domingo, 7 de julho de 2013

À flor que nunca mais floresceu

Quando te vi cruzar o limiar doutro incerto mundo
Atravessar a fronteira do que vive e do que já morreu
Quis tirar meus olhos com as mãos ali mesmo
Pois nada me interessava no sozinho que me obrigavas

E quando na dura tábua da urna bateu a primeira pedra
Dos terrões dos coveiros desatentos e lerdos
Quis, por Deus quis, atirar-me sobre ti em desespero

Era final de tarde e sob uma árvore de solidão
Tu repousavas sob todas as minhas primaveras

Ali fiquei velho num instante, ancião que perdeu o rumo
A olhar aquela gente em tua despedida última
Condenado que estava a ser morto em vida
Amante da flor que nunca mais floresceu.

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

Nandé, tão triste que acabei chorando.
Muita Luz!