segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A arte de comunicar o nada

Nada me causa tanto
E tanto aborrecimento
Quanto as mensagens
Que nada dizem de nada.

Uma anúncio publicitário fajuto,
Uma poesia agressora da língua
E texto escrito no balcão do açougue
São simplesmente nojentos.

Ora, se nada há para ser dito,
Por que me fazem perder tempo
Com essas bobagens vazias
Destinadas à boca do lixo?

Veio-me às mãos agora
Um suspeito poema...
Suspeito como seu dono,
Que deveria ser preso.

Preso pela polícia, isolado
E guardado na solitária.
Acusação: assassinato
Da última flor do Lácio.

Ali, naquelas linhas,
Encontro o sujeito,
(Quando encontro o sujeito!)
Separado do verbo.

Ali, os verbos intransitivos
São bárbaros transitivos
E os oblíquos são tomados
Pelos pronomes retos.

O objeto direto, então,
Deus meu, também
Vem entre vírgulas,
Enquanto nus são os vocativos!

Será um novo Pessoa?
Um Saramago, talvez,
A inovar a velha língua?

Não, não, meus amigos,
É apenas unitriste ser,
Entediado com a vida,
Que, na falta do que fazer,
Elabora tristes rabiscos,
Garranchos de analfabeto,
A comunicar o que realmente
Tem na sua cabeça intestina:
O vácuo total e completo!

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