Na Semana Santa,
Em dia de procissão,
Pendurei-me numa árvore
E, pasmado, acompanhei,
Com os olhos arregalados,
Aquela gente que se arrastava
Curvada sobre os círios,
Pendida por tanto pecado.
Menino demônio,
Invejava as asas tortas
De querubins d'outros meninos,
Que seguiam como frades a procissão,
Ainda com os corações limpinhos
Sem a precisão da faxina do padre.
Inveja tola daqueles anjinhos
De asas feitas de brancas penas de ganso
- ou das galinhas mortas no domingo -
Amarradas com barbante,
Em armaduras de arame,
Pregadas em pobre e falso linho.
Foi quando passou o cantadador
Que em dor a procissão seguia.
Lembrei que ele me havia dito,
Em nossa operária feira,
Que poeta pode voar sempre,
A semana inteira, a vida toda,
Em dia bento, na noite do tempo,
Em dias de pagãs folias festeiras.
Poeta pode falar do Cristo morto,
Do Menino em Belém nascido
E em Nazaré criado e havido;
Chorar na Hora do Angelus, nas Ave-Marias,
Cantar a perene tristeza dos homens
E também as suas efêmeras alegrias.
Para isso seria o bastante
Montar nas asas da poesia
E seguir a procissão dos danados,
Dessa gente que quer a remissão
Dos seus seguidos terríveis pecados.
Perdão para essas pesadas cruzes
Arrastadas em molesta paixão
Pelo mesmo calcário da Via Crúcis
Que levou Jesus, o Cristo, a ser crucificado.
Cristo, o filho e cordeiro de Deus imolado,
Que por nós derramou o seu sangue inocente
Nas pedras do Calvário em que foi fincado.
(Escorreguei da árvore e tive uma queda suave como folha em tarde de outono.
Por certo que, desde aquele tempo, o verso já me amparava na leveza do vento).
Em dia de procissão,
Pendurei-me numa árvore
E, pasmado, acompanhei,
Com os olhos arregalados,
Aquela gente que se arrastava
Curvada sobre os círios,
Pendida por tanto pecado.
Menino demônio,
Invejava as asas tortas
De querubins d'outros meninos,
Que seguiam como frades a procissão,
Ainda com os corações limpinhos
Sem a precisão da faxina do padre.
Inveja tola daqueles anjinhos
De asas feitas de brancas penas de ganso
- ou das galinhas mortas no domingo -
Amarradas com barbante,
Em armaduras de arame,
Pregadas em pobre e falso linho.
Foi quando passou o cantadador
Que em dor a procissão seguia.
Lembrei que ele me havia dito,
Em nossa operária feira,
Que poeta pode voar sempre,
A semana inteira, a vida toda,
Em dia bento, na noite do tempo,
Em dias de pagãs folias festeiras.
Poeta pode falar do Cristo morto,
Do Menino em Belém nascido
E em Nazaré criado e havido;
Chorar na Hora do Angelus, nas Ave-Marias,
Cantar a perene tristeza dos homens
E também as suas efêmeras alegrias.
Para isso seria o bastante
Montar nas asas da poesia
E seguir a procissão dos danados,
Dessa gente que quer a remissão
Dos seus seguidos terríveis pecados.
Perdão para essas pesadas cruzes
Arrastadas em molesta paixão
Pelo mesmo calcário da Via Crúcis
Que levou Jesus, o Cristo, a ser crucificado.
Cristo, o filho e cordeiro de Deus imolado,
Que por nós derramou o seu sangue inocente
Nas pedras do Calvário em que foi fincado.
(Escorreguei da árvore e tive uma queda suave como folha em tarde de outono.
Por certo que, desde aquele tempo, o verso já me amparava na leveza do vento).
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