terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Amor à romana

Mote:
Ela me chamou seu dono
E me disse coisas ternas
Com as palavras vulgares
Para me excitar.*

Glosa:
Tratei por finda a procura
De novo amor e afeição
Pra queimar meu coração.
Assim findava a loucura
Que o espírito apura
Ao tornar a alma tranquila
No fel em que se aniquila.
Senti isso ao cair da noite:
Em voz doce, doce açoite,
Ela me chamou seu dono.

E logo fugiu-me o sono
- Infeliz e tempestuoso,
Afastado dos bons gozos,
Os sagrados e profanos,
Dessa vida, louco sonho.
Ao ver-me entre suas pernas
E nas brasas sempiternas
De seu olhar incendiado,
Ela abraçou-me apertado
E me disse coisas ternas:

"Quem ama não se governa,
Porque a alma não é dela
É da outra alma feita nela!".
Estava pois, possuído
Por aquele amor bandido
Que roubara dos altares,
Pudica mulher e dama
A qual se excita na cama
Com as palavras vulgares.

Tonto pelos ares
E aromas do amor,
Fiz-me em torpor
Na guerra infinda,
Sem fim posto ainda.
Eu queria parar
E ela gritava...
E no cio xingava
Para me excitar!

*Et mihi blanditias dixit dominumque uoucauit
Et quae praetera publica uerba iuunant. (Ovído in Liber Tertius: VII).
(...Ela)... E me chamou seu dono e me disse coisas ternas com (as) palavras vulgares para me excitar.

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