sábado, 15 de janeiro de 2011

Ocaso

Hás-de te acostumar, amigo,
Ao com que morre contigo,
Já que a juventude te escapa
Pelos vãos dos dedos
E leva com ela, agarradas,
As luzes do amanhecer.

Não és mais o que era,
Não és mais o senhor
Dos sonhos impossíveis,
Das bravatas de valentia,
Das damas de companhia...
És apenas o que se vai.

O Sol se põe para todos,
Para mim, está no ocaso,
Para ti, também é poente.
Resta-nos fitá-lo
Em sua desistência do dia
E verificarmos que sempre
Poderíamos ter feito mais,
Aproveitado melhor o seu calor
Que se traduzia em vida.

Fizemos pouco, é verdade,
Porque a juventude
Passa sem dela nos dar notícia.
A juventude vem e passa
Num adeus triste e indecente,
Como se portasse bilhete
Para um mundo inexistente.

É quando nos damos conta
Tardiamente, num susto grande,
De que não levamos em conta
O que conta os calendários,
Em essência e excelência,
A nossa natural decadência.

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