sábado, 22 de janeiro de 2011

Aos que chegam ao mundo de azul

Quando vieste ao mundo
Eu estava lá, no hospital.
Carregado pela enfermeira,
Carregado pela infeliz sorte,
Passaste por mim num pano
Com as pudicidades cobertas
A alertar-te que aqui
Os inocentes têm que se banhar
Nas água dos hipócritas.

Quando vieste ao mundo,
As árvores embaladas pelo vento
Simplesmente não se deram conta
Que tu estavas no mundo.
E todo o resto também foi a ti
De uma indiferença pungente.

Quando vieste ao mundo, chorei
Ao te ver de roupinha azul desbotada,
Já usada por outro infeliz como tu,
Era a mesma cor do uniforme
De trabalho de teu pai e avós.

Quando vieste ao mundo,
Ele, teu pai, não estava no hospital.
Não porque se fazia indiferente
Como o vento que soprava fraco,
Mas porque fazia hora extra
Para alimentar o novo operário
Que acabara de chegar alarmado,
Fadado e marcado como escravo,
De olhos para o mundo fechados,
Em choro, fome e espanto.

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