
Não gosto de gastar boa tinta
Em papel ruim.
Sempre hoje
Bela, tu és esta manhã que nasce
Do dia mais importante de todos
Hoje, sempre hoje.
Do dia mais importante de todos
Hoje, sempre hoje.
Perdoar
Perdoar é dar uma nova chance para nós mesmos.
Branco campo
Nesta fria manhã desperto
Com o beijo de uma réstia de Sol
E pela janela vejo o branco campo
Congelado ao pé da Serra
O vento sussurra-me sonatas de Bach
Como se me sussurrasse ao pé do ouvido
Que o importante em cada dia
É o que está nos dias desde todo o sempre
E que desprezamos tolamente.
Com o beijo de uma réstia de Sol
E pela janela vejo o branco campo
Congelado ao pé da Serra
O vento sussurra-me sonatas de Bach
Como se me sussurrasse ao pé do ouvido
Que o importante em cada dia
É o que está nos dias desde todo o sempre
E que desprezamos tolamente.
Curitiba fria
Em Curitiba de tudo se morre
Assalto, acidente, bala perdida
Mas, a mais triste morte vem do frio
Dos corações indiferentes.
Acolher
Acolher significa devolver a quem se acolhe a esperança.
Caridade
Caridade que se faz e que se revela é vaidade apenas.
Beirada
Não se desespere, se você está na beirada é porque você ainda não está dentro do abismo.
Seu bem
A fria noite vem
Feliz daquele
Que tem o calor
E o bem de seu bem.
Medalha
Desconfie de poeta que ganha medalha por bom comportamento.
Escolhas
Tu serás eternamente responsável pelas tuas escolhas
Inclusive pelas erradas; principalmente pelas erradas.
sábado, 4 de março de 2017
Cheiro de maçã
Vermelha no rosto,
Cheirava à maçã,
De resto, nua, era o doce
Alvidoce da alma da maçã.
Cheirava à maçã,
De resto, nua, era o doce
Alvidoce da alma da maçã.
Acidente
Mais um acidente
Investiguem os mesmos
Suspeitos de sempre
A começar pela Fortuna
Essa deusa que tudo nos dá
E tudo nos tira
O triunfo e a derrota
O infortúnio e a bonança
A juventude e a velhice
A vida... A vida... A vida...
Investiguem os mesmos
Suspeitos de sempre
A começar pela Fortuna
Essa deusa que tudo nos dá
E tudo nos tira
O triunfo e a derrota
O infortúnio e a bonança
A juventude e a velhice
A vida... A vida... A vida...
Vaidades em Curitiba
Bela Curitiba
A vaidade vive em ti
Em cada esquina
Um Salão Marly.
A vaidade vive em ti
Em cada esquina
Um Salão Marly.
Penduricalhos de Curitiba
Curitiba é mui bela
Porque belos são seus filhos
E mui belas são suas mulheres
O resto é penduricalho
De prancheta de arquiteto.
Porque belos são seus filhos
E mui belas são suas mulheres
O resto é penduricalho
De prancheta de arquiteto.
Raro dia
Raro, feito para ti
Este dia que se clareia no horizonte
Num abraço de chegar.
Este dia que se clareia no horizonte
Num abraço de chegar.
Lua em Aquário
A Lua está em Aquário
E há peixes soltos
Na sala da astróloga.
E há peixes soltos
Na sala da astróloga.
Órbita
Contrariando as leis universais
Minha etérea saudade
Descreve longa órbita até você.
Minha etérea saudade
Descreve longa órbita até você.
Neurônio cansado
Cansado, o sofrido neurônio
Disse às células do coração:
"Chega, não amem mais não!"
Disse às células do coração:
"Chega, não amem mais não!"
Aproveita, poeta
Poesia nada nos custa
Aproveita Poeta, antes que taxem
O luar e a luz das estrelas!
Aproveita Poeta, antes que taxem
O luar e a luz das estrelas!
De supetão
Do nada, de supetão
Há gente que topamos na vida
A quem damos o nome de Paixão.
Há gente que topamos na vida
A quem damos o nome de Paixão.
Tresloucado
Tresloucado, oiço as estrelas
Tristes, elas lamentam
O triste destino dos homens
Tristes, elas lamentam
O triste destino dos homens
Bruto, porém mole
O sistema aqui é bruto
Mas, o coração trai-me
E tem a dureza da manteiga.
Mas, o coração trai-me
E tem a dureza da manteiga.
Que liberdade é essa?
Dizes a ti que és livre
E segues delirantes líderes
Que tiram de ti a liberdade.
E segues delirantes líderes
Que tiram de ti a liberdade.
Largo da desordem
Curitiba, Feira do Largo da Ordem
Comia um pastel com Gengibirra
E pensava na birra e desordem da vida.
Comia um pastel com Gengibirra
E pensava na birra e desordem da vida.
Não me convidem
Não me convidem
Para bares sem balcão
Sem cerveja barata
E que só servem as "artesanais"
E que te colocam fitas no braço
Com medo de que tu fujas
Não me convidem
Para bares da moda
Com petisco gourmet
Sem gosto, sem vida
Com ruídos chamados de música
Com gente de falsa felicidade
Sorrisos de múmias
Poesia não vive nestes ambientes
Poesia precisa da verdade
Poesia para ser limpa e bela
Precisa sair
Da bruta realidade
Daqueles que brindam mais um dia
Sobre esta apocalíptica Terra.
Para bares sem balcão
Sem cerveja barata
E que só servem as "artesanais"
E que te colocam fitas no braço
Com medo de que tu fujas
Não me convidem
Para bares da moda
Com petisco gourmet
Sem gosto, sem vida
Com ruídos chamados de música
Com gente de falsa felicidade
Sorrisos de múmias
Poesia não vive nestes ambientes
Poesia precisa da verdade
Poesia para ser limpa e bela
Precisa sair
Da bruta realidade
Daqueles que brindam mais um dia
Sobre esta apocalíptica Terra.
Desacordos
Olho para a Serra e o céu é limpo
Penso sair, chove
Vida, vamos entrar num acordo?
Penso sair, chove
Vida, vamos entrar num acordo?
Foi um domingo assim
Foi um domingo assim
Que se molha aos poucos
Um chuvisco aqui, ali outro
A molhar teu cabelo
A desfazer a maquiagem
Dos teus olhos, do teu rosto.
Que se molha aos poucos
Um chuvisco aqui, ali outro
A molhar teu cabelo
A desfazer a maquiagem
Dos teus olhos, do teu rosto.
Nunca falhou
Tu que aqui estás
E como eu não sabes até quando
Vive bem as tuas horas
O tempo não respeita felicidade
E muito menos a dor
Ele para no minuto em que deseja
E pelo que se nota
A esse compromisso nunca falhou.
E como eu não sabes até quando
Vive bem as tuas horas
O tempo não respeita felicidade
E muito menos a dor
Ele para no minuto em que deseja
E pelo que se nota
A esse compromisso nunca falhou.
O incauto
Chamo de grande iludido pelo Tempo
O incauto
Que deixa a felicidade para mais tarde.
O incauto
Que deixa a felicidade para mais tarde.
Assopra
Vida para adiante
Velas no mastro
E se faltar vento
A gente assopra.
Velas no mastro
E se faltar vento
A gente assopra.
Previdentes
Ó previdentes, gente do pé-de-meia
Que tal viver um pouco e com alegria o agora
Antes daquela que aposenta para sempre?
Que tal viver um pouco e com alegria o agora
Antes daquela que aposenta para sempre?
Sem perder a fofura
Hás de emagrecer
Mas, sem perder a fofura jamais!
Mas, sem perder a fofura jamais!
Tatu-bola
Eu conheço um tatu-bola
Que é filho do tatu-bolão
Neto do tatu velho
Que mora lá no sertão.
Que é filho do tatu-bolão
Neto do tatu velho
Que mora lá no sertão.
Amor antigo
Ventinho de chuva
Ventinho de saudades
É novo este dia
É antigo este amor.
Ventinho de saudades
É novo este dia
É antigo este amor.
Ipês e jasmins
Como não fazer poesia
Ao zanzar por Curitiba?
De dia, o doirado dos ipês
À noite, o suspirar do jasmim.
Ao zanzar por Curitiba?
De dia, o doirado dos ipês
À noite, o suspirar do jasmim.
Feitiço bom
Tem gente que tem feitiço nos olhos
Feitiço bom, de não se esquecer.
Feitiço bom, de não se esquecer.
Quisera entoar um canto
Quisera entoar um canto
De esperança para meu povo
Que sarasse os calos das mãos
Que secasse as lágrimas do rosto
Que mostrasse que somos fortes
Ao retirarmos do quase nada
Felicidades impossíveis
E os risos da própria miséria e sorte.
Miséria que nos deram
Esses que nos chicoteiam
E nos roubam, escravizam
Vendem e nos matam
Quando crianças, quando jovens
Quando velhos e sem forças
E que infantilmente, ingenuamente
Outorgamos voz, voto e mando.
.Quisera entoar um canto
Para você, meu amigo, amiga
Irmãos de mesma sofrida sina
Quisera, mas não posso.
De esperança para meu povo
Que sarasse os calos das mãos
Que secasse as lágrimas do rosto
Que mostrasse que somos fortes
Ao retirarmos do quase nada
Felicidades impossíveis
E os risos da própria miséria e sorte.
Miséria que nos deram
Esses que nos chicoteiam
E nos roubam, escravizam
Vendem e nos matam
Quando crianças, quando jovens
Quando velhos e sem forças
E que infantilmente, ingenuamente
Outorgamos voz, voto e mando.
.Quisera entoar um canto
Para você, meu amigo, amiga
Irmãos de mesma sofrida sina
Quisera, mas não posso.
O ofício dos pássaros
Enquanto estudo e escrevo
Aparece-me um pássaro
Depenado, mirrado, feinho
Porém, de canto belo, que nunca ouvi
Canta sem se importar comigo...
Canta, verde ave canora
Canta porque é ofício teu
Compor a trilha sonora
Para os desencantos meus.
Aparece-me um pássaro
Depenado, mirrado, feinho
Porém, de canto belo, que nunca ouvi
Canta sem se importar comigo...
Canta, verde ave canora
Canta porque é ofício teu
Compor a trilha sonora
Para os desencantos meus.
A viúva
Vestida de negro
Com seu velho xale
A viúva coloca na mesa
Uma chávena de chá
Duas xícaras e biscoitos
Espera a amiga Saudade
Comadre dos domingos
E de todas as tardes.
Com seu velho xale
A viúva coloca na mesa
Uma chávena de chá
Duas xícaras e biscoitos
Espera a amiga Saudade
Comadre dos domingos
E de todas as tardes.
Cão ingrato
Quase mais nada me causa espanto
Neste mundo que é um circo sem pano
Nem mesmo a mordida de ingratidão
Do cão que salvei da fome e abandono.
Neste mundo que é um circo sem pano
Nem mesmo a mordida de ingratidão
Do cão que salvei da fome e abandono.
Curtas esperanças
Fala-me do futuro
Digo-te que o futuro é uma esperança
Olho para a montanha na serra
E a invejo, ela é o futuro de si
Ela é a esperança de si
Ela terá em si todas as chuvas
Todos os ventos que hão de vir
E nós, absurda amiga minha
Que só temos esta chuva
Que só temos este vento
Que só temos este tempo
De esperanças tão curtas?
Digo-te que o futuro é uma esperança
Olho para a montanha na serra
E a invejo, ela é o futuro de si
Ela é a esperança de si
Ela terá em si todas as chuvas
Todos os ventos que hão de vir
E nós, absurda amiga minha
Que só temos esta chuva
Que só temos este vento
Que só temos este tempo
De esperanças tão curtas?
Curitiba doente
Curitiba, estás doente, bem o sei
Em cada quadra uma farmácia
Uma Panvel, uma Nissei.
Em cada quadra uma farmácia
Uma Panvel, uma Nissei.
Matuto
Ao homem simples, aquele trabalha com a terra, damos o nome em desdenha
de matuto. Na realidade, um sábio especialista na arte do bem pensar, do
ponderar, pois enquanto tira do solo seu sustento, especula, indaga das
razões, enfim, filosofa, sem o clarão das letras, com a mente livre a
iluminar a própria vida como um pirilampo em noite sem luar.
Platônico
Ah, tu és o segredo do meu coração!
Como escondê-lo, se sou apenas o Zé,
Que não sabe guardá-lo como Platão?!
Como escondê-lo, se sou apenas o Zé,
Que não sabe guardá-lo como Platão?!
Compensação
O tempo nos maltrata, amigo
Mas, aos que merecem
Ele compensa com a sabedoria.
Mas, aos que merecem
Ele compensa com a sabedoria.
Pente para letra morta
Acordo cedo
Para desentortar textos técnicos
Pentear letras mortas
Mas os insones pássaros
Que não tecem nem fiam
Afinam a sinfonia de mais um dia
E dizem-me da poesia que desperdiço
Na aspereza das letras obreiras.
Que algazarra canora
Que alegria, minha senhora
Dessas pequenas almas
Que me chamam para viver!
Para desentortar textos técnicos
Pentear letras mortas
Mas os insones pássaros
Que não tecem nem fiam
Afinam a sinfonia de mais um dia
E dizem-me da poesia que desperdiço
Na aspereza das letras obreiras.
Que algazarra canora
Que alegria, minha senhora
Dessas pequenas almas
Que me chamam para viver!
Sem remédio
A poesia sempre foi usada para cantadas
Daquelas classudas, bem elaboradas
Para namoro, casamento, ou até um caso
Mas, poetas enamorados
Cuidado com os galanteios
Neste mundo tomado pelas toupeiras das cartilhas
É mister fazer poema e mandar flores
Para mulher sensível e inteligente
Pois declarar amor a asno pode ser sexual assédio
E para burrice militante não há remédio!
Daquelas classudas, bem elaboradas
Para namoro, casamento, ou até um caso
Mas, poetas enamorados
Cuidado com os galanteios
Neste mundo tomado pelas toupeiras das cartilhas
É mister fazer poema e mandar flores
Para mulher sensível e inteligente
Pois declarar amor a asno pode ser sexual assédio
E para burrice militante não há remédio!
Feliz Natal
Feliz Natal
Aos que ainda não negam n'alma o alegre espanto
Com as coisas simples
Como a semente que deixa a árvore em despedida
E se abandona confiante ao vento.
Feliz Natal
Aos que carregam n'alma o amor em alegre canto
E espalham na ventania as sementes da Esperança.
Aos que ainda não negam n'alma o alegre espanto
Com as coisas simples
Como a semente que deixa a árvore em despedida
E se abandona confiante ao vento.
Feliz Natal
Aos que carregam n'alma o amor em alegre canto
E espalham na ventania as sementes da Esperança.
Na noite de Natal
Na noite de Natal
Vinha ao orfanato um padre
E nos fazia rezar
Para um Deus Menino
(Sortudo, que tinha dois pais e uma mãe!)
A comida era servida após a missa
Em simples ceia, singela mesmo
Depois ganhávamos bolas
E carrinhos de plástico
Que não duravam nada
Diziam que eram da caridade
Os presentes doados
De senhoras que nunca mostravam a cara
Ah, se elas soubessem
Que a alegria que nos deram
Dura uma vida inteira
E que nós ficávamos chateados
Por não poder dizer obrigado!
Vinha ao orfanato um padre
E nos fazia rezar
Para um Deus Menino
(Sortudo, que tinha dois pais e uma mãe!)
A comida era servida após a missa
Em simples ceia, singela mesmo
Depois ganhávamos bolas
E carrinhos de plástico
Que não duravam nada
Diziam que eram da caridade
Os presentes doados
De senhoras que nunca mostravam a cara
Ah, se elas soubessem
Que a alegria que nos deram
Dura uma vida inteira
E que nós ficávamos chateados
Por não poder dizer obrigado!
Revoada das aleluias
Na noite quente de Verão, em que as paixões ardem
As aleluias anunciam as chuvas que as apagarão
O fogo que o hoje consome prepara as cinzas do amanhã
Nada é perene, tudo é fugaz, tudo é transformação.
As aleluias anunciam as chuvas que as apagarão
O fogo que o hoje consome prepara as cinzas do amanhã
Nada é perene, tudo é fugaz, tudo é transformação.
Erro
Amei errado, mas amei
E se não mais amar
Que ser triste serei!
E se não mais amar
Que ser triste serei!
Raimunda, Beatriz e Dulcineia
Digo a ela: "Amo-te como Dante amou Beatriz; como Quixote amou
Dulcineia"... E Raimunda imediatamente me interrompe: "Quem são essas
vagabundas?"...
Tempo de algodão-doce
Houve em minha vida
Um breve tempo de algodão-doce
Papai-Noel vivia nele
(O turrão não me dava presentes
Mas eu gostava dele!)
E quando me vinha o choro
De uma estranha tristeza
Que ainda não se explicava
Armava-se no quintal
Debaixo das mangueiras
O circo do palhaço Tremelique
O porquinho virava leão
O cabrito uma girafa
E os cães eram tigres
Mas o algodão derreteu-se
Papai-Noel foi para o Polo Norte
E nunca mais voltou
Com seus brinquedos prometidos
O porquinho e o cabrito
Foram para a panela
Os cães apanhados pela carrocinha
E o Tremelique, com doçura e pena
Deu-me sua pintura
A mesma que até hoje uso
Para fingir adultas alegrias.
Um breve tempo de algodão-doce
Papai-Noel vivia nele
(O turrão não me dava presentes
Mas eu gostava dele!)
E quando me vinha o choro
De uma estranha tristeza
Que ainda não se explicava
Armava-se no quintal
Debaixo das mangueiras
O circo do palhaço Tremelique
O porquinho virava leão
O cabrito uma girafa
E os cães eram tigres
Mas o algodão derreteu-se
Papai-Noel foi para o Polo Norte
E nunca mais voltou
Com seus brinquedos prometidos
O porquinho e o cabrito
Foram para a panela
Os cães apanhados pela carrocinha
E o Tremelique, com doçura e pena
Deu-me sua pintura
A mesma que até hoje uso
Para fingir adultas alegrias.
Ano bom
Há um vento de ano bom
Que sopra pela minha janela
Veio da madrugada
E do teu coração em festa
Tem tua voz e sussurra-me
A paz que pediste em prece.
Que sopra pela minha janela
Veio da madrugada
E do teu coração em festa
Tem tua voz e sussurra-me
A paz que pediste em prece.
Ondulatória
Ondas sonoras
Ondas gravitacionais
Música das galáxias
E nos meus ouvidos
A doce onda de tua voz.
Ondas gravitacionais
Música das galáxias
E nos meus ouvidos
A doce onda de tua voz.
Primeiro de Janeiro
Aqui chegamos, caminheiro
Adiante é o que nos resta
O antigo caminho se desfez.
Adiante é o que nos resta
O antigo caminho se desfez.
Caipira letrado
Sou um caipira letrado que não se esqueceu da dureza da terra a qual
capinou e que por isso ainda se encanta com a semente que se arrebenta e
se faz flor e se faz alimento; com as cores dos ipês, com a imponência
dos pinheiros, com o cantar dos passarinhos, com a beleza das borboletas
e joaninhas. Meu viver é bruto, feito pelas asperezas das labutas de
sol a sol. Mas, do lado do fogão à lenha, no peito trago o coração que
se derrete como vela que brilha na escuridão, ao ouvir uma viola, ao
amar o simples e verdadeiro que emana dos que comigo vão sem ver
importância onde vai dar esse caminho, cada vez mais estreito e repleto
de saudades.
Roda dia
Aqui estás, olha pela janela
E verás esperanças novas
Promessas do ano que começa
São crianças que lá fora brincam
E chamam-te Sonhador
E querem-te nos brinquedos de roda
Sorridentes, elas sentem vertigens
No rodar adoidado dos dias
Em que as mãos se dão com alegria
Ciranda, cirandinha...
Esta vida é tão curtinha
Que fazer além de amar?
E verás esperanças novas
Promessas do ano que começa
São crianças que lá fora brincam
E chamam-te Sonhador
E querem-te nos brinquedos de roda
Sorridentes, elas sentem vertigens
No rodar adoidado dos dias
Em que as mãos se dão com alegria
Ciranda, cirandinha...
Esta vida é tão curtinha
Que fazer além de amar?
Fórmula da atração
Amor atrai amor
Na razão direta das cumplicidades
Na razão inversa das falsidades.
Na razão direta das cumplicidades
Na razão inversa das falsidades.
Chuva no chafariz
Chove. Curitiba refresca-se
Como criança abandonada
Em festa, no chafariz da praça.
Como criança abandonada
Em festa, no chafariz da praça.
Agonizante
Sinto quando tenho que escrever
É quando me escondo de mim
Como um cão a morrer.
É quando me escondo de mim
Como um cão a morrer.
Escreventes
Escrever parece castigo
Pois, exige do vivente
Disciplina de soldado
Solidão de monge
Imaginação de se esquecer.
Pois, exige do vivente
Disciplina de soldado
Solidão de monge
Imaginação de se esquecer.
Tolerar, gostar, amar
Tolerar por caridade
Gostar sem falsidade
Amar a quem merece.
Gostar sem falsidade
Amar a quem merece.
Dias de operário
Saudade d'ocê, depois do banho
Naquele leve e curto vestido de chita
Que me dava a pintura das auroras
A colorir os meus operários dias.
Naquele leve e curto vestido de chita
Que me dava a pintura das auroras
A colorir os meus operários dias.
Humor e riso
Ao passar do tempo, vitimados pelos reveses
Aprendemos que as vicissitudes desta vida
Devem ser tratadas com bom humor e riso
A dor odeia desdém e acaba indo embora.
Aprendemos que as vicissitudes desta vida
Devem ser tratadas com bom humor e riso
A dor odeia desdém e acaba indo embora.
O que dizer?
O que dizer, meus bons amigos
Aos que chegam desavisados
Pelados, banguelas e aos berros
A este mundo a ranger os dentes?
Aos que chegam desavisados
Pelados, banguelas e aos berros
A este mundo a ranger os dentes?
Sem motivos
Sem motivos
Todos os dias de minha vida
Cultivei a Esperança
E ela há de vingar!
Todos os dias de minha vida
Cultivei a Esperança
E ela há de vingar!
À mancheia
Gastei muito amor nesta vida
À mancheia
Com o malquerer fui sovina
De mãos vazias
E tudo sem arrependimentos.
À mancheia
Com o malquerer fui sovina
De mãos vazias
E tudo sem arrependimentos.
Entrevista com o poeta I
Repórter: "Qual é o objeto da poesia?"
Poeta: "A alma humana".
Repórter: "O universo feminino é muito rico neste sentido..."
Poeta: "Sim, embora se encontre neste universo umas perversas, quase sem alma, daquelas que pisam e sapateiam na gente, mas adoráveis justamente por isso, inspiram-nos!"
Poeta: "A alma humana".
Repórter: "O universo feminino é muito rico neste sentido..."
Poeta: "Sim, embora se encontre neste universo umas perversas, quase sem alma, daquelas que pisam e sapateiam na gente, mas adoráveis justamente por isso, inspiram-nos!"
Masmorras
Ficar preso ao passado
Joga-nos nas masmorras do presente
Libertem-se, há tempo!
Joga-nos nas masmorras do presente
Libertem-se, há tempo!
Dia de Reis
Era dia de Reis, 6 de janeiro
Dia de ir para debaixo da cama
E mijar nas calças
E a folia descia a rua
Cantadores de casa em casa
Queria escutar a música
Mas tinha medo
Das espadas de madeira
Das máscaras dos palhaços
Daquilo que não entendia
O Natal durava tão pouco
E terminava ali
Ao se desmontar o presépio
As vaquinhas, os carneirinhos
Os reis magos, a manjedoura
Maria, José e o Santo Menino
A árvore, as estrelas e os anjinhos
Iriam para a despensa, em caixas
Junto com aquele espírito
De bondade e luz que a tudo invadia
E assim foi por vários natais, crianças
Mas, um dia deixamos de mijar nas calças
E desarmamos os presépios
Da ingênua santidade que nos habita.
Dia de ir para debaixo da cama
E mijar nas calças
E a folia descia a rua
Cantadores de casa em casa
Queria escutar a música
Mas tinha medo
Das espadas de madeira
Das máscaras dos palhaços
Daquilo que não entendia
O Natal durava tão pouco
E terminava ali
Ao se desmontar o presépio
As vaquinhas, os carneirinhos
Os reis magos, a manjedoura
Maria, José e o Santo Menino
A árvore, as estrelas e os anjinhos
Iriam para a despensa, em caixas
Junto com aquele espírito
De bondade e luz que a tudo invadia
E assim foi por vários natais, crianças
Mas, um dia deixamos de mijar nas calças
E desarmamos os presépios
Da ingênua santidade que nos habita.
Plic-plac
Barulhinho de chuva
Plic-plac...plem...
Travesseiro de nuvem
Sonho contigo, meu bem!
Plic-plac...plem...
Travesseiro de nuvem
Sonho contigo, meu bem!
Atropelado
Coração atropelado
Por olhos incandescentes
Bendito acidente!
Por olhos incandescentes
Bendito acidente!
Bailarina
No palco, como um cisne, tão leve
E todos ignorando
O sangue na ponta, em teus pés.
E todos ignorando
O sangue na ponta, em teus pés.
Encotro para depois
Aquela estrela
Que te apontei
Tem o teu nome
É lá que estás
É lá que estarei.
Que te apontei
Tem o teu nome
É lá que estás
É lá que estarei.
Simples e perfumada
Houve um tempo
Em que a simplicidade
Era bela e se perfumava
Com Cashmere Bouquet.
Em que a simplicidade
Era bela e se perfumava
Com Cashmere Bouquet.
Contigo sinto
Contigo sinto
Essa doida vontade
De me esquecer
Ser amor, apenas ser.
Essa doida vontade
De me esquecer
Ser amor, apenas ser.
Preguiça de nuvem
Céu azul, ao longe, estática
Filhotinha de nuvem
Com preguiça de ser chuva.
Filhotinha de nuvem
Com preguiça de ser chuva.
Sujeito e predicado
Sou um bom sujeito
Para os seus predicados!
Para os seus predicados!
Valsa das Flores
Madrugada, ainda posso ouvir do teatro
A orquestra e o eco da Valsa das Flores
É como se Tchaikovsky
Tivesse escolhido
O Guaíra para reviver-se
Nos passos do corpo de baile
E na praça, vejo-te dançar
A música do gênio suicida
E cabriolas em piruetas
Em graça, em êxtase, em riso
Como o último branco lírio
Que irá enfeitar, logo adiante
E dar seus sobreagudos odores
À penumbra noturna da Rua das Flores.
A orquestra e o eco da Valsa das Flores
É como se Tchaikovsky
Tivesse escolhido
O Guaíra para reviver-se
Nos passos do corpo de baile
E na praça, vejo-te dançar
A música do gênio suicida
E cabriolas em piruetas
Em graça, em êxtase, em riso
Como o último branco lírio
Que irá enfeitar, logo adiante
E dar seus sobreagudos odores
À penumbra noturna da Rua das Flores.
Sonhaste, sonhei
Sonhaste, sonhei
Acordados e de olhos fechados
Beijaste-me, beijei-te.
Acordados e de olhos fechados
Beijaste-me, beijei-te.
Crê-me
Viver é conjugar verbos
E entre eles está o amar
Crê-me, outro melhor não há!
E entre eles está o amar
Crê-me, outro melhor não há!
Graciosa
Deus deu-te tanta graça, Graciosa
Em tuas curvas te insinuas intensa, sinuosa
Perigosa com teus perfumes de mulher
São em ti os jasmins, as hortênsias, os ipês
São os meus olhos que extasiados se distraem
E não veem perigo em tuas águas e lisas pedras
Em teus serpentários, em teus mistérios abissais.
Em tuas curvas te insinuas intensa, sinuosa
Perigosa com teus perfumes de mulher
São em ti os jasmins, as hortênsias, os ipês
São os meus olhos que extasiados se distraem
E não veem perigo em tuas águas e lisas pedras
Em teus serpentários, em teus mistérios abissais.
Jeito e maneira
Existe jeito e maneira para um bom caminhar
Nesta vida, leva apenas o necessário
Coisas ruins, não portes ou carregues
Mas o amor verdadeiro, este é suave
Leve-o contigo, no coração, ele é sempre leve.
Nesta vida, leva apenas o necessário
Coisas ruins, não portes ou carregues
Mas o amor verdadeiro, este é suave
Leve-o contigo, no coração, ele é sempre leve.
A felicidade tem cara
Da minha janela vi a felicidade
Um piá da cara suja
Sorridente, comprando sorvete!
Um piá da cara suja
Sorridente, comprando sorvete!
Partido
- Morreu do coração...
- Ataque cardíaco?
- Não, coração partido!
- Ataque cardíaco?
- Não, coração partido!
Polaca doirada
Tempestades solares
Doiram a rosa pele
Da Curitiba polaca.
Doiram a rosa pele
Da Curitiba polaca.
Sinfonias da chuva
Quando estão entediadas
Escurinhas, grávidas de chuva
Antes do espetáculo do final de tarde
As nuvens chamam os anjos
E pedem sinfonias de Beethoven.
Escurinhas, grávidas de chuva
Antes do espetáculo do final de tarde
As nuvens chamam os anjos
E pedem sinfonias de Beethoven.
Arribação
Sou igual ave de arribação
Se o lugar não me dá gosto
Bato as asas, fico não!
Se o lugar não me dá gosto
Bato as asas, fico não!
Museu do Zóio
Foi num domingo de sor, no Museu do Zóio
Que marquei encontro com a mardita
Esperei um par de hora e ela nada
Queria só dois dedo de prosa com a bendita
Pra ver se já tinha passado a lavage cerebrar
Que fizeram com ela, burguesa-comunista
E quando estava para ir embora
Ela me apareceu ainda mais esquisita
Tinha trocado a camisa do Che
Por um camisolão amarelo de chita
O livro da Beauvoir pelos livros do Prabhupada
Tava com brinco, depilada... Tava quase bonita
E cantarolava não mais Lula-lá nem a Internacioná
Me deu um bolinho de arroz, sem sar, a encardida
E fez eu cantarolar o Hare, Hare... Krishna, Krishna...
Tomei um susto e olhando para minhas botinas
Coloquei a curpa nelas, que sempre me fizero andá
Com gente que por si só não gosta de pensá.
Que marquei encontro com a mardita
Esperei um par de hora e ela nada
Queria só dois dedo de prosa com a bendita
Pra ver se já tinha passado a lavage cerebrar
Que fizeram com ela, burguesa-comunista
E quando estava para ir embora
Ela me apareceu ainda mais esquisita
Tinha trocado a camisa do Che
Por um camisolão amarelo de chita
O livro da Beauvoir pelos livros do Prabhupada
Tava com brinco, depilada... Tava quase bonita
E cantarolava não mais Lula-lá nem a Internacioná
Me deu um bolinho de arroz, sem sar, a encardida
E fez eu cantarolar o Hare, Hare... Krishna, Krishna...
Tomei um susto e olhando para minhas botinas
Coloquei a curpa nelas, que sempre me fizero andá
Com gente que por si só não gosta de pensá.
Ignorâncias
Dizem que o caboclo, ou o caipira
Fala um dialeto cheio de ignorâncias
Ah, doutores, esnobes citadinos!
Pois lhes digo, há mais acerto pelo que ele há dito
Do que nas suas gírias de arremedo, estrangeiras
O caipira fala o velho português
A língua dos bandeirantes, dos bravos guerreiros
De quando esta imensidão de país teve início.
Fala um dialeto cheio de ignorâncias
Ah, doutores, esnobes citadinos!
Pois lhes digo, há mais acerto pelo que ele há dito
Do que nas suas gírias de arremedo, estrangeiras
O caipira fala o velho português
A língua dos bandeirantes, dos bravos guerreiros
De quando esta imensidão de país teve início.
Cuidado com os sonhos
Os sonhos a gente guarda no peito.
Mas, cuidado com o que tu sonhas. Eles odeiam lugares fechados! |
Por Febo!
Febo, o deus pagão Sol, nascido da noite
Foi concebido no sofrimento de sua mãe errante.
Porém, tornou-se o mais belo entre os deuses.
Por ser luz, Febo simboliza a poesia e, por certo
Do seu primeiro choro, ainda ecoa o vaticínio:
- Da dor do poeta há de nascer só coisas belas.
Foi concebido no sofrimento de sua mãe errante.
Porém, tornou-se o mais belo entre os deuses.
Por ser luz, Febo simboliza a poesia e, por certo
Do seu primeiro choro, ainda ecoa o vaticínio:
- Da dor do poeta há de nascer só coisas belas.
Deus acaso
Pagão deus Acaso
Como sois abominável!
Como sois abominável!
Celeiro
Do roxo do rico solo o verde querido verde
Eis o o trabalho de teu povo, querido povo
Aqui tudo nasce e prospera, bendita terra
Paraná és o celeiro, avante para o porvir!
Eis o o trabalho de teu povo, querido povo
Aqui tudo nasce e prospera, bendita terra
Paraná és o celeiro, avante para o porvir!
Vereadora recalcada
Vereadora de Curitiba
Em busca de aparecer
Quer multar a cantada
Ó vivente solitário que ama o belo
Guarde seu fiu-fiu de apreço
Sua exclamação à gostosura
Para mulher doce e bonita
Que não seja recalcada
Sem fiu-fiu a essa verde gente
Que ignora antropologia
O estudo dos costumes
Sem fiu-fiu para esta fulana fria
Pois o único assovio que lhe resta
E presta, é o da feiura das vaias.
Em busca de aparecer
Quer multar a cantada
Ó vivente solitário que ama o belo
Guarde seu fiu-fiu de apreço
Sua exclamação à gostosura
Para mulher doce e bonita
Que não seja recalcada
Sem fiu-fiu a essa verde gente
Que ignora antropologia
O estudo dos costumes
Sem fiu-fiu para esta fulana fria
Pois o único assovio que lhe resta
E presta, é o da feiura das vaias.
Assovio
Cheguei ao hotel assoviando
Ainda bem que estou em Maringá
Se fosse em Curitiba, seria multado
Pela vereadora que não gosta de felicidade.
Ainda bem que estou em Maringá
Se fosse em Curitiba, seria multado
Pela vereadora que não gosta de felicidade.
Bruxedos
Sei quando a mulher é bruxa
Do nada dela tu sentes
Saudades, daquelas de deixar doente.
Do nada dela tu sentes
Saudades, daquelas de deixar doente.
As árvores da Eufrásio
Nas árvores da Eufrásio Correia
Um canário canta de pulmão cheio
Esperando encantar sua companheira
Mas eis que aparece um urubu
E diz: "Canário besta, tomaste na orelha,
Veja que coisa feia, vou te multar
Por ordem da vereadora infeliz:
Em Curitiba é proibido cantar
O amor, paixão ou até mesmo tesão
Para a fêmea própria ou para alheia!"
Um canário canta de pulmão cheio
Esperando encantar sua companheira
Mas eis que aparece um urubu
E diz: "Canário besta, tomaste na orelha,
Veja que coisa feia, vou te multar
Por ordem da vereadora infeliz:
Em Curitiba é proibido cantar
O amor, paixão ou até mesmo tesão
Para a fêmea própria ou para alheia!"
Amarga vida
Chove, chove, chuvinha abençoada
Mas seja breve
A abelha triste se escondeu no favo
É operária
E minha amarga vida precisa de mel.
Mas seja breve
A abelha triste se escondeu no favo
É operária
E minha amarga vida precisa de mel.
Abraços
Abraço, abracinho, abração
Abraço de amigo, apertado, de urso
Meu abraço vem do coração!
Abraço de amigo, apertado, de urso
Meu abraço vem do coração!
De terno preto
Nas tardes em que me esqueço
Escondido em meu terno preto
Atônito atravesso ruas descoloridas
E vejo-te vagar vestida de vida
Vida que sopra em brisa breve
Que a ti canta como a mim cantou
Ah, quanto encanto não percebi
Nesse vento que me encantava
E que me avisava da brutalidade
Do tempo que me gastou
Hoje te sopra o mesmo vento
Mas, não faças como eu
Que encantado pelo seu canto
Da própria vida se esqueceu.
Escondido em meu terno preto
Atônito atravesso ruas descoloridas
E vejo-te vagar vestida de vida
Vida que sopra em brisa breve
Que a ti canta como a mim cantou
Ah, quanto encanto não percebi
Nesse vento que me encantava
E que me avisava da brutalidade
Do tempo que me gastou
Hoje te sopra o mesmo vento
Mas, não faças como eu
Que encantado pelo seu canto
Da própria vida se esqueceu.
Fantástico
Aos domingos à noite
Saio de casa e miro a Via Láctea
O céu é o Fantástico.
Saio de casa e miro a Via Láctea
O céu é o Fantástico.
Estrela só
Namoro aquela estrela só
Afastada das constelações
A solidão e seus segredos
Instigam-me, comovem-me.
Afastada das constelações
A solidão e seus segredos
Instigam-me, comovem-me.
Nuvens rosas
Gosto dos finais de tarde do Verão curitibano: nuvens rosas, tal e qual o
algodão doce colorido do Passeio Público, no Céu em que o Sol é um
balão de gás encantado, perdido e errante no lusco-fusco do horizonte,
fugitivo das mãos de uma criança.
A sonata
Sinto teus pés suaves, em ponta
Pas-de-deux no meu coração
Suaves como uma sonata de Chopin.
Pas-de-deux no meu coração
Suaves como uma sonata de Chopin.
Sina do Sol
É fevereiro, linda que dorme
Sai aqui fora e venha ver
A sina do Sol, no amanhecer!
Sai aqui fora e venha ver
A sina do Sol, no amanhecer!
Matadeiras
Ontem foi dia da saudade
Muitas tenho
Umas pequeninas
Outras matadeiras.
Muitas tenho
Umas pequeninas
Outras matadeiras.
Desencontro
É dois de fevereiro
Meu amor não chegou
Esperei no lugar errado
Ou foi ele que errou!
Meu amor não chegou
Esperei no lugar errado
Ou foi ele que errou!
Curitibanas tardes
Um velho calção de banho
E o Passeio Público para vadiar...
Duro é ver o Sol, escondido pelo mar de concreto
Que cobre o horizonte dessas curitibanas tardes.
E o Passeio Público para vadiar...
Duro é ver o Sol, escondido pelo mar de concreto
Que cobre o horizonte dessas curitibanas tardes.
Coração vadio
Eita, coração vadio!
Basta ver a medonha
E dispara em batucada
De sambista campeão!
Basta ver a medonha
E dispara em batucada
De sambista campeão!
Velho tema
Há cinco mil anos
Os poetas insistem no tema amor
Adoráveis teimosos!
Os poetas insistem no tema amor
Adoráveis teimosos!
Janaíma manda amar
Mar, mar, mar, vasto mar
Janaína manda amar
Amor tão grande como o oceano.
Janaína manda amar
Amor tão grande como o oceano.
Aulas com as orquídeas
Contrariado, tive aulas com as orquídeas
Crianças não gostam de cuidá-las
Exigem paciência, espírito e calma
E assim passou-me o tempo das brutalidades
Hoje, cuido de versos e aplico neles
Os ensinamento das orquidáceas
Sobre as descomposições da terra
Fazer florescer beleza, cor, em plurais formas.
Crianças não gostam de cuidá-las
Exigem paciência, espírito e calma
E assim passou-me o tempo das brutalidades
Hoje, cuido de versos e aplico neles
Os ensinamento das orquidáceas
Sobre as descomposições da terra
Fazer florescer beleza, cor, em plurais formas.
Meu teorema
Você foi meu teorema inacabado
Dona das variáveis indeterminadas
E equações de vida sem soluções
É... O amor é o quântico calor
Para o qual não temos termômetro
E sempre será isso: inexatidões.
Dona das variáveis indeterminadas
E equações de vida sem soluções
É... O amor é o quântico calor
Para o qual não temos termômetro
E sempre será isso: inexatidões.
Sem calendários
Os pássaros
Não têm calendários
Todo dia é dia de canto
Para acordar, para viver!
Não têm calendários
Todo dia é dia de canto
Para acordar, para viver!
Bailado de passarinhos
Acordei ouvindo Tchaikovski
É que havia em minha janela
Um bailado de passarinhos.
É que havia em minha janela
Um bailado de passarinhos.
Do meu gostar
Já ganhei o dia, poeta miúdo
Fiz poesia p'ros pássaros
E p'ras gentes do meu gostar.
Fiz poesia p'ros pássaros
E p'ras gentes do meu gostar.
No altar
O falso não me engana
Sei o santo
Que boto no meu altar.
Sei o santo
Que boto no meu altar.
Engana-te
Criança, cadê teu cata-vento?
Engana-te ao tentar
O vento com as mãos segurar.
Engana-te ao tentar
O vento com as mãos segurar.
O galo
O galo da vizinha
Respeita o domingo
Ou foi para a panela:
Hoje não teceu a manhã!
Respeita o domingo
Ou foi para a panela:
Hoje não teceu a manhã!
Tu me olhas
Tu me olhas
E imediatamente
Afundo-me
Nas delícias
Destes verdes mares.
E imediatamente
Afundo-me
Nas delícias
Destes verdes mares.
Brilho de vaga-lume
Foi em noite de cheia Lua
Foi de eclipse
E tua pele, brilho de vaga-lume, nua.
Foi de eclipse
E tua pele, brilho de vaga-lume, nua.
Aprendizado
Nesta vida bruta, em caminhadas
Aprendi muita coisa, meu irmão
A não ajudar a quem não se ajuda
E a quem não se ama não
No caminho sigo com os que amo
Que dão paz ao meu coração.
Aprendi muita coisa, meu irmão
A não ajudar a quem não se ajuda
E a quem não se ama não
No caminho sigo com os que amo
Que dão paz ao meu coração.
Canta
Minha esperança precisa se alegrar.
Canta, canta, amiga minha
Para minha esperança se encantar.
Canta, canta, amiga minha
Para minha esperança se encantar.
Fratura
Tropecei num verso
E caí aos teus pés:
Fratura exposta no peito.
E caí aos teus pés:
Fratura exposta no peito.
Incensos
Acendia incensos
Ascendia-me
Recitava o Sutra:
Nesses ascensos
Perdia-me, ardia-me.
Ascendia-me
Recitava o Sutra:
Nesses ascensos
Perdia-me, ardia-me.
Domingo desaforado
Domingo desaforado
Disse-me todo molhadão
Que ser sempre ensolarado
Não é de sua obrigação!
Disse-me todo molhadão
Que ser sempre ensolarado
Não é de sua obrigação!
Dá tempo
O mundo acaba dia 16
Ainda dá tempo, amiga
Amar antes da escuridão.
Ainda dá tempo, amiga
Amar antes da escuridão.
Raras gentes
Há certas raras gentes
Que nos oferecem sorrisos
Enfeitados em caixa de presente.
Que nos oferecem sorrisos
Enfeitados em caixa de presente.
Amores ordinários
Certos amores ordinários
Mesmo se jurados em cartório
Não valem um fósforo queimado.
Mesmo se jurados em cartório
Não valem um fósforo queimado.
O osso
Hoje é segunda-feira
Dia de pegar no batente
Sem medo, sem sobrosso
Do trabalho vem a carne
Da preguiça vem o osso.
Dia de pegar no batente
Sem medo, sem sobrosso
Do trabalho vem a carne
Da preguiça vem o osso.
Com cuidado
Nos escuros
Abra portas para buscar a claridade
Mas, cuidado
Algumas dão para o Sol do jardim
Outras para os terrores da tempestade.
Abra portas para buscar a claridade
Mas, cuidado
Algumas dão para o Sol do jardim
Outras para os terrores da tempestade.
Caritó
Separa no coração um caritó
Um cantinho para coisas velhas
Em desuso, coisas de dó.
Um cantinho para coisas velhas
Em desuso, coisas de dó.
A joaninha
Chove no jardim
E a esperta joaninha
Faz da folhagem
Seu guarda-chuva.
E a esperta joaninha
Faz da folhagem
Seu guarda-chuva.
Goteiras
Casas velhas, goteiras
Tetos furados
Velhos olhos, cachoeiras
Afetos apartados.
Tetos furados
Velhos olhos, cachoeiras
Afetos apartados.
Louvor à vida
Tela a se pintar na memória
Dia de louvor à vida
Em manhã azul, na aurora luzida.
Dia de louvor à vida
Em manhã azul, na aurora luzida.
Brisa safada
Brisa-safada
Levanta-saias
Refresca-amada
Esquenta-amores.
Levanta-saias
Refresca-amada
Esquenta-amores.
Capricho
Café perfumando esta manhã
Escandalosamente de Sol
Deus tem dias em que capricha.
Escandalosamente de Sol
Deus tem dias em que capricha.
Bem acompanhado
De certos lugares a gente parte
Bem acompanhado
Com a boa saudade
De braços dados.
Bem acompanhado
Com a boa saudade
De braços dados.
Espaço-tempo
Minha saudade, cariño meu
Ignora o espaço-tempo
E vive no último beijo teu.
Ignora o espaço-tempo
E vive no último beijo teu.
Aquela mulher
Aquela mulher
Não me fale daquela mulher
Ela pode se fantasiar de ouro
Será ouro de tolo
Neste Carnaval...
Não me fale daquela mulher
Ela pode se fantasiar de ouro
Será ouro de tolo
Neste Carnaval...
Teimoso coração
Bate por amor
Bate pela dor e desilusão
Bate e te faz vivo
Teimoso é o coração.
Bate pela dor e desilusão
Bate e te faz vivo
Teimoso é o coração.
Sonhei contigo, Cariño
Sonhei contigo, Cariño
Vieste doutro Multiverso
Por certo e ficaste tão perto
Belisquei-me para saber-te real
Neste meu Universo de padeceres
Desencantado e troncho
Vieste doutro Multiverso
Por certo e ficaste tão perto
Belisquei-me para saber-te real
Neste meu Universo de padeceres
Desencantado e troncho
Vieste para ficar, bem o sei
Pois trazias contigo teu cão
E teu coração doente exposto
Trouxeste-me ramalhetes de rosas
Roubadas do meu jardim
Que há anos deixei de cultivar
Mas, ao me beliscar
Machuquei-me tanto
Que, miseravelmente, acordei
Mas, como pode, estavas aqui
Conversaste comigo, sorriste
E dividiste o mesmo travesseiro?
Na escuridão, apanhei os óculos
Olhei para o relógio, madrugada
E do meu lado, tu não estavas.
Esvaneceste em ais, Cariño
Foste em fumaça, diáfana
Pelas veredas atemporais.
Pois trazias contigo teu cão
E teu coração doente exposto
Trouxeste-me ramalhetes de rosas
Roubadas do meu jardim
Que há anos deixei de cultivar
Mas, ao me beliscar
Machuquei-me tanto
Que, miseravelmente, acordei
Mas, como pode, estavas aqui
Conversaste comigo, sorriste
E dividiste o mesmo travesseiro?
Na escuridão, apanhei os óculos
Olhei para o relógio, madrugada
E do meu lado, tu não estavas.
Esvaneceste em ais, Cariño
Foste em fumaça, diáfana
Pelas veredas atemporais.
Somos e não somos
Somos e não somos,
assim como as distantes estrelas
que brilham, mas não mais vivem.
assim como as distantes estrelas
que brilham, mas não mais vivem.
Tempo flácido
Que tempo este, amigos
Este tempo no qual vivemos
Fingido, líquido, flácido...
Este tempo no qual vivemos
Fingido, líquido, flácido...
A cobra cega
A cobra é cega e lisa, menina
Nasce com uma só cabeça
Mas como não tem ombro
Mente que é só ali nas coxas
Nas beiras, e neste bem-bom
Escorrega e está feita a besteira!
Nasce com uma só cabeça
Mas como não tem ombro
Mente que é só ali nas coxas
Nas beiras, e neste bem-bom
Escorrega e está feita a besteira!
Assombração
Nas noites escuras da quaresma
O peão se benze:
- Assombração, ó peste, cruz credo!
O peão se benze:
- Assombração, ó peste, cruz credo!
Campeio
Campeia bons sonhos.
Os que avivem arriba,
Nos céus, são os me'ó.
Os do chão, cate não,
Põe fora, são veneno
De fel, de dor e de dó.
Os que avivem arriba,
Nos céus, são os me'ó.
Os do chão, cate não,
Põe fora, são veneno
De fel, de dor e de dó.
Choros
Saudade a chorar em mim,
Qual soluço é o teu,
Qual soluço é o meu, enfim?
Qual soluço é o teu,
Qual soluço é o meu, enfim?
Pobre vírus
Tenho quase pena do Vírus
Sujeito popular e poderoso
Porém sem reino, esse tinhoso
Não é vegetal, nem mineral
E muito menos animal
Por assim ser e não ser
Em revolta faz estragos
Deixa-nos doentes
Divagadores em febre
Em noite de sexta-feira
Em dias de festa, alegres
Mau, ele ignora
Xaropes, sulfas, sopinhas
E até mesmo antibióticos
Vem sorrateiro, o lazarento
Trazendo com ele
Sua prima Gripe
Morfética e ardente
E que nos força
A dormir com ela
Em cama quente.
Sujeito popular e poderoso
Porém sem reino, esse tinhoso
Não é vegetal, nem mineral
E muito menos animal
Por assim ser e não ser
Em revolta faz estragos
Deixa-nos doentes
Divagadores em febre
Em noite de sexta-feira
Em dias de festa, alegres
Mau, ele ignora
Xaropes, sulfas, sopinhas
E até mesmo antibióticos
Vem sorrateiro, o lazarento
Trazendo com ele
Sua prima Gripe
Morfética e ardente
E que nos força
A dormir com ela
Em cama quente.
Mel e fel
Para os que não gosto,
O fel das frases secas.
Para os que gosto,
O mel dos versos.
O fel das frases secas.
Para os que gosto,
O mel dos versos.
Brinquedos
Sol, bolinha de fogo no céu
Nuvens brincam de pegar
O vento da Serra do Mar.
Nuvens brincam de pegar
O vento da Serra do Mar.
O cisne samba
O cisne desceu dos palcos
Cansou das piruetas clássicas
E no samba tem seus passos.
Cansou das piruetas clássicas
E no samba tem seus passos.
Ad infinitum
Amar, assim no infinitivo
Sem objeto, intransitivo
Ab aeternum ad infinitum.
Sem objeto, intransitivo
Ab aeternum ad infinitum.
Poema de arrimo
Construo poema de arrimo
Nivelado nas rimas transversas
Do amor que'inda me resta.
Nivelado nas rimas transversas
Do amor que'inda me resta.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
Morte crebral
Dedico-me à Física
Diz-me louco
Ao lirismo da poesia
Diz-me doido
O que para ti é são
Ser escravo dos ofícios
Dos memorandos
Dos relógios das repartições?
Ora, caro burocrata
Interne-se num hospital
E confirme tua morte cerebral.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Sereia bailarina
E Netuno por castigo não me tirou a vida
Por espiar em noite de Lua Cheia
A mais bela das sereias a dançar na areia
Porém, em noite de vento sereno
Coloca no meu coração a baldes
Mais saudades do que as águas do mar.
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