Vejo-te amarga, doce amiga,
Os anos te envenenaram.
Os féis do tempo tomaram-te.
Mas ainda guardas uma leve doçura
Na voz em que contas a tua história
(Soprano cantas, piano sussurras...).
Lembro-te na canção de roda,
De vestido rodado a girar,
A girar - a rodar ingênuos dias.
Era menino, tu eras menina
E o amargor passava distante,
Na carruagem da Bela Adormecida.
A maldade estava numa madrasta,
Num lobo que espreitava porquinhos,
Ou no escuro ventre da baleia de Jonas.
E a bondade? A bondade estava em todo lugar,
Nos anões a cantar, no pobre rouxinol chinês,
Na Terezinha de Jesus, eternamente a desabar.
Hoje sabemos que a vida não é um conto de fadas.
Nossas madrinhas tiraram longas férias em terra distante.
Sobraram-nos apenas esses pesadelos em azedume.
Esquece! Vamos brincar de roda, aqui, neste momento.
Giremos: solta tuas belas e bem guardadas tranças,
A inocência não comporta em si amarguras, criança!
Nenhum comentário:
Postar um comentário