Bem-amada,
O Sol desponta
E nos promete um dia feliz.
Bem-amada, vive este dia,
Banha-te de luz,
Amanhã o Sol pode não vir.
Dá-me tua luz nesta hora,
Porque noutras auroras
Meu peito pode anoitecer
E sentir saudades
Desta breve manhã de Sol
Que nasce em teus olhos.
Querida e Bem-amada,
Amemo-nos hoje
Na intensa e finita intensidade
Das horas boas que vamos juntar
E que miseráveis minutos já consomem,
Porque
Ser noite é o destino em tristeza da luz,
Anoitecer é a sina única e triste dos homens.
Copyright © 2005 by Fernando Nandé, poesia, literatura, Curitiba-PR Brazil.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Sopro solar
Coloca teus braços sobre meus ombros e vamos!
Vou te mostrar que a casa do poeta é o mundo inteiro
E que ela tem por teto, apenas,
O firmamento carregadinho de estrelas.
Sobre meus ombros...Vamos!
E bebe da luz do Sol,
Aos golinhos,
Porque a sede de poesia
É a verdadeira sede,
A da beleza que nunca se acaba.
Vou te mostrar... A tua mão dá-me...
Que é a poesia que nos torna gente
E que é por falta desta poesia
Que nossos corações tomaram as feições do Ártico.
Segure meus ombros curvados pelo peso da despoesia
Dessa gente que não é humana e nada sente...
Vamos!!
E te mostrarei o vale onde dormem as letras
Dos poemas que não foram domados.
Vale onde os poetas vagam
A amar os abismos
Por debaixo de cada coração empedrado.
Vou te mostrar... Que para se ter a poesia
Há de se amolecer, aos pouquinhos,
Com o sopro solar de nossas bocas,
O mar gelado dos corações dos homens.
Vou te mostrar que a casa do poeta é o mundo inteiro
E que ela tem por teto, apenas,
O firmamento carregadinho de estrelas.
Sobre meus ombros...Vamos!
E bebe da luz do Sol,
Aos golinhos,
Porque a sede de poesia
É a verdadeira sede,
A da beleza que nunca se acaba.
Vou te mostrar... A tua mão dá-me...
Que é a poesia que nos torna gente
E que é por falta desta poesia
Que nossos corações tomaram as feições do Ártico.
Segure meus ombros curvados pelo peso da despoesia
Dessa gente que não é humana e nada sente...
Vamos!!
E te mostrarei o vale onde dormem as letras
Dos poemas que não foram domados.
Vale onde os poetas vagam
A amar os abismos
Por debaixo de cada coração empedrado.
Vou te mostrar... Que para se ter a poesia
Há de se amolecer, aos pouquinhos,
Com o sopro solar de nossas bocas,
O mar gelado dos corações dos homens.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Beijo solar
Quando o Sol brilhar
Deixe-me adormecer
Num sono diurno
De sonhos iluminados
Deixe-me desfalecer
Abandonado no lago
Desta manhã azulada
E de espreguiçamentos
Quando o Sol queimar
Quero teu beijo
Tão terno e eternizado
Quanto o azul do amanhecer.
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Amor infinitesimal
Destripei e esquartejei
Um átomo de mim.
Tirei-lhe os prótons
Arranquei-lhe os elétrons.
Com os nêutrons fiz
Um colar de contas para
A mulher que me olhava da janela.
Para ela, e só para ela,
Que tinha os cabelos enfeitados
Com todas as cores
Da Rosa dos Ventos.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Flores solares
Setembro, 22...
Hoje o Sol deveria anunciar a Primavera,
A nona deste Século nado-morto,
Mas não há Sol e as flores banham-se numa chuva de tristeza imponderável.
Há uma frente fria congelando os jardins
E os poemas vegetam dentro de sementes que não brotaram.
Escuto o sussurrar do vento soprado do Norte...
Promete-me noutro dia, quem sabe na morte, a luz das primitivas eras.
O tempo, os elementos, a poesia
E tudo que nos enche a vida de vida
Felizmente desconhecem calendários
E se fazem, simplesmente se fazem,
desconsiderando relógios e as revoluções solares.
Hoje o Sol deveria anunciar a Primavera,
A nona deste Século nado-morto,
Mas não há Sol e as flores banham-se numa chuva de tristeza imponderável.
Há uma frente fria congelando os jardins
E os poemas vegetam dentro de sementes que não brotaram.
Escuto o sussurrar do vento soprado do Norte...
Promete-me noutro dia, quem sabe na morte, a luz das primitivas eras.
O tempo, os elementos, a poesia
E tudo que nos enche a vida de vida
Felizmente desconhecem calendários
E se fazem, simplesmente se fazem,
desconsiderando relógios e as revoluções solares.
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sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Etérea
De que matéria tu és,
De que tênue trama atômica
Surgiram teus olhos
Em súplicas de amor?
Quero agora saber do teu cheiro
Que tu abandonas
No circuito dos astros,
Nas revoluções dos planetas ao invés.
Por que deixas tuas mãos,
Enfeitadas com os anéis de Saturno,
Agarrarem o luar
E iluminar todos os sóis?
Que energia faz teu corpo tremer
Num beijo, num soluço até,
Neste prazer ínfimo e infinito
No qual te orbitei?
De que tênue trama atômica
Surgiram teus olhos
Em súplicas de amor?
Quero agora saber do teu cheiro
Que tu abandonas
No circuito dos astros,
Nas revoluções dos planetas ao invés.
Por que deixas tuas mãos,
Enfeitadas com os anéis de Saturno,
Agarrarem o luar
E iluminar todos os sóis?
Que energia faz teu corpo tremer
Num beijo, num soluço até,
Neste prazer ínfimo e infinito
No qual te orbitei?
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quarta-feira, 26 de agosto de 2009
Para a inveja dos anjos e demônios
Deus não quis que o homem voasse,
Por isso, criou os poetas, anjos e demônios,
Que são seres parecidos com os homens;
Nem no mais nem no menos,
Só nas asas não são iguais.
E nesta parecença apenas,
Para espanto dos bichos alados,
Num porém da vida,
Nesses poréns que a vida descuida,
Em noite de encantamentos, talvez,
Em noite de poesia cheia,
Os poetas, que por assim não saberiam voar,
Negam-se em humanidade e
Avoam, e avoam, e avoam...
Avoam para invejança doutras criaturas
Que tentam cantar a manhã
Numa mesma melodia que se arrepete em eternidades.
Não há poetas entre os anjos e demônios,
Por isso eles desconhecem os versos do dia que se faz.
O voo deles é apenas parte da melodia da coisa repetida.
Para desesperança dos tinhosos e imaculados
Que gostam da ordem e coisa não mexida,
O senhor criou o poeta,
Para voar, para escrever Sua poesia,
A mistura de tudo o que foi criado.
Lá do alto, completo,
O verso escapa da boca do poeta e diz
Do tempo que há de vir
Do tempo que perdeu a asa,
Do agora, deste poema sem hora.
Avoa poeta
E canta inteira a poesia de Deus.
Avoa poeta,
Sua vida é avoar
Para a invejança das criaturas
Cante o poema que se escondeu
Na mais alta nuvem
No céu, nas alturas
E que nem Arcanjos e anjos caídos
Podem alcançar.
Por isso, criou os poetas, anjos e demônios,
Que são seres parecidos com os homens;
Nem no mais nem no menos,
Só nas asas não são iguais.
E nesta parecença apenas,
Para espanto dos bichos alados,
Num porém da vida,
Nesses poréns que a vida descuida,
Em noite de encantamentos, talvez,
Em noite de poesia cheia,
Os poetas, que por assim não saberiam voar,
Negam-se em humanidade e
Avoam, e avoam, e avoam...
Avoam para invejança doutras criaturas
Que tentam cantar a manhã
Numa mesma melodia que se arrepete em eternidades.
Não há poetas entre os anjos e demônios,
Por isso eles desconhecem os versos do dia que se faz.
O voo deles é apenas parte da melodia da coisa repetida.
Para desesperança dos tinhosos e imaculados
Que gostam da ordem e coisa não mexida,
O senhor criou o poeta,
Para voar, para escrever Sua poesia,
A mistura de tudo o que foi criado.
Lá do alto, completo,
O verso escapa da boca do poeta e diz
Do tempo que há de vir
Do tempo que perdeu a asa,
Do agora, deste poema sem hora.
Avoa poeta
E canta inteira a poesia de Deus.
Avoa poeta,
Sua vida é avoar
Para a invejança das criaturas
Cante o poema que se escondeu
Na mais alta nuvem
No céu, nas alturas
E que nem Arcanjos e anjos caídos
Podem alcançar.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Negativa III
Não.
Não pode ser o vácuo
O lugar das inexistências
Pois tudo que existe
E que virá a existir
Precisa de espaço.
Não.
Os astros que enchem nosso céu de luz
Que nos fazem em poemas
Que nos velam o sono
Que nos têm em sonho
Não são vaga-lumes condenados à morte.
Não.
A vida não pode ser explicada apenas
Pelo início e pelo fim
Pois há o meio
E é no meio que se vive.
Não pode ser o vácuo
O lugar das inexistências
Pois tudo que existe
E que virá a existir
Precisa de espaço.
Não.
Os astros que enchem nosso céu de luz
Que nos fazem em poemas
Que nos velam o sono
Que nos têm em sonho
Não são vaga-lumes condenados à morte.
Não.
A vida não pode ser explicada apenas
Pelo início e pelo fim
Pois há o meio
E é no meio que se vive.
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Miudezas
Juntem esses poucos retalhos,
Juntem esses pequenos ciscos,
Juntem os pensamentos apequenados,
Juntem as migalhas da mesa,
Juntem o que nos sobra direito ou torto,
Juntem essas pequeninas coisas
Porque é de miudezas que se enche o mundo.
Juntem os últimos suspiros dos moribundos
Juntem tudo que vaga entre os vagabundos
Porque é a partir do miúdo que se explica o todo.
Juntem o ar da manhã com o vento noturno
Juntem os signos às luas de Saturno
Juntem o perdão à pena do condenado
Juntem o remédio aos irremediados
Porque é da miudagem que se tem o inteiro.
Juntem tudo que não presta
Juntem tudo que tem serventia
Juntem tudo e bem juntado
Porque é da miuçalha que o Universo se veste.
Juntem esses pequenos ciscos,
Juntem os pensamentos apequenados,
Juntem as migalhas da mesa,
Juntem o que nos sobra direito ou torto,
Juntem essas pequeninas coisas
Porque é de miudezas que se enche o mundo.
Juntem os últimos suspiros dos moribundos
Juntem tudo que vaga entre os vagabundos
Porque é a partir do miúdo que se explica o todo.
Juntem o ar da manhã com o vento noturno
Juntem os signos às luas de Saturno
Juntem o perdão à pena do condenado
Juntem o remédio aos irremediados
Porque é da miudagem que se tem o inteiro.
Juntem tudo que não presta
Juntem tudo que tem serventia
Juntem tudo e bem juntado
Porque é da miuçalha que o Universo se veste.
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Canora
Ouça,
A verde ave canora canta...
É um canto único, novo.
Em suave sonoridade
Canta
A velha esperança renascida na aurora.
Ouça,
Não há dor neste canto,
A esperança não comporta dores de outrora.
Ouça,
No último agudo
Há o riso de uma criança
Gerada na dor - esta velha senhora.
Ouça,
Ouça a esperança canora
Que nada espera
E se faz num canto único
A cantar o agora.
A verde ave canora canta...
É um canto único, novo.
Em suave sonoridade
Canta
A velha esperança renascida na aurora.
Ouça,
Não há dor neste canto,
A esperança não comporta dores de outrora.
Ouça,
No último agudo
Há o riso de uma criança
Gerada na dor - esta velha senhora.
Ouça,
Ouça a esperança canora
Que nada espera
E se faz num canto único
A cantar o agora.
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segunda-feira, 27 de julho de 2009
Lá fora
Minha doce Senhora,
O céu já é claro,
Vejo isto pela janela de seus olhos,
Lá fora o frio quer encontrar sua pele
Durma novamente
Vou-me
Vou-me
Lá fora, vejo pela janela,
A labuta quer tirar a minha pele.
O céu já é claro,
Vejo isto pela janela de seus olhos,
Lá fora o frio quer encontrar sua pele
Durma novamente
Vou-me
Vou-me
Lá fora, vejo pela janela,
A labuta quer tirar a minha pele.
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sexta-feira, 24 de julho de 2009
Ausente
Tinha o olhar de nadavê,
As feições do nadacrê,
E estava no mundo
Satisfeito como grama
Em dia de chuva.
Dava por si raramente
Quando na dor se sentia.
Percebia nestes momentos,
E somente neles,
Que tinha em si, nos ossos,
O ruminar do existir
E o tempo a roer tudo.
Mas logo esquecia o tudo e o tempo.
De resto, como vivia bem
Na ignorância total de si!
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segunda-feira, 20 de julho de 2009
O pavor de sempre
Cansam-me as tragédias do mundo,
Elas se repetem, tragicamente se repetem...
Meus amigos arregalam os olhos,
Comentam manchetes,
Fazem o sinal da cruz...
E na fila do banco, e no conforto da cama,
Na solidão sanitária,
Oram evocando terrível Deus.
Cansam-me meus amigos
Com as tragédias embutidas em suas rezas.
Ignoram eles, ou assim pensam ignorar,
Que ser homem entre os homens
É a única e verdadeira tragédia
De final por demais conhecido:
A estupidez se repete na morte
E, estupidamente, nos apavoramos sempre.
Elas se repetem, tragicamente se repetem...
Meus amigos arregalam os olhos,
Comentam manchetes,
Fazem o sinal da cruz...
E na fila do banco, e no conforto da cama,
Na solidão sanitária,
Oram evocando terrível Deus.
Cansam-me meus amigos
Com as tragédias embutidas em suas rezas.
Ignoram eles, ou assim pensam ignorar,
Que ser homem entre os homens
É a única e verdadeira tragédia
De final por demais conhecido:
A estupidez se repete na morte
E, estupidamente, nos apavoramos sempre.
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terça-feira, 7 de julho de 2009
A caminho de Cocanha
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!
Em Cocanha não há pecado
E se houver, um abade esfarrapado
Há de dispensar minha confissão.
Em verdade, em tal cidade
Não viver bem é aberração .
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!
Ah, Cocanha fica além de Pasárgada,
Dorme no colo do vento
E tem, em léguas bem medidas,
O tamanho do nosso pensamento!
Lá todos são soberanos,
Porque só há engano
Em apenas ser amigo do rei:
É preciso também ser rei no lugar do rei!
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!
Em Cocanha, o amor se tem aos metros
Cantado em versos e de graça dado.
Lá não há o certo e o errado,
O direito e o avesso,
O torto e o perfeito.
Lá cada um é de seu jeito.
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha hoje chegarei!
Lá meus amigos não negarão seus abraços,
As belas mulheres não medirão minha carteira.
E dividirei meu copo servido por Baco
Com o abade gordo, sorridente e bêbado,
Porque em Cocanha não há pecado
Para quem desejou na vida apenas ser e ter estado;
Em Cocanha sou rei no lugar do rei!
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha hoje chegarei!
Mas, a Cocanha chegarei!
Em Cocanha não há pecado
E se houver, um abade esfarrapado
Há de dispensar minha confissão.
Em verdade, em tal cidade
Não viver bem é aberração .
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!
Ah, Cocanha fica além de Pasárgada,
Dorme no colo do vento
E tem, em léguas bem medidas,
O tamanho do nosso pensamento!
Lá todos são soberanos,
Porque só há engano
Em apenas ser amigo do rei:
É preciso também ser rei no lugar do rei!
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha chegarei!
Em Cocanha, o amor se tem aos metros
Cantado em versos e de graça dado.
Lá não há o certo e o errado,
O direito e o avesso,
O torto e o perfeito.
Lá cada um é de seu jeito.
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha hoje chegarei!
Lá meus amigos não negarão seus abraços,
As belas mulheres não medirão minha carteira.
E dividirei meu copo servido por Baco
Com o abade gordo, sorridente e bêbado,
Porque em Cocanha não há pecado
Para quem desejou na vida apenas ser e ter estado;
Em Cocanha sou rei no lugar do rei!
Meus pés são cansados
Mas, a Cocanha hoje chegarei!
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sábado, 27 de junho de 2009
Toada corre-mundo
Corro mundo, corro dia,
Carrega-me o vento, ventania.
Meu caminho é a saudade
De teus beijos vida minha.
Sou caboclo corre-mundo,
Que tem nos olhos
O feitio das paisagens,
No peito, vida minha,
Carinhos não esquecidos,
Amor, calmaria e tempestade.
Corro mundo, corro dia,
Só não corro da saudade.
Carrega-me o vento, ventania.
Meu caminho é a saudade
De teus beijos vida minha.
Sou caboclo corre-mundo,
Que tem nos olhos
O feitio das paisagens,
No peito, vida minha,
Carinhos não esquecidos,
Amor, calmaria e tempestade.
Corro mundo, corro dia,
Só não corro da saudade.
terça-feira, 16 de junho de 2009
Quinta Avenida
Seres bovinos ruminam o ar da manhã.
Guiados por seus pés, deixam-se engolir por carcaças de lata.
Bovinamente vão fazer alguma coisa,
Ocupar o tolo tempo entre o nascer e o morrer.
Tolamente moverão mundos e fundos.
E no ruminar do ar da noite,
Depois destas tolicies todas,
Num fundo poço, hão de descobrir
Que de nada valeu tanto esforço
Porque o mundo, que de seu eixo não se moveu milímetro,
Bovinamente rumina o tempo do homem.
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sexta-feira, 29 de maio de 2009
Insulto
Fagundes Varela
Morreu no Século XIX
De insulto cerebral
(Está no seu atestado de óbito!)
Vou adiante
Em nosso Século
Século findo
Permeado de absurdos
Profundamente nauseantes
E bárbaros
Esta é a causa da morte
De todos os poetas! (29/10/97).
Morreu no Século XIX
De insulto cerebral
(Está no seu atestado de óbito!)
Vou adiante
Em nosso Século
Século findo
Permeado de absurdos
Profundamente nauseantes
E bárbaros
Esta é a causa da morte
De todos os poetas! (29/10/97).
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quarta-feira, 6 de maio de 2009
Celas abertas
A Ana Clara Garmendia
Arrependimento mata, Maninha
Se eu soubesse que seria tão duro assim
Tudo de errado teria feito
Teria Cativado a flor
Num jardim somente meu
Teria preso os pássaros
Armado arapuca
E guardado o canto deles
Numa concha pequenina
Abandonada no jardim
Teria roubado a flor do campo
E aprisionado sua beleza
De uma semana
Numa garrafa carmim
Arrependimento mata, Maninha
Se eu soubesse
Roubaria de você o perfume
E o guardaria todo num frasco
Antigo, translúcido, marfim
Arrependimento mata, maninha
Por respeitar o belo
Nada de belo guardei para mim
Estou morto, Maninha. (Verão de 1998).
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sexta-feira, 24 de abril de 2009
Noite
Na mais profunda das ausências
Sinto teu cheiro e teu calor
Enfim, teu corpo inteiro
Enrolado no meu
Como lençol
E teu peito serve-me
De magnífico travesseiro.
Sinto teu cheiro e teu calor
Enfim, teu corpo inteiro
Enrolado no meu
Como lençol
E teu peito serve-me
De magnífico travesseiro.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Fogueiras de antigo Inverno
Zunido de bala no escuro
Zumbido de abelha na bananeira
Estampido das cores do arco-íris
Assobio de cana chupada numa tarde de Inverno
Calafrio do medo de assombração
Frio medroso ao namorar Maria Imaculada da Conceição em arrepios
Debaixo do abacateiro plantado pelo pai da moça, "Seo Matassete"
Frio aquentado nas mornas fogueiras de São João que queimavam:
Estampidos de um coração moço, inocente e absurdamente tolo.
Zumbido de abelha na bananeira
Estampido das cores do arco-íris
Assobio de cana chupada numa tarde de Inverno
Calafrio do medo de assombração
Frio medroso ao namorar Maria Imaculada da Conceição em arrepios
Debaixo do abacateiro plantado pelo pai da moça, "Seo Matassete"
Frio aquentado nas mornas fogueiras de São João que queimavam:
Estampidos de um coração moço, inocente e absurdamente tolo.
terça-feira, 24 de março de 2009
Sem pecados
Maria Francisca
Tem no nome marcas da caridade.
E na Casa da Luz Negra
Maria Francisca
Troca, com orgulho,
A luxúria pela piedade.
E para os homens avaros
Dá, sem ira, gratuito amor.
Bela, Maria Francisca é invejada
Pelas gulosas e gordas companheiras de ofício.
Maria Francisca ri da vaidade alheia
E, em silêncio, depois de mais um ato de caridade,
Pede a Francisco e Maria
A paz de impudica santidade.
Tem no nome marcas da caridade.
E na Casa da Luz Negra
Maria Francisca
Troca, com orgulho,
A luxúria pela piedade.
E para os homens avaros
Dá, sem ira, gratuito amor.
Bela, Maria Francisca é invejada
Pelas gulosas e gordas companheiras de ofício.
Maria Francisca ri da vaidade alheia
E, em silêncio, depois de mais um ato de caridade,
Pede a Francisco e Maria
A paz de impudica santidade.
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quarta-feira, 18 de março de 2009
Devoto
Sou devoto das coisas simples.
Na complexidade própria,
Na complexidade do entardecer,
Fico simplesmente parado,
Observando, vendo... Escutando
As explicações dos matos e flores,
Que crescem sem fazer barulho,
Sem mostrar que crescem.
Escuto minhas explicações
Sobre as dúvidas que crescem:
Por que a chuva molha a terra,
Por que deste molhar leve,
Por que dos adeuses,
Por que dos encontros,
Por que do conhecer...?
E em resposta simples,
Sem fazer barulho,
Devotamente rezo.
Na complexidade própria,
Na complexidade do entardecer,
Fico simplesmente parado,
Observando, vendo... Escutando
As explicações dos matos e flores,
Que crescem sem fazer barulho,
Sem mostrar que crescem.
Escuto minhas explicações
Sobre as dúvidas que crescem:
Por que a chuva molha a terra,
Por que deste molhar leve,
Por que dos adeuses,
Por que dos encontros,
Por que do conhecer...?
E em resposta simples,
Sem fazer barulho,
Devotamente rezo.
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terça-feira, 10 de março de 2009
Eternidades
Senhora dos pensamentos meus,
É hora de recomeçar os versos,
Alisar esse tempo de bárbaros
E dele tirar a fina pele.
Sonho contigo, minha senhora,
Pois de ti emana toda poesia
Que se faz luz na noite dos homens.
Descobri a eternidade, minha senhora,
Queria confessar isso agora,
Ela mora nas entrelinhas dos versos
E, escondida, só se mostra aos poetas.
A poesia é eterna,
O poeta é eterno,
E tu, minha senhora,
És a substância
Dessas eternidades.
É hora de recomeçar os versos,
Alisar esse tempo de bárbaros
E dele tirar a fina pele.
Sonho contigo, minha senhora,
Pois de ti emana toda poesia
Que se faz luz na noite dos homens.
Descobri a eternidade, minha senhora,
Queria confessar isso agora,
Ela mora nas entrelinhas dos versos
E, escondida, só se mostra aos poetas.
A poesia é eterna,
O poeta é eterno,
E tu, minha senhora,
És a substância
Dessas eternidades.
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Felicidade
Sei que a felicidade é fugidia
E o tempo é a sua desgraça.
Não adianta trancá-la numa garrafa,
Como um gênio a nos dar fortuna,
Ela vem e simplesmente passa.
Resta-nos reconhecê-la,
Vivê-la em plenitude
E tê-la depois em recordação;
A lembrança do tempo bom
Faz belo o que foi ilusão.
E o tempo é a sua desgraça.
Não adianta trancá-la numa garrafa,
Como um gênio a nos dar fortuna,
Ela vem e simplesmente passa.
Resta-nos reconhecê-la,
Vivê-la em plenitude
E tê-la depois em recordação;
A lembrança do tempo bom
Faz belo o que foi ilusão.
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sexta-feira, 6 de março de 2009
Coração
Veio-me com o coração cansado.
No peito, um largo rasgo
Dizia-me de antigos sofrimentos.
Veio trazendo-me antigo amor
E o riso de antigas tristezas.
Veio-me acordar de letárgico sono
Imposto por mim mesmo.
Veio-me linda como em criança
Na doçura do primeiro beijo.
No peito, um largo rasgo
Dizia-me de antigos sofrimentos.
Veio trazendo-me antigo amor
E o riso de antigas tristezas.
Veio-me acordar de letárgico sono
Imposto por mim mesmo.
Veio-me linda como em criança
Na doçura do primeiro beijo.
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terça-feira, 3 de março de 2009
Crescente
A Lua quer crescer
E forma um “cê” enorme
Num céu inexplicável, escuro e limpo
A Lua é a alegoria da vida
Do crescente ao minguante, do "cê" ao "dê"
Sempre Lua
Sempre, sempre...
Venha ver a Lua
Venha ver a gente
Nossos braços
Formam “cês” e "dês" enormes
Que tocam ombros
"Cês e dês" de abraços
Que aninham amizades
Que guardam amores
"Cês e dês" complementares
Que, num minguante,
Estarão cruzados sobre nossos peitos
Definitivos
Em adeus e despedida.
E forma um “cê” enorme
Num céu inexplicável, escuro e limpo
A Lua é a alegoria da vida
Do crescente ao minguante, do "cê" ao "dê"
Sempre Lua
Sempre, sempre...
Venha ver a Lua
Venha ver a gente
Nossos braços
Formam “cês” e "dês" enormes
Que tocam ombros
"Cês e dês" de abraços
Que aninham amizades
Que guardam amores
"Cês e dês" complementares
Que, num minguante,
Estarão cruzados sobre nossos peitos
Definitivos
Em adeus e despedida.
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
É isso
Resta-nos, amiga,
Morrer para viver
Quiçá um sonho eterno.
Morrer para viver
Quiçá um sonho eterno.
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
A cor do abismo
Esperar-te...Esperar-te...
Quanto tempo inda posso
Mirar ao longe a esperar-te?
Lá, leve sombra passa
À sombra das disformidades,
Tão viva, tão presente...
Lá, teu rosto some
Tão vivo, tão presente:
Sei que tens ainda os cabelos da noite estrelada,
Ainda tens como prisioneiro o riso de minh’alma,
Ainda tens teu olhar distante pregado no que não foi,
Tão infinito que não mais o tens em alcance.
Ainda tens nos olhos todas as profundidades;
Neles, o negro é meu antigo abismo,
Vazio contínuo, queda sem fim...
Neles desde a infância caio; desabo sentindo no rosto o vento,
O leve vento soprado pela tua eterna e terrível ausência.
Desabo e nele caio
A esperar-te... A esperar-te...
Quanto tempo posso ainda?
Quanto tempo inda posso
Mirar ao longe a esperar-te?
Lá, leve sombra passa
À sombra das disformidades,
Tão viva, tão presente...
Lá, teu rosto some
Tão vivo, tão presente:
Sei que tens ainda os cabelos da noite estrelada,
Ainda tens como prisioneiro o riso de minh’alma,
Ainda tens teu olhar distante pregado no que não foi,
Tão infinito que não mais o tens em alcance.
Ainda tens nos olhos todas as profundidades;
Neles, o negro é meu antigo abismo,
Vazio contínuo, queda sem fim...
Neles desde a infância caio; desabo sentindo no rosto o vento,
O leve vento soprado pela tua eterna e terrível ausência.
Desabo e nele caio
A esperar-te... A esperar-te...
Quanto tempo posso ainda?
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Unidos do Vaticano
Há um boi nos ares
Da América do Sul
Há uma brasa, ilha,
No Planalto Central
E um rio que nos arrasta
Para as águas da Guanabara
Em todo janeiro
Que se faz em fevereiro
Nas carnes das mulatas nuas
Nos morros, vilas, favelas.
Viva, salve, Mangueira!
O burocrata não caiu no samba
Por falta de protocolo, terno e gravata
O turista argentino não foi para a avenida
Por pura incompatibilidade com os seus pés
Todos, a mulata, o burocrata
E o argentino sumiram na quarta-feira
Pois há um boi nos ares
Da América Latina
E uma brasa, ilha, no Planalto Central.
E viva o Vaticano, que decide todo ano
Quando será o nosso Carnaval!
Da América do Sul
Há uma brasa, ilha,
No Planalto Central
E um rio que nos arrasta
Para as águas da Guanabara
Em todo janeiro
Que se faz em fevereiro
Nas carnes das mulatas nuas
Nos morros, vilas, favelas.
Viva, salve, Mangueira!
O burocrata não caiu no samba
Por falta de protocolo, terno e gravata
O turista argentino não foi para a avenida
Por pura incompatibilidade com os seus pés
Todos, a mulata, o burocrata
E o argentino sumiram na quarta-feira
Pois há um boi nos ares
Da América Latina
E uma brasa, ilha, no Planalto Central.
E viva o Vaticano, que decide todo ano
Quando será o nosso Carnaval!
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Ford
Primeiro apito
Seis horas da manhã repetida
Chaminés nervosas
Tiram o azul do céu
Pois ele não se faz necessário
Segundo apito
Sete horas da manhã sem esperança
A avalanche azul-servil
Desaba sobre o portal fabril
Num automatismo maquinal
Apitos
As oito horas seguintes ainda sem esperança
Tantãs, baques surdos, cronômetros,
Parafusos, arruelas, porcas,
Chave inglesa, martelos, micrômetros
Apito
Seis da tarde, não esperança no inferno
Metade das duas sagradas diárias horas extras
Caldeiras, suores, vapores,
Músculo, porcas, engrenagens,
Apertos, força, controle, tempo
Apito
Sete horas da noite que promete ser igual a todas as noites
Fila, cartão-ponto, pernas
Portão, calçada, rua
Bar, cachaça, amigos, casa
Badalada
Dez da noite que parecia boa e igual a todas as noites
Filhos, choros, cachorro
Sogra, mulher, novela
Marmita pronta, uniforme limpo, sono
Primeiro apito
Seis horas da manhã repetida.
II
"Zé... Ó Zé!
A fábrica já pitou; Zé, alevanta, home!...
Zé... Ó Zé..."
"Que é, muié!?"
"A fabrica pita, é seis, alevanta."
"Humm..."
"Que vida home, todo dia a mesma coisa!"
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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Montagem
Quisera ter agora, neste momento
Minhas vacilantes mãos sobre as suas...
Repousar minha cabeça, meu pensamento
No seu colo, nas suas coxas nuas
Quisera. Quero tanto e tanto quero
Seu sorriso guardado num dos bolsos
Quisera tanto
Sua voz num eterno acalanto
Quisera e tanto
Quero. Quisera tanto
Juntar esses pedaços e tê-la,
Uma vez que seja, inteira.
Minhas vacilantes mãos sobre as suas...
Repousar minha cabeça, meu pensamento
No seu colo, nas suas coxas nuas
Quisera. Quero tanto e tanto quero
Seu sorriso guardado num dos bolsos
Quisera tanto
Sua voz num eterno acalanto
Quisera e tanto
Quero. Quisera tanto
Juntar esses pedaços e tê-la,
Uma vez que seja, inteira.
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quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
A poesia de Rosa
Dona Rosa chora saudade
Da filha que ganhou mundo
Está prenha? Não sabe
Está viva? Não sabe
O marido morreu de desgosto e cachaça
O mais velho está preso
Roubou, matou, fez o diabo
Dona Rosa chora,
Faz faxina em casa alheia
Limpa, lava, cozinha
Mas não consegue limpar a saudade
Rosa chora, não é mais dona
Não é mais nada
Além do choro que endurece
Rosa pensa em deixar o mundo
Mas quem há de limpar o mundo?
Rosa pensa sumir
Mas quem há de chorar sua saudade?
Rosa pensa em não pensar
Rosa pensa
Rosa pensa
E Rosa não sabe.
Rosa lava a roupa
Amanhã lavará outra vez
Rosa limpa a casa
Amanhã limpará outra vez
Rosa chora
Rosa chora
Amanhã, Rosa será outra vez
Pobre vida, pobre Rosa
Rosa só tem poesia no nome.
.
Da filha que ganhou mundo
Está prenha? Não sabe
Está viva? Não sabe
O marido morreu de desgosto e cachaça
O mais velho está preso
Roubou, matou, fez o diabo
Dona Rosa chora,
Faz faxina em casa alheia
Limpa, lava, cozinha
Mas não consegue limpar a saudade
Rosa chora, não é mais dona
Não é mais nada
Além do choro que endurece
Rosa pensa em deixar o mundo
Mas quem há de limpar o mundo?
Rosa pensa sumir
Mas quem há de chorar sua saudade?
Rosa pensa em não pensar
Rosa pensa
Rosa pensa
E Rosa não sabe.
Rosa lava a roupa
Amanhã lavará outra vez
Rosa limpa a casa
Amanhã limpará outra vez
Rosa chora
Rosa chora
Amanhã, Rosa será outra vez
Pobre vida, pobre Rosa
Rosa só tem poesia no nome.
.
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Aerojoanamoça
Joana, por onde andas
Com tua armadura
Feita de latas de sardinhas?
Joana, Joaninha, diz para quem te ama
Que fim deu aquela lança
Feita de vento e enfeitada de laços?
Joana, minha amada
Espero-te em França
Sentado na pista
Calada do aeroporto
Joana, Joaninha, faz frio
Aterra agora
Na careca do Charles de Gaulle
Não quero ouvir um não
Antes do próximo voo
Vamos dar um passeio
De pés descalços
Pelas brasas da fogueira
Da inquisição
De nossos corpos.
Com tua armadura
Feita de latas de sardinhas?
Joana, Joaninha, diz para quem te ama
Que fim deu aquela lança
Feita de vento e enfeitada de laços?
Joana, minha amada
Espero-te em França
Sentado na pista
Calada do aeroporto
Joana, Joaninha, faz frio
Aterra agora
Na careca do Charles de Gaulle
Não quero ouvir um não
Antes do próximo voo
Vamos dar um passeio
De pés descalços
Pelas brasas da fogueira
Da inquisição
De nossos corpos.
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Vontades das gentes
Tem verso metido que já nasce com vontades de ser música
Tem paixão mirradinha que já nasce com vontades de eternidades
Tem gente miudinha que já nasce com vontades de ser gente
Tem gente que nasce da arrogância e tem desvontades de beleza
Tem gente que de tão gente nasce para fazer versos pras gentes
E mostrar que estas desvontades são coisas de mentes indigentes.
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Ao amor ausente
Chamo-te (vazio)
- Ausência em dia que te desejo carinho -
Chamo-te pela casa
Espero que tu abandones demorado banho
Chamo-te à mesa
Sem me importar com teu lugar à cabeceira
Chamo-te por toda parte
Doidamente esperando impossível resposta
Chamo-te sob lençóis
Chamo-te sob minha pele
E, em resposta, somente o silêncio em carne viva.
- Ausência em dia que te desejo carinho -
Chamo-te pela casa
Espero que tu abandones demorado banho
Chamo-te à mesa
Sem me importar com teu lugar à cabeceira
Chamo-te por toda parte
Doidamente esperando impossível resposta
Chamo-te sob lençóis
Chamo-te sob minha pele
E, em resposta, somente o silêncio em carne viva.
Augusta no photoshop
Augusta Regina dos Reys terminou curso para modelo
Mas ela não quer passarela - trabalhar seria seu último apelo!
Augusta Regina dos Reys quer casar com um trouxa rico
Que lhe dê gordo cartão de crédito e outros paparicos.
Hoje tem festa no Golf Club, Augusta Regina dos Reys vai
Mas antes, em exame no espelho, confere o que com ela sai:
Está linda como fotografia de flor editada no Photoshop
Nariz empinado sinalizando stop
As mãos macias como as de ladrão de dinheiro público
Peitos siliconados na mentira de 300 centímetros cúbicos
Enfeitadíssima como penteadeira de puta
E burra como uma burra mesmo!
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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
Linguagem universal
De fio a pavio
Do you understand me?
Uma mordida na língua...
- Ai Carol, teu peito vai furar o lençol! -
Can you understand me?
Nas americanas o peito abunda!
E nada de nádegas!
"I don't know!"
Está certo, não insisto
Minha língua é um dialeto
A deslizar pela tua cintura
Mas, santíssima alvura...
Pensando bem, meu bem,
Como é esquisito
Só conversar pelos instintos!
Do you understand me?
Uma mordida na língua...
- Ai Carol, teu peito vai furar o lençol! -
Can you understand me?
Nas americanas o peito abunda!
E nada de nádegas!
"I don't know!"
Está certo, não insisto
Minha língua é um dialeto
A deslizar pela tua cintura
Mas, santíssima alvura...
Pensando bem, meu bem,
Como é esquisito
Só conversar pelos instintos!
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Cantoria das miudezas
Peço a Deus sabedoria
Co’a graça da Virgem Maria
Que os anjos me acompanhem
Nesta minha cantoria...
...Eia, eia, boi, boi, ei, eia...
Avoa tristeza afora
Da lida que se anuncia
E faz o coração caipora
Compassar co'as miudezas
Desta vidinha simplória
Enquanto arreio o cavalo
É favor me escutar
Isso a muita gente falo
A vida leva o vento
Só é preciso ventar
Passam os anos, voa tempo
No aperto da espora
Do sonho a galopar
A vida leva o vento
Só é preciso ventar
...Eia boi, ei, eia, boiada...
Caboclo se assossega
A morte vem de mão dada
Co’a a vida que nos leva
...Eia boi, ei, eia, boiada...
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Bucólica
Meu céu desenho a carvão
Dos traços escuros
Faço o dia
Projeto o Sol
Um rio que desce calmo
Ao lado de calma estrada...
Num canto qualquer
Deixo lugar para uma lagoa
Com patos nadando
- Há de se dar utilidade para as coisas –
Na estradinha, coloco um homem
Que há de caminhar triste
Pois está em desacordo com a paisagem
Ao longe, ao pé do morro,
Uma casinha tosca
Cercada de animais domésticos
Um cão preguiçoso,
Uma vaquinha,
Algumas galinhas...
Mais adiante
No campo
Coloco lá algumas árvores
E uma saudade distante
Que, de tão comprida,
Toma todo o horizonte.
Dos traços escuros
Faço o dia
Projeto o Sol
Um rio que desce calmo
Ao lado de calma estrada...
Num canto qualquer
Deixo lugar para uma lagoa
Com patos nadando
- Há de se dar utilidade para as coisas –
Na estradinha, coloco um homem
Que há de caminhar triste
Pois está em desacordo com a paisagem
Ao longe, ao pé do morro,
Uma casinha tosca
Cercada de animais domésticos
Um cão preguiçoso,
Uma vaquinha,
Algumas galinhas...
Mais adiante
No campo
Coloco lá algumas árvores
E uma saudade distante
Que, de tão comprida,
Toma todo o horizonte.
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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Caí
De súbito
Num susto de tropeço
Senti você
Em meu coração.
Num susto de tropeço
Senti você
Em meu coração.
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Morfismos
Da mais simples flor
Nasce o orvalho da manhã
O Sol cresce por trás do monte
Enquanto a noite finge dormir
A luz salta para os campos
Tudo renasce, vive. Alegria
A relva avança o milímetro
Verde mesclado à névoa pálida
Roedores fugitivos...
Serpentes, rastejantes feras,
Unicélulas, moneras
Rio desce
Morro abaixo
Vida acima
Flui em calmaria
Segue sempre
Sempre firme
Palmo a palmo
É o mesmo rio
Da mesma fonte
Vaza sereno... Vítreo
O tempo é estático
Mas, o rio se afasta
Gota, orvalho, gota
Turva-se, perde-se
Na curva, em caminho.
Nasce o orvalho da manhã
O Sol cresce por trás do monte
Enquanto a noite finge dormir
A luz salta para os campos
Tudo renasce, vive. Alegria
A relva avança o milímetro
Verde mesclado à névoa pálida
Roedores fugitivos...
Serpentes, rastejantes feras,
Unicélulas, moneras
Rio desce
Morro abaixo
Vida acima
Flui em calmaria
Segue sempre
Sempre firme
Palmo a palmo
É o mesmo rio
Da mesma fonte
Vaza sereno... Vítreo
O tempo é estático
Mas, o rio se afasta
Gota, orvalho, gota
Turva-se, perde-se
Na curva, em caminho.
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Mea culpa
É incrível saber como a vida, que nada nos dá
além da aproximação constante da morte,
nos torna culpados de tudo.
além da aproximação constante da morte,
nos torna culpados de tudo.
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Incréu II
No sétimo dia, não quis ascender aos céus,
Estava com preguiça e receava o tédio,
Desconfiava: logo ele?! Ele, um incréu,
Que para os pecados não achou remédio?!?
Estava com preguiça e receava o tédio,
Desconfiava: logo ele?! Ele, um incréu,
Que para os pecados não achou remédio?!?
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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Do tempo e lembranças
O tempo tem os pés voltados pra frente,
Só as lembranças os têm para trás.
Necessário é,
Não mantê-los amarrados no peito,
Sob pena de não se sair do lugar.
A amargura é uma lembrança
Que se amigou ao tempo presente.
Encardida, a amargura é a mancha do tempo.
Mesmo lavada com o sabão das lágrimas,
Fica lá, enfeiando o seu melhor vestido, seu paletó de festa.
A única coisa que podemos fazer
É escondê-la com um broche ou um lindo lenço
E assim teremos uma amargura enfeitada,
Como deve ser toda namorada que se quer desejada.
Só as lembranças os têm para trás.
Necessário é,
Não mantê-los amarrados no peito,
Sob pena de não se sair do lugar.
A amargura é uma lembrança
Que se amigou ao tempo presente.
Encardida, a amargura é a mancha do tempo.
Mesmo lavada com o sabão das lágrimas,
Fica lá, enfeiando o seu melhor vestido, seu paletó de festa.
A única coisa que podemos fazer
É escondê-la com um broche ou um lindo lenço
E assim teremos uma amargura enfeitada,
Como deve ser toda namorada que se quer desejada.
Coisas para fazer hoje
Balançar nos pêndulos de seus brincos
Guardá-la em mais um poema de amor
Dar-lhe uma flor, um bombom,
Vários beijos (atrás da orelhinha e se você deixar...)
Fazer tic-tac em seu coração
Deixar as babaquices das convenções de lado
Andar ao seu lado descalço em pleno centro da cidade
Dançar de rosto colado um bolero antigo
Jantar e bebericar um vinho com você e depois amá-la
Tanto quanto for possível
E, depois dormir bem juntinho
sonhando em como dedicar mais um tempinho
A você na minha agenda de todo dia.
Guardá-la em mais um poema de amor
Dar-lhe uma flor, um bombom,
Vários beijos (atrás da orelhinha e se você deixar...)
Fazer tic-tac em seu coração
Deixar as babaquices das convenções de lado
Andar ao seu lado descalço em pleno centro da cidade
Dançar de rosto colado um bolero antigo
Jantar e bebericar um vinho com você e depois amá-la
Tanto quanto for possível
E, depois dormir bem juntinho
sonhando em como dedicar mais um tempinho
A você na minha agenda de todo dia.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Vento no milharal
Tua voz é tão suave quanto o assoviar
De calmo vento sobre a palha do milharal,
É a calma que o meu peito vem logo acalmar,
Música terna, sopro leve, brisa terral.
Tua voz é meu preguiçoso acordar matinal,
Suavidade que dita novas formas de amar.
Amo esta voz que tem o som das ondas do mar,
Música terna, sopro leve, brisa terral.
Amo ver-te a cantar só, tímida e distraída,
Suave canto, acalanto do sono dos anjos,
Balanço que embala desejo de vida.
Por isso peço aos céus este último arranjo,
Que, ao morrer, eu tenha como despedida
Uma oração doce, na doce voz de meu anjo.
De calmo vento sobre a palha do milharal,
É a calma que o meu peito vem logo acalmar,
Música terna, sopro leve, brisa terral.
Tua voz é meu preguiçoso acordar matinal,
Suavidade que dita novas formas de amar.
Amo esta voz que tem o som das ondas do mar,
Música terna, sopro leve, brisa terral.
Amo ver-te a cantar só, tímida e distraída,
Suave canto, acalanto do sono dos anjos,
Balanço que embala desejo de vida.
Por isso peço aos céus este último arranjo,
Que, ao morrer, eu tenha como despedida
Uma oração doce, na doce voz de meu anjo.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
Surpresa samba
Gosto de surpresas
Mas, já não as espero,
Elas me estão presas
No que desejei e quero.
Já passei do tempo
Do bom susto com a vida.
Daquele bom tempo
De rasgar-me a carne
Sem temer a ferida.
Vi você no samba,
- Você era a surpresa -
Ao sambar, olhou-me
Em atrevimento,
Em vontade, sem pudor.
Porém, uma antiga tristeza
Dava tristeza a seu rosto
E seu sorriso inteiro
Era a teima em espantá-la.
O samba batia contente
Marcando o compasso
De nossas andanças
Por músicas esquecidas.
Vi as possibilidades...
Desenhei seu belo corpo
No ar com a minha língua
E imaginei... e imaginei...
Ah, samba surpresa!
Tive medo de estragá-la
E fazê-la triste
Depois de nua e amada.
Quero você assim apenas,
Para não lhe perder,
Surpresa e encanto.
Assim somente,
Inesperadamente na língua.
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domingo, 11 de janeiro de 2009
Sopros das paisagens
Apareceste num repente,
Vento suave de luz e cor,
Vida duma vida ausente,
Sopro de alegria sobre a dor.
Vieste sem dizer um nada.
- O amor tem outras linguagens,
Pelos sopros das paisagens
Fala na brisa assanhada.
Vieste num doce repente,
A mostrar-te só e tristinha,
Com minh'alma entre os dentes
Juntaste tuas mãos as minhas
E fizeste-me pisar contente
O caminho que caminhas.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Bolero para noite de Lua
Ontem olhava as estrelas,
Sonhava de olhos abertos,
Busquei no luar coisas belas
E vi no céu meu deserto.
Trago na vida esta dor,
Sou só arrependimento,
Não se deve cativar a flor
Para dá-la ao sofrimento.
Sou só arrependimento,
Não se deve cativar a flor
Para dá-la ao sofrimento.
Lembro do primeiro beijo,
Do coração disparado,
Da eternidade guardada
Naquele único momento.
Do coração disparado,
Da eternidade guardada
Naquele único momento.
A Lua brilhava intensa,
Intensa a vida ficava
E o mundo todo girando
Naquela rua tão pequena.
Intensa a vida ficava
E o mundo todo girando
Naquela rua tão pequena.
Quis dizer alguma coisa,
Cantar o mais lindo verso,
Verso enamorado e de amor,
Mas o verso era seu beijo.
Cantar o mais lindo verso,
Verso enamorado e de amor,
Mas o verso era seu beijo.
Ah, é bom lembrar seu rosto,
Eternizado sob o luar,
Única imagem bela
Que vale a pena guardar.
Trago na vida esta dor,
Sou só arrependimento,
Não se deve cativar a flor
Para dá-la ao sofrimento.
Eternizado sob o luar,
Única imagem bela
Que vale a pena guardar.
Trago na vida esta dor,
Sou só arrependimento,
Não se deve cativar a flor
Para dá-la ao sofrimento.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Beijos da chuva
Anunciada pela sua tristeza
Espero a tempestade de Verão
Que virá nesta tarde
Em vento e desespero
Alentada aos poucos pelas lágrimas
De todas chuvas que pairam nas nuvens
O vento sopra e carrega
As folhas secas caídas
Na infinda rua
Na rua infinda, vida
O farfalhar do arrastar das folhas
Me dá nos nervos
Fra, fraaa, fr, frrr, fra..,
Seus soluços igualmente
Contidos, arrastados...
Aguardo a tempestade
E ela, criança, brinca
Com folhas caídas
Logo, o vento sopra
E uns pingos poucos
Molham-me o rosto
Num beijo de chegar
A tempestade é boa amante
No minuto seguinte
Ela me molha o corpo todo
Num beijo de ficar
Você fala, fala e fala
Trovões, raios, relâmpagos
Água desce, água escorre,
Enxurrada, vento, vendaval
Você chora
E eu calo, calo
A tempestade é boa amante
Sabe a hora de partir
Aos poucos, o silêncio
(Piano, pianíssimo)
silenciosamente se faz todo
O último pingo, miúdo,
Me cai sobre o nariz
E você toca-me a boca
Num beijo de ir
Mudo fico
Mudo suporto
Este mundo
Feito de tempestades
Passageiras
Que chegam
Amam
E partem
Arrastando folhas secas.
Espero a tempestade de Verão
Que virá nesta tarde
Em vento e desespero
Alentada aos poucos pelas lágrimas
De todas chuvas que pairam nas nuvens
O vento sopra e carrega
As folhas secas caídas
Na infinda rua
Na rua infinda, vida
O farfalhar do arrastar das folhas
Me dá nos nervos
Fra, fraaa, fr, frrr, fra..,
Seus soluços igualmente
Contidos, arrastados...
Aguardo a tempestade
E ela, criança, brinca
Com folhas caídas
Logo, o vento sopra
E uns pingos poucos
Molham-me o rosto
Num beijo de chegar
A tempestade é boa amante
No minuto seguinte
Ela me molha o corpo todo
Num beijo de ficar
Você fala, fala e fala
Trovões, raios, relâmpagos
Água desce, água escorre,
Enxurrada, vento, vendaval
Você chora
E eu calo, calo
A tempestade é boa amante
Sabe a hora de partir
Aos poucos, o silêncio
(Piano, pianíssimo)
silenciosamente se faz todo
O último pingo, miúdo,
Me cai sobre o nariz
E você toca-me a boca
Num beijo de ir
Mudo fico
Mudo suporto
Este mundo
Feito de tempestades
Passageiras
Que chegam
Amam
E partem
Arrastando folhas secas.
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Sutiã & calcinha
Você se veste
Procura a calcinha
Fica brava
E acha o sutiã
Céu claro lá fora
Procuro seu nome
Na memória falha
Fico bravo
E acho outro nome
Que em meu travesseiro
Escondido guardo
Estou cansado
Durmo, acordo, durmo
Você sai, nada diz
E a porta fica entreaberta
Cubro o rosto
E deixo meu vagabundo coração
Exposto e sem chaves.
Procura a calcinha
Fica brava
E acha o sutiã
Céu claro lá fora
Procuro seu nome
Na memória falha
Fico bravo
E acho outro nome
Que em meu travesseiro
Escondido guardo
Estou cansado
Durmo, acordo, durmo
Você sai, nada diz
E a porta fica entreaberta
Cubro o rosto
E deixo meu vagabundo coração
Exposto e sem chaves.
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Sutiã e calcinha
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Reporquices
Ao jornalista Valdeci Lizarte
Um crime,
Redação,
Polícia,
Escrivão,
Assassinato.
Fotos, furo,
Um sanduíche de presunto,
Um escândalo, cadáver,
Declaração do meliante,
Instituto Médico Legal.
Relatos, atos, pratos.
Uma feijoada,
Um roubo,
O acusado...
E a certeza que somos
Arautos da porquice humana.
- Por favor, me passe a pimenta e a mostarda...
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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Teus filhos
Vejo de novo as crianças trucidadas,
Mortas no solo sagrado palestino
À sombra da igreja, templo e sinagogas.
São cenas de terror ou apenas cenas
Para lembrarmos de tua ira e grandeza,
Ou para mostrarem nossa crueldade
Tão grande quanto de ordinário assassino?
São cruéis teus caminhos e mistérios,
Que toda fé não resiste e sucumbe
No sangue desses inocentes meninos.
Vamos à guerra em teu nome, bom Deus!
No matar - tolice! - não somos covardes!!
No matar somos, em verdade, teus filhos!!!
I
Terra de homens e santos,
Sagrada, purificada,
Santificada por teus mártires,
Levanta teu véu para chorar,
Sagrada, purificada,
Santificada por teus mártires,
Levanta teu véu para chorar,
Levanta teus olhos e vê:
De tuas fontes brota o sangue
Do terror, da dor e morte.
Não escondas mais teus crimes!
De tuas fontes brota o sangue
Do terror, da dor e morte.
Não escondas mais teus crimes!
Todos já sabem da infâmia
Ocultada pelos teus muros,
Outrora sólidos, firmes
E hoje finas cascas de vidro.
Ocultada pelos teus muros,
Outrora sólidos, firmes
E hoje finas cascas de vidro.
II
Ó Israel! Ó vil lugar
Da discórdia e do pecado;
Em nome do que é sagrado,
Hipócritas, despi-vos do véu!
Da discórdia e do pecado;
Em nome do que é sagrado,
Hipócritas, despi-vos do véu!
Mostrai que vosso Deus é a paz,
Mostrai que vosso Deus é a vida
Tão sagrada quanto a terra
Que vossos imundos pés pisam.
Mostrai que vosso Deus é a vida
Tão sagrada quanto a terra
Que vossos imundos pés pisam.
Soem as trombetas agora,
Mostrem a carnificina
E que os céus nunca perdoem
Estas torpes iniquidades.
E que os infernos recebam
Os animais que usurpam
O Santificado Nome
Para matar a inocência.
Os animais que usurpam
O Santificado Nome
Para matar a inocência.
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sábado, 3 de janeiro de 2009
Cantiga para o anão de jardim
Como dormir nesta noite de fadas?
Um duende ronca sob minha cama
E uma voz da floresta ao lado me chama
Para ouvir as histórias que guarda
Calço meus sapatos, arrombo portas
E num escuro caminho me lanço...
Lá longe, o anão brinca no balanço
E canta uma cantiga esquecida e morta
Sua voz tem o timbre d'um gramofone,
Que acorda a Lua e ilumina esta noite insone.
O estranho homem conta-me um segredo:
"Feliz é aquele que sonha sem medo,
Com ouvidos para cantigas de ninar,
Este é puro. Este homem sabe amar."
Um duende ronca sob minha cama
E uma voz da floresta ao lado me chama
Para ouvir as histórias que guarda
Calço meus sapatos, arrombo portas
E num escuro caminho me lanço...
Lá longe, o anão brinca no balanço
E canta uma cantiga esquecida e morta
Sua voz tem o timbre d'um gramofone,
Que acorda a Lua e ilumina esta noite insone.
O estranho homem conta-me um segredo:
"Feliz é aquele que sonha sem medo,
Com ouvidos para cantigas de ninar,
Este é puro. Este homem sabe amar."
O verde de teus olhos
O verde fluorescente
De teus olhos invadiu-me;
Na minha noite: sublime,
Fina luz, completamente.
Fogo quente, incandescente,
Que minh’alma toma e alcança
Do frio da desesperança.
Dá-me deste verde manso
A doce luz do descanso
O verde infindo, esperança.
Dá-me do que queima, a energia,
Quero renascer novamente,
Sair desta triste letargia
Co’a luz verde incandescente
De teu manso amor somente.
De teus olhos invadiu-me;
Na minha noite: sublime,
Fina luz, completamente.
Fogo quente, incandescente,
Que minh’alma toma e alcança
Do frio da desesperança.
Dá-me deste verde manso
A doce luz do descanso
O verde infindo, esperança.
Dá-me do que queima, a energia,
Quero renascer novamente,
Sair desta triste letargia
Co’a luz verde incandescente
De teu manso amor somente.
Pedra imaginária
Voir le reflet de l'âme dans la vague
Vagarás por certo nesses incertos dias
Vá por aí, por lá, além mar, meu coração
Variante de minha alma tão estanque
Que fizeste tu ao levar contigo minh'alma
Arrastada pelas tuas mãos nas ruas de Paris?
Que fazes tu com meu espírito por entre teus dedos?
Indefinido, finado em vida - sina minha -
Aguardo tua volta sentado sobre pedra imaginária
Volta e meia estendo o braço e aceno
Para qualquer navio que na neblina passa
Vi teu rosto ontem num quadro de Lautrec
Indefinido, sina minha, nesses olhos fracos
Teu cabelo curto e em movimento
A dançar o último baião do velho Gonzaga
Minhas mãos soltaram-se das tuas
Tu deste um giro sobre o próprio corpo
Desaparecendo nua numa noite de frio
Vagarás, por certo, nesses incertos dias
Vá por aí, por lá, além mar, meu coração
Variante de minha alma tão estanque
Tão distante quanto meu olhar sem ação.
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Agulhas para coser anjos
Vejo o postal
Que você me enviou
As coníferas da
América do Norte
Dizem-me de um estranho mundo
Em que as montanhas
Alcançam os céus
E, pontiagudas, furam
As bundinhas dos anjos
Sim, estas terras foram feitas
Para povos celestes
E para os pobres diabos
Como eu
Que preferem expiar
Seus pecados
Abaixo do Equador
Sobram apenas
O puro medo de voar
Em corpo,
Alma
E pensamentos.
Que você me enviou
As coníferas da
América do Norte
Dizem-me de um estranho mundo
Em que as montanhas
Alcançam os céus
E, pontiagudas, furam
As bundinhas dos anjos
Sim, estas terras foram feitas
Para povos celestes
E para os pobres diabos
Como eu
Que preferem expiar
Seus pecados
Abaixo do Equador
Sobram apenas
O puro medo de voar
Em corpo,
Alma
E pensamentos.
Sina nordestina
A meu pai Heleno, nordestino e
pioneiro das terras norte-paranaenses
Sou um cabra nordestino,Vim para o Paraná,
Encontrei aqui trabalho
Para o mato derrubar.
Ganhei tanto dinheiro
Que eu nem podia contar.
Passou tanto Janeiro
E eu querendo voltar.
Esqueci mariazinha
Que estava namorando,
Esqueci da rocinha
E do gado minguando.
Ah, meu Deus, triste sina
Do caboclo nordestino
Que deixa sua terra
Pensando voltar pro ano.
Hoje já estou bem velho
Mas, posso me alembrar
Do pedido do meu velho
Para um dia eu voltar.
Pra poder fazer uma prece
Junto ao cruzeiro da estrada,
Pois o infeliz não esquece
De sua primeira morada.
Quero lá deixar minha alma,
Aboiar os bois que não aboei.
Talvez no céu e com calma,
Abraçar a mãe que abandonei.
Ah, meu Deus, triste sina
Do caboclo nordestino
Que deixa sua terra
Pensando voltar pro ano.
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Alhures gravitas
O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si
Encontrei-te ontem,
Numa volta dessas
Alhures do imaginar,
Mais madura,
Numa noite de frio
E bebida quente
O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si mesmo
Meu coração rodopiou
Em torno de ti
Gravitei no giro de teus olhos
O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si
De encompridar os adeuses
De dar gravidade
Aos nossos pensamentos
Louco mundo este que gira
E a tudo mistura
Num tempo que não sabemos
E logo, mãos espalmadas
"Até um dia"
Noutra volta, quem sabe?
De dar voltas sobre si
Encontrei-te ontem,
Numa volta dessas
Alhures do imaginar,
Mais madura,
Numa noite de frio
E bebida quente
O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si mesmo
Meu coração rodopiou
Em torno de ti
Gravitei no giro de teus olhos
O mundo tem desses costumes
De dar voltas sobre si
De encompridar os adeuses
De dar gravidade
Aos nossos pensamentos
Louco mundo este que gira
E a tudo mistura
Num tempo que não sabemos
E logo, mãos espalmadas
"Até um dia"
Noutra volta, quem sabe?
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Forró do burrão
Pisa, pisa, pisa, pisa...
Meu coração pode pisar,
Pisa só pra me judiar.
Pisa, malvada, só pisa...
Meu coração pode pisar...
Mulher já fiz que não posso
Pra você ficar comigo.
Você diz que sou só amigo,
Assim eu vou ter um troço.
Eu comprei água de cheiro,
Vendi o burro, comprei carro,
Sou honesto, tenho trabalho,
E de você nenhum beijo.
Mas, vou lhe dar um agrado,
Talvez o último agora,
Não me faça acreditar, ora,
Que eu vendi o burro errado!
Pisa, pisa, pisa, pisa...
Meu coração pode pisar,
Pisa só pra me judiar.
Pisa, danada, só pisa...
Meu coração pode pisar...
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Ilha solteira
As tuas bermudas
Guardam o triângulo
Que consome
Todo meu juízo.
Guardam o triângulo
Que consome
Todo meu juízo.
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