domingo, 28 de março de 2010

A amargura da doce amiga

Vejo-te amarga, doce amiga,
Os anos te envenenaram.
Os féis do tempo tomaram-te.

Mas ainda guardas uma leve doçura
Na voz em que contas a tua história
(Soprano cantas, piano sussurras...).

Lembro-te na canção de roda,
De vestido rodado a girar,
A girar - a rodar ingênuos dias.

Era menino, tu eras menina
E o amargor passava distante,
Na carruagem da Bela Adormecida.

A maldade estava numa madrasta,
Num lobo que espreitava porquinhos,
Ou no escuro ventre da baleia de Jonas.

E a bondade? A bondade estava em todo lugar,
Nos anões a cantar, no pobre rouxinol chinês,
Na Terezinha de Jesus, eternamente a desabar.

Hoje sabemos que a vida não é um conto de fadas.
Nossas madrinhas tiraram longas férias em terra distante.
Sobraram-nos apenas esses pesadelos em azedume.

Esquece! Vamos brincar de roda, aqui, neste momento.
Giremos: solta tuas belas e bem guardadas tranças,
A inocência não comporta em si amarguras, criança!

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