Não apontes para mim!
Não sou adulador dos hipócritas.
Não me peças que a minha poesia
Sirva para reerguer as ruínas
Deste teu podre mundo!
Canto o canto do que se aniquila
E, desprezando todas as claves,
Gravo no pentagrama os agudos
Que compõem a sinfonia
Da universal desconstrução.
Nela estão os gritos
Dos que padecem,
Os graves urros
Dos desesperados
E os calmos e confusos murmúrios
Daqueles que, em vigília,
Oram por perdidas almas.
Não me condenes por ter nascido poeta
Num tempo em que os poetas são anacrônicos.
Por isso,
Não sigo os códices dos profetas
Que falam em nome de Deus.
Contento-me, apenas, em sentir Deus
Na aragem da manhã
E até mesmo na putrefação
Dos cadáveres desses dias defuntos.
Não me condenes por ter nascido poeta
E devoto da verdade, mesmo que nunca encontrada.
Por isso,
Não sigo os líderes da multidão,
Os enganadores e aproveitadores,
Contento-me, apenas, em seguir-me
Guiado por essa antiga e esquecida guia
Que é a liberdade de dizer não.
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