terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Do tempo (Negativa II)



Não. Não quero falar da eternidade
É preciso muito tempo para falar da eternidade
E o tempo me é caro.

Penso tantas coisas
E estas coisas, por certo,
Um dia pensaram-me.

Lá fora o instante, o momento,
Derrete-se nas escuras paredes
Dos prédios e escorre pelas ruas.

Lá fora é cinza,
Cá dentro sou cinza.

Sendo assim,
Meu peito se faz tábua estreita,
Tal e qual a do velho e bom Graciliano.

Por isso,
Escrevo barbaridades
E sonho tonalidades escuras.

Para manter esta tábua estreita,
Em que escrevo, já disse e fiz doidices.

Não quero discutir o eterno
E nem vou fazer o que devo fazer.
"Pela tábua estreita?", pergunta-me.
Sim, porque o tempo me é estreito.

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