Tarde de sol que, de tão longe,
Aparece-me desbotada
Numa fotografia antiga e esmaecida:
Tinhas fita no cabelo
E um envergonhado vestido
Que, com a ajuda das meias,
Deixava-te de fora só os joelhos.
Era o tempo dos rubores no rosto,
De versinhos enamorados, sussurrados,
Ou apenas soprados ao pé do ouvido.
Havia também o circo na praça,
De tigres cansados e palhaços tristes.
Aquela tarde foi a mais bela tarde
Porque nela se guardou nossa pureza
Numa maçã do amor
Que dividíamos a nos lambuzar
Em impossível e impensado pecado!
E se o mundo fosse naquela tarde só amargor?
Certamente, a nossa inocente candura
O envolveria com o rubro mel da groselha.
A Terra seria uma maçã envolta por caramelo
E todos seriam felizes como são as crianças
Nas velhas fotografias de uma tarde esquecida.
3 comentários:
"Nas velhas fotografias de uma tarde esquecida" Versos lindos, delicados. É a própria terra em forma de maçã com caramelo..
Luz
Ana
Iria que dizer que o tigre era doente e desdentado. E realmente era, mas achei isso uma impiedade com a memória do animal!
Ah! Foi melhor amigo, é melhor não falar da crueldade dos homens com os animais, iria ficar muito triste.
Luz
Ana
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