segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Carrancas da chuva

Meus olhos logo cedo fogem pela janela
Buscam as carrancas da chuva na Serra
Que guarda no ventre das nuvens baixas
As ameaças das águas que tomou do Mar
Volto para mim, sou as pedras dos morros
Indiferente à tempestade que vai passar
Há de passar, assim é, assim sempre será.

Barulho dos versos

Ainda hei de acordar sem o barulho dos versos
São pontuais, sacodem-me, não me dão descanso
Crianças, querem falar e pedem-me papel para brincar.

Na caixa

Tal é o grau de nossa servidão ao inútil
Que pensar fora da caixa
Já é um baita ato revolucionário.

Distraída

Ela era tão distraída pela sua dor
Que ao andar por um caminho florido
Só contemplava as pedras, não via a flor.

Educação e Doutrina

A educação liberta. A doutrina escraviza.

O Céu que trai

Céu azul quase o dia inteiro
Traiu-me como o azul dos teus olhos
Prometeu tempo bom, mas choveu.

Tementes

O amor nos faz tementes
Porque não queremos perdê-lo
Tememos deixar a vida
Tememos que nosso amor a deixe.

Sina e ofício

Tenho por sina e ofício
Revirar o lixo deste nosso tempo
Talvez encontre nele algo que se aproveite
Nem que seja uma pequenina palavra
Que te diminua a amargura, que te faça contente.

Venho de longe, caminhero

Venho de longe, caminheiro
Por esta longa estrada
Com os passos cada dia mais curtos
Com a pele pelo Sol enrugada
Vi coisas belas, conheci anjos
Demônios e gente bárbara
Susto não tenho mais
O espanto morre aos poucos com o cabra
Venho de muito longe, caminheiro
E já sei onde esta estrada acaba.

 

Fumo

O bom caboclo fala "nóis fumu"
É quase como os romanos falavam, "fuimus"
Na realidade, o caboclo sabe o que todo brasileiro sabe
Do governo, qualquer que seja ele
Se leva isso mesmo: fumo!

Um bom dia

Um bom dia para ser feliz. Não espere.
Tente, não adie.
Haverá outro dia?

Marca de infância

Criança,
não é o primeiro amor que nos marca.
É o primeiro adeus.

Antigos domingos

Resolvi visitar antigos caminhos, antigos domingos
Envoltos em sombrias paisagens
Lá estavam os antigos muros, antigas grades
Adormecidos amigos já sumidos, nunca esquecidos...
O passado dorme em cova rasa e aberta
Em algum lugar da paisagem e certamente, aqui dentro, no peito
Lembrei-me do negro doido Badu
Contando os carros da cor azul que passavam na estrada
Sem saber contar, sem saber diferenciar cores
Lembrei-me dos loucos... dos loucos
E eram tantos vivendo em mundo outro
Lembrei-me dos meninos paralíticos
Correndo com suas pernas de madeira e ferro
Lembrei-me dos tristes domingos
Em que os pequenos desgraçados
Esperavam em vão a visita
Da mãe e dos parentes que nunca tiveram.

Não cortem os pinheiros

Não cortem os pinheiros daquele caminho torto
Aquele caminho foi meu e de tantos outros pés
Por ali passaram os colonos italianos em carroções de uvas
Os polacos que fugiram da fome e da guerra
Nos pinheiros estão dessas gentes as lembranças
E num deles o nome dela em marcas de canivete
Num coração criança
Não cortem os pinheiros
Não arranquem de Campo Comprido a amplidão da eternidade.

Cadê?

Adulta, não conseguia entender: "cadê as fadas, só existem as bruxas?"

Roubaste

Roubaste tanto
Mas não poderás gastar
Assim enganou-te a vaidade
Dando-te mais
Do que poderias carregar.

A pior memóra

Tenho a pior memória que existe. Aquela que nada esquece.

Dorme o Guaíba

Chove mansinho
Silêncio do vento
Dorme o Guaíba.

Curitiba tem

Minha terra não tem metrô
Nem creche para os piás
Curitiba também tem, Seu doutor
Calçada para tropeçar
Minha terra tem ipês, meu amor
Para os olhos embelezar....



Minha terra tem boa gente
Que trabalha sem parar
Fedentina e rio morto
Para os gurizada nadar


Minha terra tinha pinheiros
Aves que vinham cá gralhar
Hoje tem prédios pra todo lado
Para no mercado especular
Tem favelas populosas
Para políticos explorar.

Minha terra tem ipês, meu amor
Para os olhos embelezar....









Elegante

Era daquelas mulheres que você não conseguiria imaginar sendo deselegante. Nem mesmo nua. Principalmente nua.

Um luxo

A maioria vive a vida de forma medíocre. Não se dê a esse luxo de ser a maioria.

A letra "u"

Limpei o teclado do comp*tador
E *m resto de biscoito, j*nto com café e bolo
(...)
Eram os lazarentos que travavam a letra "u"
(Não vou fazer a rima, mas dá vontade!).

A poesia ri

A poesia tem essa doida magia
Canta amores inventados
E depois ri dos desencantados.

O tolo

Não temais o tolo. Temei aquele que se faz de tolo para vos enganar.

Rebele-se

O rebelde não segue líderes messiânicos, ou a moda. O nome disso é trouxa.

II
Sede rebeldes, inclusive contra a rebeldia burra das causas vazias.

Matutações

No silêncio da noite
As estrelas, os astros todos
Seguem sua procissão
E eu aqui, diminuto, ínfimo
Alcanço com os olhos
Esses pontinhos de brilho
Em demasiada admiração
E matuto comigo
Sobre a verdade da criação
Mas já achei uma, outra quero não
Sou tão pequeno
Para ter em mim
Diversa explicação
De que as estrelas brilham no Céu
Para alegria do meu coração.

A olho nu

Nossos olhos não mentem
O que nossos corações sentem
Vivem nus, esses indecentes!

Tudo é

A vaidade é a glória e a desgraça dos homens.

Contigo

Contigo sinto
Essa doida vontade
De me esquecer
Ser amor, apenas ser.

Comichão

Paixão é um comichão...
No coração, é claro,
Não em outro lugar!

Culto

Homens de espírito cultuam o espírito. Jumentos cultuam farsas de carne e osso.

Sois pó
Grande ou pequeno
O fim é um só.

Liberdade tirana

A tirania tem uma estranha liberdade como conceito, a feita de sangue.

Deus mortal

Que vazio deve sentir no peito o ateu que perdeu seu deus mortal!

Boa-noite, Felicidade

Boa-noite, Dona Felicidade!
Prazer em vê-la... Há quanto tempo!
Fique, não tenha pressa
Esquece esse seu relógio, as nove horas...
Os salamaleques
Senta aqui, à minha mesa
Enquanto eu passo um café
Minha história é longa... Prometo contar tudinho
Mas não vale chorar, mulher...
Pode ser triste até, sem graça
Mas em você sempre tive fé.

A alma da maçã

Vermelha no rosto,
Cheirava à maçã,
De resto, nua,
Era oalvidoce
Da alma da maçã.

Nosso tempo

No mundo de mentiras absolutas, a verdade ganha uma relatividade que nunca teve.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Ai!

Trôpego
Andava
Claudicante
Suava
Maldita
Unha encravada!

Ao péd da serra

Aqui, ao pé da Serra
Há lágrimas que choram
Saudades do Mar.
O sonho da chuva é ser oceano.

Sapatilha de ponta

Comprou sua primeira sapatilha de ponta
E saiu por aí, ao som das orquestras
O mundo, pensava, é um grande palco
Se há música, há de se dançar.

A sabedoria do pássro

A sabedoria do pássaro
Está em se abrigar em boa árvore
Durante as tempestades
Pois ele sabe que a chuva terá
O céu por algum tempo
Mas não por todo o tempo
E que, na manhã seguinte
É o Sol que reinará.

Aquele fim de tarde

Se ao final da vida me perguntarem
"Que fim de tarde tu te lembras?"
Direi:
O de uma sexta-feira, com nuvens vazadas pela luz do Sol
Em calmo jardim, com ameixas no pé, amarelinhas
Tapetes de flores dos ipês e mortas folhas sob os meus pés
Em tímida Primavera cantadas pelos sabiás enamorados
Com o vento trazendo-me saudades do que não fui
Do que tolamente me sonhei nos meus já esquecidos invernos...
Sete de outubro de dois mil e dezesseis...

O fantástico

Aos domingos à noite
Saio de casa e miro a Via Láctea
O céu é o fantástico.

Curitiba nublada e calada

Na nublada e calada Curitiba
Poeta tem que ter muita imaginação
Imaginar a Lua, as estrelas ou até mesmo o Sol
E o pior, imaginar diálogos com o vizinho!

Soberba burrice

Triste país em que a cultura tornou-se sinônima de soberba e a burrice é motivo de aclamação pública.

Lupanar sem fronteiras

O problema deste lupanar que virou o mundo
É que tem gente levando muito a sério
O ditado "cada um dá o que tem".

Querubim

O mundo é assim, querubim!

Chato à beça

Quando o homem inventou o esquadro
Tudo ficou alinhado em ângulo reto, chato à beça
A tarefa da Arte é mostrar que o mundo
Não está obrigado a isso, pois ele é esférico e torto, lindo.

A poeira da estrada

Trago e preservo sobre os ombros
A poeira de uma longa estrada
É ela que me lembra quem sou
Ela é a verdade que erra e que, ao final de tudo
Misturar-se-á novamente com a terra.

Ilumina-me

Teu sorriso
É a melhor definição de luz
Que conheço.

A fama

A fama neste mundo que idolatra inutilidades do momento
É sopro de vento sobre os vaidosos feitos de areia.

A moça oblíqua

"Eu se fodi na prova", ouvi no pátio da faculdade de uma mocinha bonitinha, mas, certamente, ordinária, no uso da língua pátria, é claro. E pensei: se fodeu mesmo! Caso não quisesse se foder, concordaria os pronomes da forma correta: eu concorda o oblíquo "me"; o tu com "te"; o você, ele, ela com "se"; nós com "nos", vós com "vos" e vocês, eles, elas com "se" também.

Fogo no rabo

Não é bombeiro que apaga fogo no rabo
O nome disso é outra coisa.

Passai ao largo

Vulgares, fúteis, afetados
Por favor, passai ao largo
Tenho preguiça de vós!

Para parar o tempo

Descobri como parar o tempo
Ao colocar dentro do meu coração
O teu sorriso, no dia em que te conheci.

Tarefas da poesia

As tarefas da Poesia são: dar riqueza e vida ao idioma
Sutileza ou gravidade ao pensado, densidade ao amado
E certa candura e piedade à dura alma dos homens.

Saudade d'ocê

Acordo, adoço meu café
E imediatamente, na minha boca
Sinto doce saudade d'ocê.

PECados

Que eu PEC
Que tu PECs
Que ele PEC
Que ela PEC...
Nós PECamos...

Inveja do vento

Fiquei com inveja do vento
Que veio me contar
Que te viu nesta tarde
E arrepiou tua pele...
Ah, tive um arrepio de saudade!

Os homens e as coisas

Dar significado ao ar que se respira
Embora espantados, mas com Esperança
Diferencia os homens das coisas
Embora muita gente teime em ser coisa
Indiferente à brisa, como uma pedra bruta.

A cidade mata

A melhor cidade para se viver é aquela que não oprime, aquela que como gente te trata, aquela que não te mata. Mas, as cidades estão doentes, porque os homens que vivem nelas estão doentes. Sofrem de bárbaro egoísmo centrado nos próprios umbigos e pelo egoísmo dos homens as cidades oprimem e matam.

Um cão atropelado

Vi um cachorro atropelado, agonizando no meio do asfalto. Fui ajudá-lo e ele me mordeu. Irracional e assustado, com as entranhas para fora, banhado em sangue, o cãozinho não sabia que estava morrendo. E, hoje, olhando para o curativo no braço, penso nas pessoas que tentei fazer o mesmo e que me morderam como um cão. Mas sem mágoas, ficaram apenas as cicatrizes em minh'alma. Um cão não tem a consciência de que é um cão.

O caixão das seitas

Quando libertos
Assustadora, porém bela
É a realidade
Aos sujeitos que estão
Mortos dentro do caixão
Das seitas que seguem!

Soprinho

Gratidão
É sentir no rosto um sopro de carinho do vento
E devolver a ele um poema num soprinho.

Guarda a brisa

Suave é a solta brisa
A abrir caminho à violenta tempestade
Guarda-a no teu coração, pois ela volta
Neste mundo é erro pensar que o mal é perene.

Nem mesmo a morte III

Dezesseis anos, exangue, e agora sem vida
Morreu na escola invadida, com a lâmina no pescoço
Por ironia, em Santa Felicidade, nesta sorridente Curitiba
Que a terra seja leve a quem a este absurdo incentiva.

Nem mesmo a morte II

Nunca entenderei a estupidez da morte e nem desejo entender
E a morte violenta de uma criança não quero entender mesmo
Pois, além de estúpida, é impiedosa, absurda, inominável.

Nem mesmo a morte

Nem mesmo a morte de um inocente é capaz de convencer os estúpidos inconsequentes de que eles são estúpidos.

Nas salas de aula IV

Escola ocupada
Aluno desocupado
Professor desocupado
Mentes desocupadas e o capeta solto; juntando
É lógico que terminaria em tragédia.

Nas salas de aula III

No inferno das escolas que deixaram de educar há muito tempo
A morte de uma criança é apenas um detalhe formal
Que foi subavaliado pelos invasores e birrentos professores
Ignorado pelas autoridades e demais responsáveis
Que não se comoveram e esperam, por certo, mais um cadáver.

Amigos, por onde começo

Ao escolher meus amigos ou amigas, nunca fui guiado por coisas do tipo religião que pratica, crença que professa, partido e ideias que defende; antes de tudo, observo a honestidade. Daí começo conversa, caso contrário não interessa.

Velhos moços

Ah esses moços, pobres moços
Que já nascem velhos
E não contestam as mentiras
Que minha geração inventou para eles
O Woodstock durou não mais do que quatro dias em 1969
E faz até hoje enriquecer mercadores da alienação e patifes
A revolta pela revolta morreu de tênis e jaqueta
Que hoje dão muito lucro à Nike e à Lee
Tudo é mercado e está no mercado
As ideologias libertadoras e outras coisas bonitas
Ganham etiquetas e acabam nas prateleiras
Das livrarias ou servem de souvenir para turistas
Nos lemas vazios de uma camiseta do "Tche".

Adestradores e Educadores

Há uma diferença muito grande entre um educador e um adestrador de alunos.

Teimosia

Dá-me de tua água
Tenho essa teimosia: viver
Dá-me de tua alma
Tenho essa sede: viver.

Nas salas de aula II

Criamos uma geração de estúpidos doutrinados por estúpidos
Se tu afirmas que o Sol brilha além das nuvens
Terás como resposta: "invenção da mídia, o brilho do Sol é golpe!"

Em questão de caráter

Em questão de caráter
É falsa a afirmação de que opostos se atraem
Honestos não suportam desonestos
Quem ama a verdade não se dá com mentirosos.

Nas salas de aula

Doutrinação virou "espírito crítico"
A quem pensam que enganam
Espíritos de porcos!?

Engasgado

Meu olhar corta de viés essas medonhas doidices do mundo
Talvez assim, o torto ganhe feições de direito
E os absurdos do meu tempo passem-me sem engasgo pela goela.

Museu do Zóio

Foi num domingo de sor, no Museu do Zóio
Que marquei encontro com a mardita
Esperei um par de hora e ela nada
Queria só dois dedo de prosa com a bendita
Pra ver se já tinha passado a lavage cerebrar
Que fizeram com ela, a burguesa-comunista
E quando estava para ir embora
Ela me apareceu ainda mais esquisita
Tinha trocado a camisa do Tche
Por um camisolão amarelo de chita
O livro da Beauvoir pelos livros do Prabhupada
Tava com brinco, depilada... Tava quase bonita
E cantarolava não mais Lula-lá nem a Internacioná
Me deu um bolinho de arroz, sem sar, a encardida
E fez eu cantarolar o Hare, Hare... Krishna, Krishna...
Tomei um susto e olhando para minhas botinas
Coloquei a curpa nelas, que sempre me fizero andá
Com gente que por si só não gosta de pensá.

Segredos no ar

Tua voz chega-me e beija-me em ondas
Em arrepios do ouvido ao corpo todo
Sonoridades no ar a me contar segredos
Modulados em calmo mantra do gostar.

In memoriam

Enterremos nossos mortos
E os guardemos in memoriam
Em saudade e aperto no coração
Porque somos tudo o que foram
E inevitavelmente seremos o que são.

Da margarina

A vida não é uma propaganda de margarina, menina!

Defuntos vivos

Não me preocupam os mortos que dormem nos calmos cemitérios
Causam-me espanto e pena
Os vivos que se declaram mortos, finados defuntos em seus infernos.

O feitiço

Sempre gostei das bruxas
Só elas têm um feitiço
Chamado paixão brava, amor
Desses de virar a cabeça!

Corno realista

O capeta é o ser mais realista que existe, pois já nasceu com os chifres.

Dia de Finados

Ó finados em vida
Indiferentes que só têm olhos para o próprio umbigo
Eis, alegrai-vos, este é vosso grande dia!

Cotistas

Certo, meu amigo, sem esticar muito a prosa
É que cada um tem uma cota de oxigênio neste mundo
A tarefa é gastá-la bem, dando sentido ao ato de respirar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Da cor da framboesa

De bunda branca como a cal
Depois do gelo glacial em Inverno de água e escuros
A polaca curitibana lagarteia ao Sol abusado
Deitada no quintal com o maiô florido do Verão passado
Ela belisca uma porção de salame com gasosa Cini
E a sua brancura é agora a rubra cor da framboesa.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Adivinhação



De tudo, meu amigo, pouco se explica
Há coisas que carecem de adivinhação
A Alma, o Espírito, o Universo, a Vida
E as coisas que habitam o coração
O amor então! Meu amigo. Meu amigo!
Este não tem mesmo explicação
A gente sente e só isso já é muito bom!

Efêmera juventude

Encontrei-a só
Amargurada com a vida insossa
Alma perdida que não via mais poesia em seus dias
Morrera e teimosamente respirava
Dei-lhe a minha mão
Que nas suas mãos tentava segurá-la sobre o abismo
Buraco verrumado por anos de culto ao inútil
Pela busca da beleza onde não há beleza
No ódio pelas suas naturais rugas e decadência da pele
(Lamentava-se: "Ó juventude, efêmera, tão breve!")
E senti em suas mãos a frieza do zero absoluto
Própria dos defuntos
Estava morta, do viver perdera o costume
Nem mesmo o encanto da poesia
Tem o sopro quente para ressuscitar os mortos
Era ela um Lázaro que amava sua tumba.

Nhoque

Nhoque de batata na água quente
A farinha que nossas mãos coladas
Minha cabeça em teu colo
E a chuvinha fria lavando tristezas
Deste domingo que já se faz memória

"Cultura"

Desconfie daquele que fala na "cultura do ódio"
Certamente é um sujeito que não tem cultura
Porque não há cultura nele, só o ódio.

Não és Bolt

O circo olímpico já desceu pano
A vida segue e o tempo é tirano
Um ovo na marmita, arroz sem feijão
Não és Bolt, és operário, meu irmão!

Absurdos

De tanto viver entre absurdos
De tanto ver tanta loucura
É nossa sina ser o absurdo
Mordidos pela loucura também.

Tolo

Ah, o amor
Tolo sem sabê-lo
Mil vezes tolo sem tê-lo!

Auroras no bolso

Trago auroras guardadas no bolso
Para dá-las a quem tenho carinho
Ah, pode ficar, tenho tantas!
Elas em graça me são de graça
Sempre doiradas com poesia.

Sobras e caviar

Deprimente um homem virar o lixo para comer sobras.
Mais deprimente ainda é ver um homem se tornar um lixo para comer caviar.

Pançudo e rememlenta

Errar todo piá pançudo, ou guria remelenta, erra
Agora, desculpar-se ao se saber errado
Isso é coisa para homens e mulheres de verdade.

Vesga et míope

Se teu amor é vesgo
Não te preocupes
O meu é míope, meu bem!

A vida é luz

O Sol macio em teu rosto
Brilho que anuncia
O fim da fria estação
Apanhe uma margarida
Enfeita teus cabelos
A vida é luz, Maria!

O homem sem dentes

Vi um homem sem dentes
Cabelos brancos...
Tomou uma cachaça e rezou
Por todos os bêbados
Pelos amigos que
Iguais a ele desta vida desgostou.

Pés de bailarina

Ela me vinha com os pés cansados
Dançara, dançara, dançara tanto
Eu via aqueles pés em feridas (horror, horror!)
E os lavava com água quente
E ela, me contando da beleza do espetáculo...
...Enquanto eu desenrolava a gaze
Via que não havia dor, havia a mais pura alegria
No sangue escuro colorindo a sapatilha.

É Setembro, linda!

É Setembro, Linda
Faze como as flores do campo
Que se guardaram neste Inverno
E agora se mostram coloridas
Veste tua de alma de cores
Teu corpo com florido vestido
O mundo está por demais cinza
E teu perfume dá vida à vida
Dá-me vida, Querida.

Caixa de Pandora

Os sonhos a gente guarda no peito. Mas, cuidado com o que tu sonhas. Eles odeiam lugares fechados!

Os estúpidos

Os estúpidos só precisam de uma causa estúpida e de um líder mais estúpido do que eles para uni-los na estupidez. Por isso, este mundo, que se esqueceu da lógica sã, lhes oferece tantas causas, tantos líderes.

Lá vem verso

Não se iluda
Poeta calado
É poema represado!
Tenha certo
Que lá vem verso
Para queimar as gordas nádegas
De quem o cala!

Os maus odeiam

Os maus odeiam cães, gatos, até seus semelhantes
Os maus odeiam a música e a poesia, os crepúsculos, a vida
E outras coisas que dizem de amor e coisinhas doces e simples
Os maus odeiam
E tamanho ódio não cabe numa existência inteira
Os maus a si odeiam e isso faz parte de suas maldades.

Que vida

Que vida esta
Feita de sustos
Tão curta, tão bela!

Vai outono

Vai Outono, vai Setembro, vai dântico fado
Venha a Primavera pintada de tintas vivas
E suaviza essas paisagens tiranas
De desolação, tristeza e guerras
Venha, algo há de ser belo aos olhos do homem
Ainda há de nascer uma flor em seu peito de pedra.

Briga com os versos

Fiquei dois dias brigado com os versos
E, em motim, esses rebeldes tiram-me o sono
Não se querem presos em mim
Que algazarra, que tortura desses insurretos
Não mais resisto, ei-los, aqui os declaro libertos!

Na Régis

Todo dia na Régis Bittencourt
Todo dia uma reza
Para reforço na guarda dos anjos.

Carícias da luz

A luz do Sol te acaricia e acorda
Um dia, mais um dia, único dia
Sem outro igual: vive, este é o convite!

Dia de dúvidas

Gosto destes dias feitos de dúvidas
Há frio, há calor, Sol desconfiado... Chuvinhas... Chuvas
Inconstantes, imprevisíveis como a vida.

Teimosa

O canto do sabiá te saúda pela janela
Ipês doirados, violetas, primaveras...
Mas disso tudo, o importante
É que aquela florzinha, tão mirradinha
No duro asfalto, em teimosia vingou.

Sabiá surpreseiro

Senti e experimentei, nesta manhã
A alegria de Francisco, a fé de Francisco
Quando um pássaro, um miúdo pardal
Desceu sobre a minha mesa
E das minhas mãos, dividiu comigo o pão
Olhei para o alto, para o Sol, nosso irmão
E lhe agradeci, neste primeiro dia de Primavera
A sua luz, a esperança que me trouxe aquele pássaro
E a poesia singela de tão surpreseiro gesto.

Flor defunta

A flor do ipê cai, morre e, mesmo defunta
Ainda encontra beleza
Para enfeitar a rua e nossos olhos.

Segredo

O único segredo seguro do mundo é aquele que nem teus olhos sabem; se souberem, eles te traem!

A boa Mariquinha

A roliça Mariquinha, boa de carne, boa de curvas
Ganhava a vida torcendo pescoços
Era só chegar gente pra jantar no sítio
Que lá da cozinha vinha a ordem
"Pega uma galinha no galinheiro!"
Mariquinha era uma mestra em sua arte
E alguns minutos depois
Lá estava o pobre bicho de pescoço mole
Todo depenado a cumprir o destino
Ditado pelas macias mãos da boa moça.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Aos lacaios sabujos

Neste mundo, a única liberdade que existe é a de pensar
Perdê-la ou vendê-la é tornar-se escravo, serviçal capacho
Se teus pensamentos, atitudes e ou comportamentos
São guiados por líderes de seitas, gurus de consultório, políticos...
És escravo, não és livre, és um lacaio sabujo
Que se alimenta dos restos que caem da mesa dos que te usam.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Mercadores do nada

Eia, mercadores da comunicação perecível e sem sal!
Da futilidade necessária!
Da inutilidade necessária!!
Da verdade desnecessária!!!
E que te ensinam como preencher o vazio com vazios!!!!

Macaquice

Das velhas expressões esquecidas
Há a macaquice
Ato de imitar o ridículo e se fazer ridículo.

Vesgo e depenado

Quem tirou as penas das asas do teu anjo, anjo meu?
Quem fez do teu anjo cupido um vesguinho, anjo meu?

Tanto

Amo-te tanto e tanto te amo
Que sinto até ódio
Deste amor que sinto tanto.

A medida

Deus é a medida de todas as coisas
Deus é Amor
E o Amor é a nossa medida.

Cérebro gourmet servido para sujeitos de quatro patas

A lógica honesta por si só busca a verdade
Por isso sempre tem como princípio a verdade
Mas há lógicas que partem da mentira
A dos cães cínicos e a dos umbigos dos sofistas
Armadilhas para arrebanhar homens em seitas
Mas de todas as lógicas uma se faz a mais terrível
É a lógica dos parvos, simplória e estúpida
Que procura na loucura das multidões-manadas
Destes nossos medonhos e apressados dias
Construir verdades de hospício
Como provar que um cavalo é um pato
E que os espelhos dos homens são os jumentos
Assim, os patos grasnam em rotinas estúpidas
Pastam capim gourmet, vivem no curral dos shoppings
Relincham e dão coices no ar ao ouvirem sons sem sentidos
Seguem a moda e compram sempre quatro sapatos
Porque todo pato moderno pensa ter quatro patas
Depois, em comícios, urram como jegues frenéticos
Emburrecidos pelos líderes da lógica dos néscios
E exigem participar daquilo que não participarão
Dos insanos banquetes da inépcia e do mau gosto
Em que serão servidos seus gratinados cérebros.

Ballet

A dança é a poesia do corpo
É a alma em movimento.

Sono da eternidade

Viventes da preguiça que dormem até mais tarde
Acordem e vivam muito
Pois para dormir, teremos a eternidade!

O falar mudo dos corpos

Curitiba, Rua das Flores
Frio, estrela brilhante no Céu
Chope escuro nos copos
O falar mudo dos corpos
E a luz quente dos teus olhos.

A foto

Vi a foto, afinal sou um editor de jornais e livros
E a imagem abraçada ao texto é a minha realidade...
Vi a foto, era um menino com o seu uniforme escolar
Pobre de dar dó, na certa queria se encontrar na vida
Mas, antes de tudo, foi encontrado por uma bala perdida.

Quarta dimensão

Vivemos muito pouco tempo para ter o exato entendimento desta quarta dimensão chamada tempo. Por isso, comemoramos a sua passagem, com risos, bolos e velas. Na realidade, isso tudo é para esqueçamos dele, o carrasco tempo, esse sujeitinho que nos diz que não há outra solução a não ser a de procurar efêmeras felicidades enquanto ele passa. O tempo é a ilusão que nos oferece ilusões, mais nada. Precisaríamos viver séculos para entendê-lo um pouquinho mais, mas nem isso ele deixa.

Constatação

O mundo é cão, Sebastião
O mundo é cão, Sebastião...

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Ide

Ide
Amai
Afinal
Que há de melhor para se fazer nesta vida?

Mosaico

Num mundo de pedra
Num caminho de pedra
É natural ser pedra
Ter a alma de pedra
O meu duro destino
Foi pedra até ontem
Granito escuro. denso, pesado
Mas tive que quebrá-lo
Cansei de viver como pedra
E de seus pedaços mil
Fiz um mosaico
Com algo de amor
Com algo de bem-querer
Pedras disformes
Amores disformes
Saudades inexatas
No mosaico
Faço-me humano
Quebrado, fragmentado
Pedra
Sobre
Pedra
Sou eu
Apenas eu
Nu, como pedra, nu.

Sãos em mundo doente

Conclusão depois de mais um ataque terrorista
em França:
O mundo está cheio de malucos,
Os poetas são sãos,

A fera

Ancestral tendência contra as feras e a escuridão
Vivíamos e vivemos em bandos para não morrer
Hoje, a noite se faz iluminada, a floresta se faz cidade
E tememos o outro, a fera, que na escuridão se esconde
O outro, o outro do bando, o verdadeiro lobo do homem.

Sábado chorão

Eia, esses sábados tristes
Que amanhecem choro...
Deixem que chore o dia
Tenho o guarda-chuva
Hei de ser alegre!

Desafinidades

Ela conjugava os verbos juntar e ter
E eu conjugava os verbos amar e ser
É lógico que não deu certo
Não tínhamos afinidade gramatical!

Naquele beijo

Naquele beijo
Mostraste-me o desejo
De ser feliz
Escandalosamente feliz.

Na São Francisco

Não se faz poema no Batel
Futilidades não são temas de poemas
Poesia é na rua São Francisco
Onde a vida é de verdade.

Caminhos curvos

Estudar geometria nos ensina que não andamos sobre uma reta
Nosso caminho se faz sobre uma esfera, por longas curvas
E que, assim, o adiante se confunde com o retorno
A vida imita essa caminhada
Às vezes, muitas vezes, andar para frente é uma ilusão
Na realidade estamos com nossos passos voltados para trás
Outras vezes, muitas vezes
Almejamos algo no horizonte e o horizonte sempre se afasta
Somente o espírito tranquilo pode saber o que é falso, miragem
Mas, para alcançá-lo é preciso calibrar a alma
Ter em si a compreensão de que todos os caminhos levam ao fim
E no fim, o tudo que juntamos, na realidade, de nada nos vale
Depois da despedida, apenas a essência do que fomos
É o que realmente importa, é o que realmente se leva.

Gente ruim

A vida nos testa e coloca gente ruim em nossos dias
Só para que nós aprendamos os significados
De dó, pena e piedade.

Consortes

Nascemos
consortes
da morte.
Senhora má
que obedece
rigorosamente
os horários
e que vem
sem revelar
sua marca
nos calendários.

O pouco que tenho

O pouco que tenho está aqui comigo
No coração, um largo lugar para os que amo
Mãos dispostas para ajudar os bons amigos
Gestos escondidos para socorro aos desconhecidos
Nos olhos, embora distantes, esperanças vivas
E nos lábios, o riso e os versos libertos
Para aliviarem os que sofrem
Com a dura canga desse bruto tempo
Marcado pela ignorância, ingratidão e ódio.

Perdão desconfiado

Como perdoar a quem sempre mentiu?...
...Se ao perdoarmos desconfiando,
Nosso perdão será mentira também!

O tiro

O mundo tornou-se um lugar arriscoso
A rua é perigosa. O shopping é perigoso
De repente, o sujeito ouve um disparo
E um tiro muda destinos, estanca sonhos.
Eis o terror, não saber se tudo isso é hoje.

Duendes e diabos

Encontrei-a na madrugada
Tinha brincos de lua e estrelas
Sonhava em ir para a Islândia
Conversar com duendes
Convidei-a para ir à Tasmânia
Bater um papo com os diabos
...Vivemos assim o tempo da fantasia...
- Malditos diabos e duendes!
Que nos davam cada ideia!! -
Um dia ela partiu com seus brincos
Resolvera falar com os anjos
Que moravam, estranhamente
Sob sete palmos de terra..

O dialeto dos ventos

Para ser poeta, há de se aprender
O dialeto dos ventos semeadores
E dos ventos ser confidente, amigo
São eles que espalham depois do trovão
As violentas tempestades das palavras
São eles que esparramam em brisas
O alento para o alívio das humanas dores
São os ventos... Em ventanias, ou em sopros...
São os ventos... São os ventos... São os ventos...
Falai e escutai os ventos, poetas! Escutai!

A solidão das árvores

Tenho um amigo, vizinho, que está ficando louquinho
Ontem eu o vi todo esculhambado, falando sozinho
Ele tem uma filha de cama, entrevada, que nunca disse palavra
E que mexe somente os olhos. Adulta, dizem que é bela
Fez de tudo para ela viver, mas ela morre, queria ouvi-la
E dizer o quanto a amava. Mas, ficou danado antes
E comunica o seu amor, no jardim, à solidão das árvores.

Incendiário

Poetas nunca ganham medalhas por bom comportamento
Esperar isso de poeta, seria igual a pedir ao incendiário
Ajuda para apagar o fogo que ele mesmo botou no circo.

Todo mundo

"Todo mundo faz", assim o gado justifica-se no curral
Mas pergunto: quem é este todo mundo?
Por que ser todo mundo, seguir todo mundo,
Se a beleza neste mundo é ser o que se é?

Sem juízo

Pedir juízo a poeta
É o mesmo que pedir
Dinheiro a miserável.

Responsabilidades

Tu serás eternamente responsável pelas tuas escolhas
Inclusive pelas erradas; principalmente pelas erradas.

A cruz alheia

De vez em quando, a vida, com força de um centurião romano
Nos obriga a carregar a cruz dos outros por compaixão
Carregue, será sofrido, mas não espere gratidão por isso
Os egoístas acharão que toda ajuda é apenas sua obrigação.

Tu passavas

A Lua parou no céu
Tu passavas...

As estrelas se acenderam
Tu passavas...

Pecadora

Tomou formicida, raticida e nada funcionou
Tentou outra sorte, rasgou os pulsos
Pecadora, foi rejeitada até pela Morte
Porém, amparada pelo SUS e enfermeiras de boas almas
Internada, após a lavagem estomacal, a desgraçada passa bem.

Sortilégios de Agosto

Em Agosto, a deusa Fortuna acorda
A dizer-nos da Sorte, boa ou má, grande ou ruim
E a Roda da Fortuna roda, abaixo ou acima
Para todo mundo, para vós e para mim..

Poesia descalça

A Poesia caminha descalça
Pela minha casa
Espera fazendo caras e bocas
Pela boa vontade deste poeta
Às vezes, na noite, tristinha
Olha-me em desejo
Despe-se e se insinua
Com palavras nuas
E a boca me beija
E nossas mãos se entrelaçam
E nos lençóis das folhas brancas
Ela se solta e se entrega inteira
E depois, fingindo-se satisfeita
Dos meus lábios, dos meus rabiscos
Ela escuta a si mesma, e se lê
Já toda vestida com os vivos tecidos
Da manhã que se anuncia, viva.

Minha triste lira

A Poesia, essa dama egoísta
Teima cantar a bela Esperança
Ignorando a dor que me canta
E que na minha triste lira habita.

Do umbigo

Andar olhando para o próprio umbigo não é a melhor maneira de sentir e se relacionar com o mundo.

Malditos

Certos nomes malditos
Não cito, nem digo
Gente fingida, esqueço.

As pragas do Brasil

Rolar sobre a própria sujeira não é a melhor maneira de se limpar. Roubar, mentir e justificar-se dizendo que todos roubavam e mentiam também, não inocenta ninguém. Eis as duas pragas do Brasil, mentiroso e ladrão (além da saúva, é claro!).

A vida e o tempo

A vida é o tempo (ninguém que se diz vivo vive fora dele)
E quando ouço: "Faço tal coisa por passatempo"
Imagino alguém cortando as próprias veias e perdendo sangue
Mata-se assim o tempo, mata-se o tempo de viver, mata-se a si.

A tapas

"A vida é feita por etapas..."
Engano, leia-se
"A vida é feita a tapas".

A luz que luzia de ti

A luz que me desejaste
Logo que rompeu o dia
Iluminou os ipês roxos
Que me ofereceram tapetes
Para meus passos cansados
E que leveza senti
Ao flutuar pela rua
Com doce saudade de ti
E que consolo senti
Com aquela luz
A luz que luzia de ti.

Bruxedos de chamamoça

Estes versinhos adocicados, que já nascem perfumados
E passeiam pelas quermesses dos versos enamorados
São encantos de chamamoça, bruxedos de bem-quereres
Que buscam o teu coração, pois o meu já está enfeitiçado.

Tuas cinzas

Quando espalhei tuas cinzas ao mar
Deixei minhas lágrimas juntarem-se às águas
E a última, já sem forças, caiu-me nos lábios
Salgada e amarga, como toda saudade
Grande, imensa na imensidão dos oceanos.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Pela manhã


Faze do Sol que brilha por ti A razão dos teus dias E lembra-te que para muitos Ele não brilha mais.

FAces do Pí


O Pí é um sujeito de duas facetas Dois palitos gregos franzinos de chapeuzinho Mas que na equação se mostra gigante Nas reticências do três, quatorze e dezesseis...

reticências


As reticências, três pontos apenas E entre um e outros, os vazios Incertezas da alma e suas penas.

De ti beberei


Meu velho e roto livro Quantos anos ficaste me aguardando Amarelecido na prateleira? Por isso, hei de te dar O meu mais nobre dia A sexta-feira para ler~te Junto ao meu peito Em vez da esbórnia Da conversa fiada dos amigos E dos eflúvios do álcool inimigo Seguirei tuas gordas páginas Guardarei tua lógica aristotélica Numa dança esotérica Marcada no ponto da macumba Em que oferecerei a ti Meus olhos doentes Sei que de mim não guardas mágoas Ou baixo ressentimento No fundo, tu sabias Que num belo dia De tua sabedoria Eu iria me empanturrar e beber.

Segredo II


Todo dia morre algo dentro de nós O segredo para o bem viver É todo dia, por teima, renascer.

Cegos e flores


Cegos são aqueles, os quais ignoram Que as flores também nascem no deserto Em raridade nas suas cores e perfumes.

Linguagens


Se a escola ensinasse todas as linguagens Pois não só a boca, mas todo corpo fala Principalmente os olhos, a verdade da alma Quantos aborrecimentos evitaríamos Quão mais fácil seria este ato de viver.

Pascácios e bocós


Pascácios da ficção, bocós das futilidades Que a vós inventastes filmes ruins e danados E viveis neles, como atores canastrões Passai ao largo, faço culto à realidade De vossos roteiros chinfrins e infaustos Não presto para personagem não!

Tempo, amigo!


Quando jovens Temos o Tempo como o nosso melhor amigo Quando maduros Descobrimos como é falso este Tempo, amigo!

Sonho e estupidez


Há sonhos e sonhos e creia-me Mente quem diz que todos são possíveis Por isso, persistir neles, sem saber a hora de desistir Transforma o sonhador num estúpido E os mercadores da autoajuda em sujeitos ricos.

Homem livre


O homem livre pensa, O escravo obedece sem pensar. Abrir mão do livre pensamento É oferecer o dorso nu para o açoite Dos feitores da escravidão

O semeador


Pelo caminho semeio flores em terra árida e cheia de pedras Se pelo menos uma semente brotar, crescer e florescer Já terei algo de bom na paisagem para enfeitar teus olhos.

Esperança matinal


A madrugada me despede, O dia ainda nem nasceu E a Esperança matinal já ocupa Seu lugar na fila do hospital. Ela, atrás de mim, me consola: "Teu amado filho ficará bem, Pensa e ora por aqueles que nada têm Nem meu conforto, em grave hora".

Dor não se divide


Não me peças para dividir contigo A minha dor, esta dor é só minha. Pede-me a alegria que não tenho Que a emprestarei dos versos meus E a ti a darei para os teus dias.

És poeta!


Se tu já rimaste Amor com dor E não achaste rima bonita Para a saudade És poeta e não sabes!

Não é gente


A mentira mata lentamente A pessoa que sempre mente Um dia ela acorda e não mais se vê É coisa inventada, não é gente!

Bailado de luz


Escutava Tchaikovsky de minha janela Havia um Sol inesperado no meu céu Na manhã de branduras e espreguiçamentos E lembrei-me de ti, alegre nos meus olhos tristes Como a borboleta que me surgiu em encantamento Num bailado de luz e vida. Vida, muita vida...

Morre-se de tristeza


O amor nunca saiu de moda, Embora muitos digam que sim. Sim, morre-se de tristeza Quando se perde o amado, Incondicionalmente amado.

Na moda


Dizem que o vulgar é moda Pode ser que seja neste nosso triste tempo Mas, pense, a inteligência é perene E nunca saiu de moda. É moda sempre.

Beleza e arte


O que fica para uso e admiração das gerações É o belo, a beleza do espírito humano É a arte, expressão da eternidade de nossas almas A arte fora do espírito não é arte e não sobrevive.

Almas passeiam


Não, não é somente sonho, acredite O sono liberta nossas almas E elas vagam, creia, por imensidões Elas nos trazem impressões doutras dimensões As quais não podemos alcançar de olhos abertos Visitamos mundos outros, oníricos por certo Por isso, os de almas pesadas têm medo de dormir Frequentam mundos feios, pesadelos, infernos E lá encontram penadas almas como as deles E a essas dimensões negam por terror de si e medo Os de almas leves por mundos belos passeiam Acordam encantados, com a poesia divina Com a música indescritível que dos céus ouviu Cantadas por outras almas banhadas no mel.

A medíocre


Moça, do que adianta se sentir especial E viver com os medíocres? Quem convive com medíocres, medíocre é!!!

Alma calma


Ama a vida E terás A alma Calma.

Sem luz


É noite em Curitiba Chuva e trevas Enchentes como sempre.

Branca


Branca em brancos lençóis tu dormes Acordado, junto anil em branco papel E descrevo o vermelho de teus lábios.

Ballet para meus olhos

Cisne branco, cisne branco Por que danças contente Neste arruinado lago arranjado Sobre as tábuas do seco palco? Cisne branco, cisne branco Não viste o encarnado das cortinas Tingidas pelo meu sangue basto? Dança, não deixes que se fechem! Cisne branco, cisne branco Dança, é teu bailado que me faz vivo Mesmo se já não escuto a orquestra Cisne branco, cisne branco Se eu partir hoje, dança sempre, não pares Feliz me fizeste, felizes a outros faze!

quarta-feira, 29 de junho de 2016

O mundo sem arte

Tirai desta vida a Arte
E notai que só a pobreza do espírito resta.
Sem Arte, que mundo bruto
E sem cores nos envolveria,
Quão mais penoso seria o viver.

Em ti a vida

Em ti a vida
E isto basta
Avante. Só luta quem vive!

O amor em dúvida

Trair o amor que se tem, é colocar este amor em dúvida
Depois disso, ele nunca mais será inteiro
Será engano, será tirano, inverdade, cinzas de fogo passageiro...

Música nas palavras

Há uma música escondida nas palavras,
A qual chamamos Poesia,
Cheia de sonoridades e que nos coloca em sintonia
Com o sublime que vem do Espírito.
Arruinados são os dias dos condenados sem Poesia,
Que só conhecem a noite áspera e seus ruídos de medo
Pois, a si proíbem a macia melodia de cada amanhecer.

Na bagagem

Quando se viaja
A primeira coisa que colocamos na bagagem
É a saudade.

Não faça desfeita

Sou peão corre-mundo
Pois estar nele e não conhecê-lo
É desfeita das baitas!

O possível do impossível

Sabedoria é avançar nos anos
Sabendo que o choro é inútil
Pois se aprende a cortar caminhos
E a deixar de lado o que nos faz peso
Amando o possível do impossível
Enquanto se sorri para a morte
Nosso inexorável destino.

Os sinos

Os sinos dobram
Blém, blém, blém...
É por ti, meu bem
É por mim, meu bem
É por todos também!

Blém, blém

Os sinos dobram
Blém, blém, blém...
É por ti, meu bem
É por mim, meu bem
É por todos também!

Papo de anjo

Sim, oiço e falo com os anjos
E juro, não há doidice nisso.
Loucura, minha amiga,
É não ouvi-los!

Flores mortas

Tristes são as flores que morrem lentamente
Na geada, surradas pelo gelo do inverno
Mas para o jardineiro atencioso, as flores vivem
Pois ele sabe delas cuidar, em suas mãos
Há o calor do amor e elas vivem, sempre viverão!

Vampiro

Que inferno deve ser a tentativa de sono
Dos desonestos, dos ingratos
Daqueles que vivem do engano
E como vampiros, em seus caixões
Sonham com o sangue alheio.

Ouro e esperança

Nesta vida ouro não juntei
Carinho, pouco
Esperanças tantas, tantas!

A jude a sua sorte

Nunca levo a sério calendários
Agendas ou relógios
Instrumentos do depois
Feitos para se postergar
A viagem há tanto planejada
Férias... O carinho prometido...
Aquela declaração de amor
Sempre deixada para outro dia
Enfim, o bom que dá gosto à vida

Essa coisa são muito caras
Para deixarmos à Sorte
Esperando que o vento certo sopre

Meu tempo é o agora
O passado guarda seus mortos
E futuro à Fortuna pertence


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Verdades do urubu

A quem enganas?
Se gritas pela janela:
- Mais um dia de vida!
E o alegre urubu responde:
- Menos um! Menos um!
Por isso, vive em intensidade
Sem contar aquilo que irá,
Certamente, a todos faltar.

Poesia explicada

Hoje, na livraria, topei com o livro "Teoria da poesia concreta". Pobre poesia essa, que precisa de uma teoria para se explicar.

Pequenas e grandes mentiras

Pequenas mentiras
Envenenam o amor aos pouquinhos
Uma grande mentira
Mata-o imediatamente, em dose única.

Junho, mês quente

Ao contrário do que se prevê nos calendários
O mês de junho promete ser quente e bom
Porque nele temos fogueiras de São João
Dia de Santo Antônio, salvação das encruadas
E promessas de carícias, presentes da namorada.

A cola

Não há boa cola para porcelana ou vidro
Que lhes devolva a beleza depois de quebrados
Não há boa palavra de cura ou alívio
Para o coração ferido e falsamente cicatrizado.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Passos da bailarina


Teu rosto de porcelana
Branco, branco,
Em contínuo e belo susto.
Cabelos presos...
Andar de bailarina...
Andas pela casa
E eu nem te escuto.
Depois, em sussurros,
Falas baixinho
Do amor contido
Porém, jamais tido.
Escuto os sussurros
E imagino-te
Estancada num plié
Ou genuflexa
Em súplica de adeus
Mas, tu és teimosa
E em tendu
Alcança-me o peito
Em pêndulo
Como são
Os corações dos poetas.
Imediatamente
Afasta-me com um jeté
Rond de jambe en l'air
No rondó, rodopio
E volto a mim
És doutro mundo
E eu, desse mundo meu
Tão poesia
Teu rosto de porcelana
Branco, branco,
Em contínuo e belo susto.
Cabelos presos...
Andar de bailarina...
Andas pela casa
E eu nem te escuto.

O fogo de Lurdes


Lurdes, dei dois espirros E fiquei mui indisposto. Julguei ser gripe das bravas, Com quentura por todo corpo, Abracei-me a ti para esfriar E por pouco não peguei fogo!

Três lições para jovens jornalistas


1 - Duvide 2 - Duvide novamente 3 - Duvide sempre.

E se tudo não fosse verdade


E se tudo isso não fosse verdade E se vivêssemos numa dimensão simulada Manipulada de futuro distante Por homens-deuses-crianças entediados? Neste game dos infernos Seríamos os desgraçados títeres Num jogo horrendo, insano e débil Em que se ignoram as regras E quantos pontos nossas vidas valem.

O cemitério das artes


As artes não precisam de governos Nem submissão a ministério As artes precisam de artistas Artistas que não se vendem Diferentes daqueles que têm no mercado Das artes o cemitério.

O Sena e o Belém


O Sena transborda em Paris O Belém enche-se em Curitiba O Sena é vivo; o Belém é morto.

Bons-dias, Pedra


Se no caminho encontro uma pedra, digo: - Bons-dias, Pedra! E por outra vereda sigo. Meu medo é um dia ela me responder E na insuportável solidão das pedras, suplicar-me:: - Abraça-me, fica comigo!

Até onde atino


Certo, certo mesmo, amigo E digo até onde atino Com clareza e claridão É que deste mundo Ninguém sai vivo não Por isso, vamos trocar prosa Falar do conhecido Especular o coração Sobre essa coisa chamada amor Que é o único bem Que nos dá satisfação.

Sofro de poesia II


Sofro de poesia, cariño, Já te disse, sofro E estou cada vez pior Sonho em versos E, eles, perversos Rimam teu nome E me atazanam Até quando me escondo Em mim mesmo.

Gente que é gente

Tem gente que de tão gente Temos que agradecer a existência Erguer as mãos para o céu e gritar - Que bom ter te encontrado nesta vida!

O bom caminheiro

O bom caminheiro sabe
Que a jornada pode ser longa
E o que prestou ontem, talvez não preste mais
Assim, desfazer-se das tralhas sem serventia
Do pesado que prende a alma
É imperativo para o prosseguir
A gastar sapatos, a gastar paisagens.

Vidinha

Esta tua vidinha com tudo medido e no lugar
Com hora certa para comer e peidar
Fez fugir teu anjo-guardião, que passou por mim e gritou:
"Que tédio, esse cagão!"