segunda-feira, 27 de junho de 2011

Não cantei Neruda



Pediu-me que declamasse Neruda,
Queria sonetos fortes,
Queria ouvir o amor...
Disse-lhe que não. Faltava-me inspiração.
E depois, não havia o mar
Para cadenciar os versos
A cada onda pontuados pelas vagas.
Não existiam também luzes de prata
E uma enorme cordilheira
Para as sinuosidades do cantado.
E depois, como cantar Neruda
Para quem não vivia o amor?
Para cantar Neruda, para falar do belo,
Exige-se de quem ouve
Muito mais do que ouvidos.
É necessário, em absoluto,
Um coração pronto,
Uma vontade, um desejo de querer o outro,
Mais, muito mais do que a si mesmo.
Enfim, havia ali uma incompatibilidade:
Ela queria ouvir Neruda
Como se ouve uma notícia no rádio
E eu queria sentir os versos de Neruda
Como se sente o coração disparado.

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

"Para cantar Neruda é nescessário um coração pronto"
Para uma poesia assim sobre Neruda tem que ter o coração pronto e disparado no peito. Lindo!
luz