quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Beijos da chuva

Anunciada pela sua tristeza
Espero a tempestade de Verão
Que virá nesta tarde
Em vento e desespero
Alentada aos poucos pelas lágrimas
De todas chuvas que pairam nas nuvens

O vento sopra e carrega
As folhas secas caídas
Na infinda rua
Na rua infinda, vida

O farfalhar do arrastar das folhas
Me dá nos nervos
Fra, fraaa, fr, frrr, fra..,

Seus soluços igualmente
Contidos, arrastados...

Aguardo a tempestade
E ela, criança, brinca
Com folhas caídas

Logo, o vento sopra
E uns pingos poucos
Molham-me o rosto
Num beijo de chegar

A tempestade é boa amante

No minuto seguinte
Ela me molha o corpo todo
Num beijo de ficar

Você fala, fala e fala

Trovões, raios, relâmpagos
Água desce, água escorre,
Enxurrada, vento, vendaval

Você chora
E eu calo, calo

A tempestade é boa amante
Sabe a hora de partir

Aos poucos, o silêncio
(Piano, pianíssimo)
silenciosamente se faz todo

O último pingo, miúdo,
Me cai sobre o nariz

E você toca-me a boca
Num beijo de ir

Mudo fico
Mudo suporto
Este mundo
Feito de tempestades
Passageiras
Que chegam
Amam
E partem
Arrastando folhas secas.

Um comentário:

Luciene de Morais disse...

O que faria-falaria-escolheria, se, menos impotente e não disposto a apenas suportar-mudo?