terça-feira, 21 de junho de 2011

Quando ando distante


Não sei o que te faz tão feliz.
Dizes, em agrado, que é estar ao meu lado
E eu rio e duvido,
Porque nem sempre estou em mim.

Estou quase sempre nas minhas tristezas
E quando saio delas
Encontro-te em alegrias
No vestido novo,
No livro que estás lendo de Camus,
Nas histórias que me contas
Tentando contagiar-me a alma.

Não desejava, mas sou triste e distante,
E tu finges não saber disso,
Porque compreendes os distanciamentos dos poetas,
O outro mundo que a nós inventamos,
Tão diverso e contente, que a realidade
Torna-se insuportável.

Assim, tornei-me menos amargo
Nos meus votos de silêncio de horas e dias até,
Pois sei que tu estás comigo nestes dois mundos
E bebes do mesmo cálice
A carregar-me a cruz quando estou já cansado.

Amar talvez seja isso,
Saber a hora exata de invadir o mundo alheio,
Nos momentos de cansaço,
Nas horas da desilusão
E oferecer ao que se faz amado
A alegria que lhe falta,
Num abraço apertado,
Na mansidão do olhar apenas,
Sem palavras, sem perguntas...

Tu, em tua inexplicável devoção
A esta pessoa que envelheceu na infância,
Entendeste muito bem
Que ando pelos longes do meu pensamento
Mas é a ti que sempre retorno.

Um comentário:

Ana Coeli Ribeiro disse...

Que poema mais lindo! Sem palavras...
Luz
Ana