segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sossos ossos

Plantei várias árvores
E uma delas cresce
Perto da minha janela.
Meço-a quando posso:
Ela viceja
E me deixa
Alguns centímetros mais velho.
Sim, deixei de lado os minutos,
O meu tempo agora tem outra escala,
Com zero conhecido e final
Que não vai além do metro.
Creio que isso nos mostra
O nu científico compreensível.
Essa é a demonstração
De que obedecemos,
Fielmente, ao destino
Do grande escândalo
Molecular do ácido
Que nos determina vivos
E a tudo que imaginamos vivo.
Recebemos novas dimensões
Para depois nos evanescer
Num amontoado carbônico
Cadavérico.
Por fim, a árvore como caixa
E nós lá, dentro dela, sossos ossos,
Embrulhados para presente
Aos deuses que não se cansam
De ganhar mórbidas lembranças.

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