Mote:
Quero ao descer as montanhas
À luz que o luar espalha
Ouvir no vale a viola
Soar na choça de palha. (Fagundes Varela).
Glosa:
Quase nada saberia
Dessas doidices modernas,
Ou dos céus, ditas eternas,
Das falsas sabedorias,
Se me faltassem os dias.
Falar assim não me acanha,
É no alto que se apanha
A friagem do vento.
Quero morno vento! Vento
Quero ao descer as montanhas!
Um dia veio aqui um moço
Querendo o sítio comprar,
Para um clube montar.
Então eu disse, Seo moço
Não vendo e faço gosto
Dessa casinha de palha
Que os meus filhos agasalha.
Como se faz pra vender
O sonho que há de ser
À luz que o luar espalha?
Disse ao moço da cidade
Com paciência e calma
Que na roça tenho a alma
E toda a felicidade
Em clarão e claridade;
Burro trato na espora
E mandei o moço embora.
Perdi o meu tempo, ara!
O tempo que tinha para
Ouvir no vale a viola!
A semente vai na cova,
Tem que morrer pra nascer.
Sonho bom para se ter
Nessa vida que nos sova
Sabe quem do sono acorda.
Corda afinada não falha,
Viola boa a vida talha.
Quero tocar a viola, ai
Para o canto que consola
Soar na choça de palha!
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