sexta-feira, 1 de julho de 2011

Doce como groselha


Tarde de sol que, de tão longe,
Aparece-me desbotada
Numa fotografia antiga e esmaecida:

Tinhas fita no cabelo
E um envergonhado vestido
Que, com a ajuda das meias,
Deixava-te de fora só os joelhos.

Era o tempo dos rubores no rosto,
De versinhos enamorados, sussurrados,
Ou apenas soprados ao pé do ouvido.

Havia também o circo na praça,
De tigres cansados e palhaços tristes.

Aquela tarde foi a mais bela tarde
Porque nela se guardou nossa pureza
Numa maçã do amor
Que dividíamos a nos lambuzar
Em impossível e impensado pecado!

E se o mundo fosse naquela tarde só amargor?
Certamente, a nossa inocente candura
O envolveria com o rubro mel da groselha.
A Terra seria uma maçã envolta por caramelo
E todos seriam felizes como são as crianças
Nas velhas fotografias de uma tarde esquecida.


3 comentários:

Ana Coeli Ribeiro disse...

"Nas velhas fotografias de uma tarde esquecida" Versos lindos, delicados. É a própria terra em forma de maçã com caramelo..
Luz
Ana

Prof. José Fernando disse...

Iria que dizer que o tigre era doente e desdentado. E realmente era, mas achei isso uma impiedade com a memória do animal!

Ana Coeli Ribeiro disse...

Ah! Foi melhor amigo, é melhor não falar da crueldade dos homens com os animais, iria ficar muito triste.
Luz
Ana