Quando eu era menino
Colocava meu chapéu de jornal
E logo me transformava em pirata
Corsário, capitão de navio
Ou general de Napoleão
Ou ainda o que me desse na telha.
Às vezes pegava uma tampa de panela
E um pedaço de uma boa madeira
Eram o meu escudo e dourada espada
Para assaltar o castelo
E roubar a mais formosa das princesas
Ela era mais bela que Dorotéia
Nem mesmo de La Mancha para tê-la aos pés...
E por minha sorte vivia nas redondezas
E tinha teu nome, teu rosto, teu coração
Verdade, o teu coração
Que ainda não era meu, mas seria
Tinha essa certeira convicção
Que nuca passou disso: convicção
Meu cavalo relinchava com voz de vassoura
Mas não temia batalha, nem rugir de canhão
Ah, quantas guerras eu vi
Quantas pelejas na calçada
Contra os outros meninos
Que ousaram olhar para ti
Hoje sou dos combates cansado
Vassoura uso para varrer chão
Jornal para ler, madeira para os móveis
E tampa de panela não sai do fogão.
A vida perdeu o encanto
Porque de tanto nesse mundo fazer guerra
Esqueci-me da infanta trancada em sua cela
Verdade, ficaste presa na minha infância
Com as tranças crescendo por sobre a janela
Ah, as lutas! E foram tantas que esqueci teu rosto
Teu nome e que era por ti que eu deveria ter lutado.
2 comentários:
Sua alma de menino continua bem viva em seu coração e mente, com chapeu de jornal e tudo. Não é?
Luz
Ana
Ainda fazem chapéu de jornal nas escolas? Por causa deles aprendi a ler jornais.
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