terça-feira, 12 de novembro de 2013

Água de poço


Aquele poço na estrada
Matou-me a sede que me matava
Era de boca estreita, acanhada
Profundo e escuro
Como olhar de uma morena
Faceira e interessada

Lembro-me que nele lancei a corda
E demorei para ouvir o baque do balde
Que me retornou pesado
Puxado pelas minhas mãos pequenas
Ali estava a água mais doce e fresca
Que já havia sentido na alma
Tinha cheiro e gosto de chuva e terra
Dessas coisas boas que são esquecimento
Antigas e embotadas lembranças apenas

Hoje, quando por ele passei
Vi que estava lacrado com pedras
Sua água tinha secado
Pena, pois ainda tenho sede
Uma sede que nunca se acaba
Que vem lá da infância
A procura do velho poço
Para matar a saudade
Que seca e mata minha alma.

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

Uma sede que nunca se acaba..
Luz
Ana