terça-feira, 7 de junho de 2011

Quente como chaleira no fogo


Sabes querida, queria aqui falar de amor,
Mas, creio não ser esta a forma adequada,
Afinal, quem ousaria hoje falar de amor
E em poesia, em versos adocicados?

Não, dizem os acadêmicos, isso acabou,
Os românticos falavam de amor no século 19,
Nós, no século 21, temos que falar sobre o nada,
A dura metafísica do nada que sobra no nada
Em que nos transformamos sem amor.

Como falar, escrever, sobre teus passos
Que sigo ao mesmo tempo que admiro tuas pernas
E empilhar
Palavras
Sem sentido
Ao gosto
Do crítico
Ou do acadêmico?

Como minha bela, dizer que tu és bela
E por isso, e só por isso,
Tu mereces um poema assim, na segunda pessoa,
Íntimo como um beijo no umbigo?

Como minha doce flor de laranjeira
Dizer que tu tens essa aparência,
Se a única laranja que os pasmados conhecem
É aquela comprada na feira?

Sim, meu amor e paixão,
Nego-me a fazer a poesia de shopping center,
Cheia de pingentes vazios,
Falsos brilhos e que por isso vai bem
Com essa gente que não ama
E se agrada com versos tolos.

Amor meu, eis o meu desabafo
Que faço aqui a ti encolhidinha nos meus braços
E quente como uma chaleira esquecida no fogo:
Amar a ti é mais importante do que seguir a moda!

3 comentários:

Ana Coeli Ribeiro disse...

"A dura metafísica do nada que sobra no nada"
Linda, tocante...Belo poeta romântico do século 21.
Luz
ana Coeli

Prof. José Fernando disse...

Obrigdo! No século 21, é bom poeta aquele que rima tatu com urubu e prova que ambos voam!

Virginia Finzetto disse...

"Nego-me a fazer a poesia de shopping center,
Cheia de pingentes vazios..."

Eu também! Abraços