Os Caprichos de Paganini
Correm pelas cordas
Do violino do homem tísico
O arco desce e sobre
No violino surrado
Um Ré dissonante
Ele pára, arruma a casaca
E começa do Capricho primeiro
O homem é um espectro
E um agudo infinito
Canta-lhe todas as dores
Donde vem este homem
Que mora num quarto de pensão?
Em tons graves
Agora o violino chora
O homem é apenas um braço
Um arco sobre si mesmo
Um capricho arcado
Sem destino
Sem endereço
Lá fora, a Lua não aparece
E o tísico, tosse, cospe
E repete o exercício
Eterno: Lá, Lá, Ré...
Os pensionistas estão irritados
Todos querem dormir
E o tísico continua
Mais um Capricho...
Duas da manhã
O tísico parou
A Lua apareceu
E uma tosse terrível
Toma a pensão
Tosse, tosse, tosse...
O dia é claro
O tísico silenciou de vez
Nada se expressa em som
Abro a janela
E o rabecão
Está encostado na porta
Sei o que aconteceu:
O tísico executou
Seu último Capricho
E eu, tísico d'alma,
Dormi e, desgraçadamente,
Sonhei todos os meus caprichos
Em soluços menores.
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