segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O tempo que longe se vai


Houve tempo que já se vai longe, se vai...
Em que os relógios não contavam o tempo
Contavam os dias infinitos e noites sem fim
Neste tempo de que falo, as escuridões se agigantavam
Faziam medo às crianças, às moças na lua de mel
Mas não às sirigaitas namoradeiras

Um dia de festa, tão raro que era
Fazia-se dia de eterna lembrança feliz
Dia raro para se guardar em românticos diários

Houve tempo em que as fotos já nasciam amarelas
Instantes gravados com roupas de missa
E essas roupas tinham dia certo, hora certa
Avental e macacão de trabalho, grosseiros, imundos
E o negro respeitoso da cerimônias fúnebres

Houve um tempo que uma nota de piano apenas
Calava saudades e chorosa denunciava amores impossíveis
Cartas de amor também choravam recordações
Sim, cartas de amor, com letra de normalista
A contar desencantos, lamentos de separações

Houve um tempo que tínhamos tempo para a vida
Plantar flores nos jardins, enfeitar as janelas
Tempo para reverenciar a sabedoria dos mais velhos
A beleza fugidia da juventude, os amigos numa pescaria
Houve tempo que tínhamos tempo para amar
E por isso o amor durava tanto e nunca se acabava.

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